Sonhar que voa, que quer ser outra pessoa, mudar de nome, de
identidade, um cabelo mais preto, tocar um instrumento....
Um que seja, você tem?
Na aula de inglês, gente jovem se capacitando, ficando até
tarde da noite, três horas de aula seguidas... it’s hard....
Quando o Teacher pergunta “What’s your dream?”, responde o
silêncio.
Ele flexibiliza pra resposta ser em portuguese. Silêncio na
língua nativa.
Eu vendo sonhos.
Na sala, cadeiras dispostas em círculos, a energia não flui.
Constrangidos, os alunos se entreolham. Um mais ousado salta: sonho ter
dinheiro de pagar as contas. A outra responde: sonho em me aposentar.
Eu fiquei com vergonha de falar dos meus. Já realizei um
monte deles. Ter filho, morar fora do país, cantar, representar, dormir na
praia. E tenho outro lote.
Respondi, assim, tímida: I dream to learn English. Nem sei
se estava certa a frase.
E a turma fez um levante geral. Não, não foi porque acharam
que eu bajulei o professor. Foi porque eles odeiam, não suportam a língua anglo
saxã. Mudou o foco.
E se não gosta, porque ficar até tarde na terça-feira
ralando pra aprender? Porque passar o tempo investindo no que não se ama?
Do you have a dream?
Eu coleciono os meus.
- Pro currículo é bom.
- Preciso passar num concurso público
- Todo mundo fala inglês
- Meu salário pode melhorar com o certificado
- Eu acho feio, mas necessário falar inglês.
Gays!
It’s true! Tudo que falaram é verdade, mas pragmático.
Tudo cabe no sonho de um sonhador.
Onde foi que desaprendemos a sonhar? Onde foi que nos
encarceraram na realidade?
Faz 50 anos que Luther King foi assassinado por sonhar um
mundo sem barreiras de cor, raça.
E a gente sonhando em pagar o boleto da luz.