Moqueca de peixe à
Flor da Mata
Ingredientes:
Na véspera:
-Uma rede (pra balançar)
- Um beija flor verde (pra olhar deitado na rede)
- chuva, muita chuva (pra não precisar fazer nadinha mesmo)
-Uma pitangueira carregada de frutos e com alguns já
beliscados pelo beija flor.
No dia:
- Peixe de sua preferência
- Molho de tomate caseiro
- Limão
- Sal a gosto
- Gengibre
Modo de fazer:
Não cozinhe nada muito rebuscado no primeiro dia. Aproveite pra
chegar. Deite na rede, olhe o beija flor, o ninho que está sendo abandonado, as
flores que nasceram. Ouça o pingar da chuva, durma e acorde sem saber que horas
são. E aproveite pra sentir o perfume da pitangueira.
Reserve.
No dia seguinte o sol chegou fraquinho. Acorde umas 9h,
deite na rede de novo. Mas antes, coloque o seu peixe de molho no limão.
Esqueça.
Dê uma volta pelo Flor da Mata. Molhe os pés na água, suje o
rosto com urucum, contemple as flores, caminhe pelas trilhas. Não esqueça de
olhar para as teias de aranha, para os ninhos...
Ao voltar para casa, coloque uma música legal. Escolha a sua
panela de barro preferida e coloque no fogo brando para esquentar. Depois
acrescente azeite e cebola cortada.
Espere a cebola ficar quase transparente e coloque as postas
de peixe bem bem bem acomodadinhas. Aí vá ao jardim e colha umas pitangas bem
roxas. Assim mesmo, na hora. Separe a polpa do caroço e coloque a carne de umas
15, talvez (seu sentimento vai mostrar quando já estiver bom). Deixe umas 5 ou
6 bem lindas pra decorar o prato.
E o fogo brando.
Aí, na sequência, acrescente o molho de tomate, mais cebola,
sal e pimenta a gosto. Se gostar, gengibre ralado.
Tampe a panela e, quando levantar a fervura forte, apague e
deixe terminar de cozinhar somente na quentura da panela.
A esta altura, lá fora, o sol a pino, sugiro o almoço na
varanda. Meu lugar é sempre de frente pras helicônias. Às vezes durante o
almoço o beija flor vem me visitar. Os maribondos também dão o ar da graça.
Almoce este manjar como se fosse uma comunhão com o seu
entorno. Casa tem que fazer fumaça, ter cheiro de comida e sabor de
acolhimento.
Pra regar esta iguaria, conversa boa, com gente que se ama.
Este ingrediente é fundamental.
Deixe a tarde cair na grandeza infinita do cafezinho, do
biscoitinho, do docinho, do chazinho, do licor.
Volte à rede. O sol se põe. Se der sorte, vai ter lua cheia.
É bom manter seu vinho na geladeira.
E não esqueça jamais de registrar estes momentos com a
máquina fotográfica da retina.