Filho,
Faz algumas noites que sonho com você. Um sonho tranquilo,
de ressignificação, de repactuação. Um sonho que se repete. O sonho nada mais é
do que nosso retrato inconsciente, o subconsciente mandando recados, sinais.
Pois bem. Este sonho repetitivo começa com você pequeno, uns
3 anos. Entro no seu quarto e tem uma fila de carrinhos pelo chão. Me ofereço
pra brincar e você me responde: “Já tô brincando, né, mãe?” Esta cena é a
reprodução do que realmente acontecia. O sonho me fez lembrar a cena. No sonho, eu saio de fininho pra não te
atrapalhar, achando tão, tão bonito essa tua independência. Na vida real, eu te
olhava e saia de mansinho também.
No sonho, “corta” pra uma cena de você grande, tocando no
palco, no seu mundo.... e eu venho entendendo que são outros sonhos e que de
alguma forma, você quer brincar esta brincadeira sozinho.
Este sonho tem me levado a um lugar muito, muito profundo,
Luís. Um lugar que me faz constantemente a pergunta: será que fui uma mãe à sua
altura? Será que, como mãe, eu fui competente o suficiente pra te amparar? Será
que todo o amor que eu sinto (e que é imenso), eu consegui traduzir em atos e
exemplos pra você?
Este amor, meu filho, só cresce, em admiração, em desejo de
troca.
Depois da terceira vez que sonhei, decidi escrever este
texto. Uma carta ao meu filho adulto. Uma carta ao caçula, que certamente teve
dificuldade de crescer e se libertar das amarras da maternidade.
Hoje, eu, que fui sua mãe tão nova, tão cedo, percebo que temos
um grande caminho pela frente. Quero estar do seu lado na sua vida, mas não
mais na sua frente. Quero ser escada, trampolim, quero ser coadjuvante, não
mais a principal.
A vida, meu filho, está nas suas mãos. As luzes da minha
ribalta começam a amainar. A maturidade nos traz um desejo de paz.
Você tem a estrada iluminada pela frente. Com todas as
lutas, conquistas e histórias a construir.
Cuide dos que você ama, mas sobretudo, cuide de você.
Eu estarei sempre no mesmo lugar. Braços abertos. Mãos solícitas
e um desejo imenso de contribuir e ser figurante no teu protagonismo.
Se um dia você sentir vontade, podemos conversar
pessoalmente. Se um dia você sentir vontade, podemos apenas nos olhar.
Não precisa responder a esta mensagem, se não quiser. Apenas
escrevi porque acho que dificilmente eu conseguiria te contar tudo isso
falando, porque a fala é sempre pra mim mais subjetiva que a escrita.
Mas voltando ao sonho, sempre acordo dele com um sentimento
lindo de mansidão, de paz e de amor. Espero ter refletido este sentimento aqui.
Espero, para além do sonho, a realização dele.
Beijo.