segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O doce e o amargo.

Minha presidenta e de todos os brasileiros,

Escrevo aqui do calor do Recife, cidade de tantas lutas e tanta tradição.
Se esta carta chegar às suas mãos, já será um imenso prazer.
Dizem por aqui que, quem adoça a boca dos meus filhos, a minha adoça.
Em primeiro lugar, Dilma, agradeço. Pela oportunidade que tantos jovens como o meu Dante estão vivendo, de conhecer outros países, outras culturas, outras línguas e, com isso, trazer uma infinidade de novas possibilidades ao nosso país e ao futuro de cada um.
Nossa família jamais teria como oportunizar uma experiência semelhante. Linda esta sua iniciativa de abrir a possibilidade para toda uma geração. Como mãe, vejo minha cria voar, crescer com a força da educação. Isso é política pública responsável e de longo prazo. Valorizar pessoas e, a partir delas, melhorar a sociedade.
Sou jornalista de formação, sou nordestina, mãe, mulher e cidadã. Desde muito cedo na vida compreendi que militância existe na política, mas também em cada um desses outros papéis.
E, permita-me dizer, aprendi muito com o seu exemplo.
Acompanhei sua trajetória desde o Ministério de Minas e Energia, um território povoado pelo poderio masculino. Quando me diziam: "Dilma é dura feito um homem", eu pensava: "Porque nós, mulheres, quando assumimos posições tradicionalmente masculinas, somos estigmatizadas justamente na questão de gênero? Porque sempre discutir o que nos afasta, e nunca o que nos une?"

Minha felicidade foi levar meus filhos (os dois homens) às ruas para  comemorar a eleição da primeira mulher Presidenta deste país. Uma geração que, certamente, não tem a dimensão disso tudo, desta revolução, deste avanço e do imenso passo dado em direção à igualdade e ao empoderamento feminino. Com certeza, presidenta, meus filhos serão melhores do que eu.
A como mãe e mulher, sei que compreende a grandeza deste momento.
E eis que eu me entristeço quando, aos poucos, o discurso das ruas parece cegar. Como execrar de maneira tão abusiva e desespeitosa uma chefe do Poder Executivo eleita, quando os que foram mandantes de torturadores nunca sequer foram julgados? Cada vez que um misógino esbraveja, atinje a mim também. Ataca nossos direitos e ameaça o futuro.
O discurso preconceituoso de outros dá conta de uma sociedade  que sempre dominou não aceita o fim da escravidão, não aceita o filho do pobre com a mesma oportudade que seus próprios filhos; não admite perder privilégios.  Foram os donos da bola por tantos séculos que agora esbravejam. Esperneiam.
Aqui, da cidade que unem-se rio e mar,  recebi a notícia deste feliz encontro com os jovens do Ciência Sem Fronteiras. Confesso que gostaria de estar aí por dois motivos.
Para conhecê-la e dizer o que agora escrevo, mas também para estar com meu filho, pois a saudade começa a tomar assento no meu peito. Coisa de mãe.
Desejo-lhe força para continuar transformando a vida de jovens como meu filho; seguir sendo exemplo a mulheres como eu; garantir o direito de expressão para todos os brasileiros, pensem ou ajam como queiram.

Que as falhas sejam apuradas e os desvios, ajustados para o bom caminho. Nosso país tem meios e instituições para tal. Eu acredito na política como agente transformador da sociedade. Acredito que política é lugar de gente bem intencionada. Acredito em você.

Dilma Roussef, você sempre terá a nossa admiração, a nossa lealdade e imenso respeito!

Obrigada e muita força!

Germana Accioly

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