segunda-feira, 23 de julho de 2012

correndo da morte


Quanto mais me deparo com a morte, mais pressinto a urgência de viver.
E viver mais é a solução.
Correr atrás do esperado, amar o amado, investir no impossível.
Fazer um curso de gastronomia, voltar a tocar piano, acreditar que tudo posso. 
Que sou forte o suficiente pra viver.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Mandioca Brava






Eu sou uma pessoa entre Olinda e Recife. Nasci no Recife. Vivi em Olinda. Casei no Recife. Me apaixonei em Olinda.Tive meus filhos no Recife. Mostrei a eles o carnaval de Olinda. Fiz jornalismo no Recife. Meu primeiro emprego foi em Olinda. Recifense de documento. Olindense de coração. Amo as duas.
A imagem que unia as duas cidades na minha meninice era a torre da fábrica. Vinha de Recife, sabia que estava chegando em Olinda. Saía de Olinda, era sinal que Recife tava me abraçando.
Um tempo desses acreditei que poderia trabalhar no meio do caminho. Fazer exatamente o que sempre sonhei no lugar que mais gostava de ver das duas cidades. Sonhei.
O prédio abandonado seria revitalizado. O prédio e as pessoas. E eu, personagem desta história. Fiz a loucura de acreditar. Pedi demissão do emprego em Olinda pra trabalhar entre as duas cidades. O sonho era uma brincadeira. Um engodo.
Hoje outras paisagens adornam aquela região e o meu prédio está aos pedaços. Descaso com a história das cidades.Descaso com as pessoas que acreditaram.
Coloco no Google o nome da fábrica. As referências vão para um shopping metálico e espelhado que fica à sua frente e tem o mesmo nome.
Lembra-se imediatamente do templo de compras. O templo da cultura foi solenemente abandonado. Está fazendo 10 anos que esta fábula se fez. E eu insisto em lembrar a mim mesma e aos outros.
Ainda no Google, fiquei sabendo que tacaruna pode ser proveniente de "takaré" + "una" - tacaruna. Etmologicamente tacaré significa "haste curva" e também a designação de um
tipo de mandioca (talvez uma mandioca curva). Mandioca brava.
Esqueceram o Tupi... e a fábrica tacaruna não é mais cultural. Não é mais fábrica. É uma ruína.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Receita







Moqueca de peixe à Flor da Mata

Ingredientes:

Na véspera:
-Uma rede (pra balançar)
- Um beija flor verde (pra olhar deitado na rede)
- chuva, muita chuva (pra não precisar fazer nadinha mesmo)
-Uma pitangueira carregada de frutos e com alguns já beliscados pelo beija flor.
No dia:
- Peixe de sua preferência
- Molho de tomate caseiro
- Limão
- Sal a gosto
- Gengibre
Modo de fazer: 
Não cozinhe nada muito rebuscado no primeiro dia. Aproveite pra chegar. Deite na rede, olhe o beija flor, o ninho que está sendo abandonado, as flores que nasceram. Ouça o pingar da chuva, durma e acorde sem saber que horas são. E aproveite pra sentir o perfume da pitangueira.
Reserve.
No dia seguinte o sol chegou fraquinho. Acorde umas 9h, deite na rede de novo. Mas antes, coloque o seu peixe de molho no limão. Esqueça.
Dê uma volta pelo Flor da Mata. Molhe os pés na água, suje o rosto com urucum, contemple as flores, caminhe pelas trilhas. Não esqueça de olhar para as teias de aranha, para os ninhos...
Ao voltar para casa, coloque uma música legal. Escolha a sua panela de barro preferida e coloque no fogo brando para esquentar. Depois acrescente azeite e cebola cortada.
Espere a cebola ficar quase transparente e coloque as postas de peixe bem bem bem acomodadinhas. Aí vá ao jardim e colha umas pitangas bem roxas. Assim mesmo, na hora. Separe a polpa do caroço e coloque a carne de umas 15, talvez (seu sentimento vai mostrar quando já estiver bom). Deixe umas 5 ou 6 bem lindas pra decorar o prato.
E o fogo brando.
Aí, na sequência, acrescente o molho de tomate, mais cebola, sal e pimenta a gosto. Se gostar, gengibre ralado.
Tampe a panela e, quando levantar a fervura forte, apague e deixe terminar de cozinhar somente na quentura da panela.
A esta altura, lá fora, o sol a pino, sugiro o almoço na varanda. Meu lugar é sempre de frente pras helicônias. Às vezes durante o almoço o beija flor vem me visitar. Os maribondos também dão o ar da graça.
Almoce este manjar como se fosse uma comunhão com o seu entorno. Casa tem que fazer fumaça, ter cheiro de comida e sabor de acolhimento.
Pra regar esta iguaria, conversa boa, com gente que se ama. Este ingrediente é fundamental.
Deixe a tarde cair na grandeza infinita do cafezinho, do biscoitinho, do docinho, do chazinho, do licor.
Volte à rede. O sol se põe. Se der sorte, vai ter lua cheia. É bom manter seu vinho na geladeira.
E não esqueça jamais de registrar estes momentos com a máquina fotográfica da retina.

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...