quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

cola e chuva



Tinha um menino no sinal cheirando cola e imitando a Xuxa.
Ele cantava as músicas da loura milionária e as pessoas riam.
Chovia cântaros. Estávamos espremidos no abrigo da parada de ônibus.
As pessoas continuavam rindo daquela criança de mãos sujas.
Animado, o pequeno dizia: agora vou cantar Daniel. E entoava bem afinado o canto sertanejo-romântico. E as pessoas achavam mais graça. O cheiro da cola foi ficando forte.
O menino não era filho de ninguém. Nem sobrinho. Nem afilhado.
As pessoas continuavam rindo, mas todas de costas pra ele.
Se fosse meu filho, eu choraria.
Os ônibus passavam levantando água. E as pessoas ( são pessoas mesmo?!!) se espremiam mais ainda nos limites cobertos da parada.
Dei a mão sem saber pra onde o coletivo me levaria. Entrei e não perguntei nada a ninguém. Esperei um canto mais seguro pra descer.
Fugi da falta de amor e sensibilidade de tanta gente.
Fugi da minha covardia, mas ela veio comigo.

4 comentários:

Dante Accioly disse...

É foda, prima. Foda por ele. Foda por ti. A sensibilidade tem algo de dilacerante.

Germana Accioly disse...

vc tem razão, primo. escrevo pra ver se organizo na minha cabeça....

Leonardo disse...

É complicado Germana, a gente se revolta, se pergunta que mundo é esse, que país é este que tipo de pessoas somos nós em deixar um ser humano ainda não totalmente formado se destruir diante de nossos olhos.

Beijo

Germana Accioly disse...

leo,

é isso mesmo. às vezes temo ficar muito densa nas minhas ações. gostaria muito de ter uma visão menos pesada das coisas... mas.... nada é como se imagina, né?
beijo.

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 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...