terça-feira, 16 de agosto de 2011

A última seca




A seca queima os lábios, tatua meu corpo com veias brancas, fininhas,superficiais.
Posso arriscar fazer desenhos pelos braços e pernas. Um hidratante, pelo amor de Deus!!!!
10% de umidade relativa do ar e a gente sente que o que floresce mesmo são os ipês.
Amarelos, lindos, majestosos, imunes à seca, as árvores reinam na paisagem do planalto.
Vou me despedindo sem drama. No mais, minha alma vai desidratando.
São as últimas horas como habitante do Brasil Central.
Tento entender o sentido de ir e vir, de estar com pessoas, fazer laços e depois deixá-las.
A ilusão da completude me move, me leva, me traz.
O engraçado é fazer parte de vários lugares ao mesmo tempo, do planalto ao nível do mar. Dos ipês aos cactus, do Sena ao Capibaribe.
Minha tentativa vã de unir os mundos celebra esta vida. Posso de repente andar pelas ruas e esbarrar em alguém. Alguém com quem já tive ou mantenho laços. Alguém que jamais verei denovo: - “Com licença, não te conheço de algum lugar”??
Seria do elevador? Do aeroporto? Você parece com uma pessoa que eu conheço...”
Estou seca e superficial como nunca. Não quero sentir a saudade que já se avoluma na porta. Não quero ouvir o barulho da chuva que se anuncia na nova morada.
Vou seguindo, vou andando.
Vou andando e seguindo.
Um dia chego. Mas onde mesmo???

2 comentários:

Dante Accioly disse...

Seja feliz na sua nova casa, minha prima.
Foi muito bom ter você por aqui.
A gente se vê por aí.
Pelo meio do mundo.

Germana Accioly disse...

Primo,

O meio do mundo somos nós mesmos. E vc está no lugar mais privilegiado do meu :)

Horizonte

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