Quando se abre a tampa do pote, o perfume é o primeiro a se anunciar. Seus delicados e personalistas tons, num degradê de estímulos.
O
perfume sugere o sabor. Induz o pensamento, persuadindo a memória, catando
lembranças, futucando o passado.
Assim mesmo é com ela.
Abre-se o pote da vida e a timidez do
perfume vai saindo aleatória, encaminhada pelo curso da brisa que passa sem
muito pesar.
Pote fechado há tanto tempo, curando o seu conteúdo,
apurando os sabores e envelhecendo seus tecidos.
Um dia, a luz está mais clara, os sinais são menos vermelhos
e a vida abre passagem.
A tampa, resistente ao vácuo, finalmente eclode.
Seu estampido surdo.
Saem sabores inéditos, sai a vida cultivada ali, no simulacro vedado.
Seu estampido surdo.
Saem sabores inéditos, sai a vida cultivada ali, no simulacro vedado.
E nada de tão novo acontece, a não ser a propriedade de si.
A não ser a sensação de que a ninguém pertence sua vida.
Uma
vida marinando nas décadas de uma casa cheia.
De uma cozinha repleta de amor, de um afeto tão imenso, capaz de blindar a si mesma de qualquer hecatombe.
De uma cozinha repleta de amor, de um afeto tão imenso, capaz de blindar a si mesma de qualquer hecatombe.
Uma
vida na prisão protetora e restauradora da embalagem a vácuo.