Fui ver tropa de elite. Isso mesmo. Fui ver.
Resisti a todo e qualquer piratex porque não abro mão do cheiro da sala escura, do ritual de olhar o horário no jornal, entrar na fila, escolher um bom lugar pra sentar.
Esperei e lá vou eu neste feriadão assistir ao filme.
É obra de arte. Obra de arte da vida real, crua, nua, sangrando, até.
De um lado, a capacidade de uma equipe em contar esta história nada poética, transformando tudo em relato artístico.
Do outro, minha alma humanista levava uns sopapos. Durante a sessão, umas cinco vezes quase me levantei e saí. Mas pensava que deveria assistir até o fim. E contrariava meu desejo.
O resultado foi que ao final, já exausta, quando as luzes acenderam, eu era um molambo. Pernas dormentes não queriam sair da cadeira. Minhas lágrimas gritavam.
Com muito custo, saí do cinema.
E vamos pra cerveja. Me senti um E.T.
Somente eu tinha visto o filme como obra de arte. As outras pessoas tinahm visto no cinema, talvez, o jornal nacional.
Tentei ainda argumentar, espernear, explicar. Qual nada.
Então, reduzi minha mofada e antiquada sensibilidade ao meu peito, espremida.
Hoje, quando abro os jornais, a manchete é chocante:
Agente penitenciário se mata depois de assistir ao filme tropa de elite.
Ele efetuou os disparos ali mesmo, dentro da sala, enquanto subiam os créditos.
Subitamente, libertei a minha sensibilidade humanista que estava presa no peito. Que tipo de sentimento aquela película despertou no homem já desesperado?
Nunca vamos saber. Talvez nem devamos saber.
Pois é, meus caros. A vida imita a arte.