segunda-feira, 29 de outubro de 2007

....e não há nada de novo sob o sol



Meu tempo é de silêncio.
Tanto, que recorro aos Eclesiastes, porque meu tempo é de calar.


"TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz".

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A vida que imita a arte



Fui ver tropa de elite. Isso mesmo. Fui ver.

Resisti a todo e qualquer piratex porque não abro mão do cheiro da sala escura, do ritual de olhar o horário no jornal, entrar na fila, escolher um bom lugar pra sentar.
Esperei e lá vou eu neste feriadão assistir ao filme.
É obra de arte. Obra de arte da vida real, crua, nua, sangrando, até.
De um lado, a capacidade de uma equipe em contar esta história nada poética, transformando tudo em relato artístico.
Do outro, minha alma humanista levava uns sopapos. Durante a sessão, umas cinco vezes quase me levantei e saí. Mas pensava que deveria assistir até o fim. E contrariava meu desejo.
O resultado foi que ao final, já exausta, quando as luzes acenderam, eu era um molambo. Pernas dormentes não queriam sair da cadeira. Minhas lágrimas gritavam.
Com muito custo, saí do cinema.
E vamos pra cerveja. Me senti um E.T.
Somente eu tinha visto o filme como obra de arte. As outras pessoas tinahm visto no cinema, talvez, o jornal nacional.
Tentei ainda argumentar, espernear, explicar. Qual nada.
Então, reduzi minha mofada e antiquada sensibilidade ao meu peito, espremida.
Hoje, quando abro os jornais, a manchete é chocante:
Agente penitenciário se mata depois de assistir ao filme tropa de elite.
Ele efetuou os disparos ali mesmo, dentro da sala, enquanto subiam os créditos.
Subitamente, libertei a minha sensibilidade humanista que estava presa no peito. Que tipo de sentimento aquela película despertou no homem já desesperado?
Nunca vamos saber. Talvez nem devamos saber.
Pois é, meus caros. A vida imita a arte.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A última vida


Cheiravam a jasmim as rosas mesquita.Ela passava a mão sobre sua pétalas amarelas, pequeninas, sem temer os espinhos. Um olhar mais atento e todo o ambiente cheirava a jasmim. Um perfume persistente. Distante, começava a sentir a chuva chegando. Um tropel firme e seguro, compasso bem marcado chegando pelos telhados vizinhos.
Antes fossem a salvação.
E o jasmim agora compactua com o agreste da terra batida molhada. A água sobre sua cabeça martela a mesma cantiga.
Entorpecida, já no limite da razão, despenca no chão. As longas tábuas do assoalho dançam sinuosas.
Sonha novamente seus sonhos de menina, fitas no cabelo. Relembra os planos ainda muito jovem. Nenhuma conexão com a vida.
Nenhuma ponte, nenhuma palavra em comum.
Vive-se mais no último instante. Vive-se, pelo menos. É a última chance.
Sono, muito sono. Certamente são os últimos momentos.
Olhar fixo nas telhas de argila. O teto vai subindo. Sumindo.
E o cheiro do jasmim resiste. Domina as frágeis roseiras.
Faz seu corpo descansar pela última vez.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Sabedoria



Instante é o intervalo entre o sinal abrir e o carro que está atrás buzinar. Millor Fernandes dizia mais ou menos isso. E os instantes estão cada vez mais intensos.

Tolerância, paciência, temperança.... são qualidades em extinção.
Chama o Millor!!!!!!!


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ninho


A gente saiu pra comprar um carro e acabou comprando um apartamento. Naqueles tempos, velhos tempos, nossa coragem era muito, muito maior do que a consciência de que deveríamos poupar, juntar, planejar.... compramos e pronto. Compramos e ponto.
As prestações mensais eram nada mais nada menos do que nosso salário junto!
E a nossa inocência foi tratando da vida. Nossos anjos da guarda devem ter trabalhado muito pra garantir que a gente realmente conseguisse honrar os compromissos.
O primeiro rebento já estava lá. Boquinha aberta, feito passarinho, esperando alimento.
Logo, veio o segundo pro ninho. E a família, naquele segundo andar, ia vivendo.
Portas arrancadas viraram estantes,
Cabos de vassouras, guarda-roupas.
Criatividade, criatividade.
Muito espaço pras crianças aprenderem a andar. Poucos móveis.
E os anjos da guarda, coitados, sem férias.
Era quadro vendido na véspera da intercalada, convite pra trabalho no mês das chaves....
FELICIDADE.
Hoje ele deixou de ser nosso.
Mudamos pra outro ninho, com nossos filhotes já batendo asas muito fortes.
Durante todo o dia, nenhum tipo de melancolia me veio à mente.
Mas agora, perdoem-me.
Senti falta do momento de improviso da minha vida.
Tínhamos um fusquinha verde-água. Saímos pra trocar o bichinho e acabamos comprando um ninho...

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...