quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Salete no céu



Se Manuel Bandeira tivesse conhecido nossa Salete, certamente teria escrito um poema.
Um poema de amor, um poema de admiração ou de louvor.
Ele descreveria uma pernambucana intensa, uma mulher de olhar doce, uma criatura pura.
Ele ainda falaria do bairro do cordeiro, do mercado, da feira.
Falaria que onde ela passava deixava um rastro, uma marca.
Eu li outro dia um poema de Manuel Bandeira que dizia assim:

Irene no céu


Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.


Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença

Quando nossa Salete, a minha Tia Salete chegou lá no céu, organizou logo um pastoril, foi recebida com fogos e com alegria. São Pedro escolheu a melhor túnica e os anjos organizaram logo um sarau.
Me imagino e sempre me imaginarei ao lado dela recitando poesias, cantando músicas e vendo o por do sol. Aquele foi o nosso céu.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A última seca




A seca queima os lábios, tatua meu corpo com veias brancas, fininhas,superficiais.
Posso arriscar fazer desenhos pelos braços e pernas. Um hidratante, pelo amor de Deus!!!!
10% de umidade relativa do ar e a gente sente que o que floresce mesmo são os ipês.
Amarelos, lindos, majestosos, imunes à seca, as árvores reinam na paisagem do planalto.
Vou me despedindo sem drama. No mais, minha alma vai desidratando.
São as últimas horas como habitante do Brasil Central.
Tento entender o sentido de ir e vir, de estar com pessoas, fazer laços e depois deixá-las.
A ilusão da completude me move, me leva, me traz.
O engraçado é fazer parte de vários lugares ao mesmo tempo, do planalto ao nível do mar. Dos ipês aos cactus, do Sena ao Capibaribe.
Minha tentativa vã de unir os mundos celebra esta vida. Posso de repente andar pelas ruas e esbarrar em alguém. Alguém com quem já tive ou mantenho laços. Alguém que jamais verei denovo: - “Com licença, não te conheço de algum lugar”??
Seria do elevador? Do aeroporto? Você parece com uma pessoa que eu conheço...”
Estou seca e superficial como nunca. Não quero sentir a saudade que já se avoluma na porta. Não quero ouvir o barulho da chuva que se anuncia na nova morada.
Vou seguindo, vou andando.
Vou andando e seguindo.
Um dia chego. Mas onde mesmo???

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...