terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um futuro inviável

Minha solidão é imensa.
O céu em prantos faz coro com meu coração.
E neste instante, penso na solidão do meu amigo eliminado.
Como será que se sente um homem em frente ao seu algoz?
No momento derradeiro, cano de ferro apontado pro peito,
Pólvora prestes a explodir.

- É VOCÊ QUEM EU QUERO, RAPAZ! (eis as últimas palavras que ele ouviu).

Uma solidão completa, impotência.
Um silêncio sepulcral, talvez.
Ou, quem sabe, passe rapidamente em sua mente o filme da vida:
Sonhos realizados, frustrações, futuro inviável.
Já faz alguns dias que ele se foi. Manoel Mattos foi assassinado.
Eu ainda não acredito no que dizem todos os jornais. Talvez ele saia de um esconderijo a qualquer momento.
Esta dor, que bate a minha porta e que em vão expurgo. Talvez seja a dor da lucidez. Não há mais fantasia. É tudo verdade. A voz que escuto longe, a imagem deste homem me aparece quando fecho os olhos. São artifícios.
E então, minha solidão em algum momento talvez se irmane com a solidão dele, prestes a ter seu coração dilacerado por um tiro. Um coração de homem.
Minha solidão de ser tão humana, demasiadamente humana.
Minha solidão de ser tão pouco humana.
Minha solidão por não ter feito nada.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

invenção



Inventei um sonho de granito e concreto.
Era um sonho verde, com flores no jardim.
Tinha um cachorro no quintal e meu filho brincando de cavalinho na mangueira carregada.
Inventei um sonho, confesso.
Com passarinhos cantando e um ventinho frio quando a noite caía.
Era um sonho azul, com amigos na varanda.
Tinha ainda música aos domingos.
Inventei e quase acreditei.
E nele havia redes entre as pilastras do alpendre.
Não inventei, contudo, o trator com grandes garras.
Não inventei, juro.
Gritei pro meu menino descer rápido da árvore.
Catei as mangas que pude.
Colhi algumas flores pra levar comigo.
Era ainda tardinha.
Acordei.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Viva Cecília Meireles!

Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.

Não escrevi esta frase. Nem invejo Cecília Meireles por tê-la concebido.
Ao contrário: alegro-me em saber que ela existiu e traduziu tantas sensações complexas com palavras simples.

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...