Era domingo e eu acordei cedinho, ainda na insistência da barra da noite. Engraçado que dava a sensação de que alguém tinha docemente me chamado, despertado de um sono profundo e que, depois daquele meu despertar, seria impossível voltar a dormir. Então, decidi ir ver a casa. Sempre faço isso, desde sempre. Gosto de olhar para a casa vazia, muda, inerte. Consigo enxergar nela seus habitantes pelas pistas que eles vão depositando nos cantos, nos encostos dos sofás, pela chinela esquecida embaixo da mesa, pelos copos displicentes nas estantes.
Nem precisei acender as luzes porque o sol já se impunha sobre a noite. E então, percebi que eles não estavam ali. Na verdade, eu já sabia, mas a força do hábito me traiu. Abri a primeira porta e vi uma calça jeans espalhada na cama. Uma perna do avesso, a outra quase tocando no chão. Ri sozinha. Se ele estivesse ali, eu reclamaria. Mas, como eu não estava representando nenhum papel, peguei a calça e coloquei a mão em uma das pernas para tirar do avesso. Era um gesto mecânico, de quem lava roupa, passa roupa, estende roupa e dobra roupa. E neste gesto estavam guardados todos os significados. Pela primeira vez percebi que somente colocar a mão não seria o bastante pra alcançar a barra da calça. Meu deus! Como meu menino cresceu! Com mais custo consegui, enfim.
Melhor não mexer nas gavetas. Ele está um rapaz.
Na porta ao lado, também fechada, fica o jeito do mais novo. Tudo arrumado à primeira vista, salvo se você se atreve a abrir a porta do guarda-roupa. Ele saiu, foi passar o fim de semana fora e deixou tudo “organizado”.
Nem me atrevi. Dobrei somente uns papéis.
Nada de sono. O sol já estava mais alto. Do quarto do caçula eu ouvia o ressonar do meu marido, companheiro de um tempo que eu nunca imaginei chegar.
Fui ao banheiro social, o dos meninos. E lá foi que eu senti a maior ausência. Não encontrei suas escovas de dente. Dizem que quando a gente casa junta as escovas de dente, não é?
Pois naquele momento entendi que meus filhos estavam ganhando o mundo. E que ganhem mais ainda! Conquistem seus sonhos e me tragam sua felicidade!!!
O ruim disso tudo é o medo de ficar parada no tempo, correndo o risco de só lembrar deles no pretérito imperfeito.
Meu desafio é acompanhá-los, seguir no caminho deles como mera observadora.
O futuro não é meu.
Só não esqueçam de escovar os dentes....
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
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