sexta-feira, 29 de maio de 2015

Carta ao marido

Hoje senti que você me falta. A vida alheia - a desgraça alheia- me fez pensar em você.
Não que deseje-as para mim. É que o fim dos outros me trouxe a profunda reflexão de que não é isso que eu quero pra nossa história.
Contudo, como roteirista teimosa, escrevo diversas cenas onde somos diferentes. Eu, menos forte, menos amarga. Você, mais meu. Eu, mais doce e paciente. Você, menos sonho e mais chão.
E neste meu devaneio, o enredo se perde. E é aí que reside o problema. No limite, posso tentar escrever (reescrever) a minha história.
A sua é um capítulo à parte. Não posso escolher a sua métrica nem a minha rima.
Não posso nem mesmo determinar quantas páginas ou capítulos cabem nesse romance.
Não obstante, insisto em escrever.
Nem que seja para me livrar destes malditos pensamentos, que ou me perturbam ou me consomem...
Acabei de sair da exposição de Clarice. A exposição de uma escritora. Percebi o quanto sinto amor pelas palavras. Talvez tanto quanto você pelas cores. Descobri também que o desenho do papel "me plait beaucoup".
Então, às vezes escrevo pra soltar ou acalmar minhas feras. Outras, aproveito para contemplar minha obra acéfala na celulose.
Hoje comecei escrevendo com uma caneta sem tampa encontrada no arroubo e na desordem da minha bolsa. Nem sabia quais eram meus monstros. Acabei escrevendo pra você. Talvez tenha escrito pra mim mesma, obedecendo cegamente as instruções de Ferreira Gullar e profundamente comovida por Clarice.
Mas, como diria Freud, e como confirmaria Yung, bolas ao acaso!
Hoje faz 16 anos que nos misturamos de amor e fundamos Dante ( que significa durável, permanente).
Esta é a razão que o meu ser feminino encontrou. Fazer uma confissão. Amo você, mas desejo imensamente que o meu roteiro seja adaptado, filmado e exibido.
As coisas existem. O amor existe. O casamento, este, é o roteiro produzido.

Lá vou eu.

As linhas nunca acabam. São o futuro. Estão em branco.

beijo, Germana.

Balada

Minha quase respiração presta homenagem à minha quase vida.
Lembra-me que existo a dor insistente acima das sobrancelhas.
Taciturna, sonho em escrever sobre flores, jardins e chuvas de verão.
Obscura, encerro-me nas próprias veias.
Não enxergo o mundo à minha volta, sendo o meu universo tão complexo.


Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...