segunda-feira, 26 de setembro de 2011

a casa materna

Na casa dela a tosse ecoa,
A solidão enche os quartos.
A TV fala pra um corpo que dorme, alheio.
A pele fina parece cera, tamanha é a reclusão.

Na casa dela, louça de anteontem adorna a pia.
Talvez, o único sinal de vida.

Nada mais se mexe.
Uma vassoura varrendo no térreo vira música.
Passa um carro ao longe.
Tudo se ouve.
Houve mais nada.

Nem ela está mais na casa dela.
Sua alma ainda viva, ou quase, está de saída.

O que há na casa dela?
A tosse, a solidão, palitos de dente espalhados, fios dentais, remédios pra dor.

E esta dor que não passa....

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bom-bom de café no retrovisor

Dente que doi, carro parado no trânsito,menino flanando pelas ruas, bom-bom de café pendurado no retrovisor.
Não vejo muito bem os outros, não consigo muito bem entender a lógica. A rigor, tudo o que há aqui eu já vi em outros lugares. Menos os detalhes, que são rigorosamente locais.
Outro dia, tinha um motorista conversando com a cobradora do ônibus do lado. Credito não, moço. E ele se volta pros passageiros: gente, vi esta menina crescer.
Ai todo mundo ri. A moça era mais velha que ele, muito.
Gosto de ônibus por isso. Todo mudo se mistura. Já ganhei receita de bolo, já aprendi a fazer lambedor.
E ainda ganho a visão aérea da cidade. Cada dia viajo de um lado da janela. Assim, muda a paisagem.
Parnamirim/Macaxeira, alto Santa Isabel, Rio doce dois irmãos.
Dá licença de eu estar em lua-de-mel com a minha cidade?
E só quem mora por aqui sabe que bom-bom de café pendurado no retrovisor é quase uma modalidade olímpica.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

olhar estrangeiro

Lanço um olhar estrangeiro sobre a minha terra natal.
O moço que varre a rua, tenta vencer o vento do final do inverno, que joga no chão as folhinhas mínimas,
A senhora que come biscoito Maria - doce e seco – me espera cedinho na esquina do trabalho.
O menino que atravessa a rua por entre os carros – aqui as faixas de pedestre não funcionam....
Lanço um olhar estrangeiro e cúmplice.
Começo a fazer o mesmo.
Atravesso as ruas por entre os carros.
Aceito um biscoito vez por outra.
Dou bom dia ao porteiro pontual que tentar limpar a calçada.
O cheiro é peculiar,
O jeito da gente me conforta.
Com licença,
Cheguei em casa.

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...