sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Mandioca Brava






Eu sou uma pessoa entre Olinda e Recife. Nasci no Recife. Vivi em Olinda. Casei no Recife. Me apaixonei em Olinda.Tive meus filhos no Recife. Mostrei a eles o carnaval de Olinda. Fiz jornalismo no Recife. Meu primeiro emprego foi em Olinda. Recifense de documento. Olindense de coração. Amo as duas.
A imagem que unia as duas cidades na minha meninice era a torre da fábrica. Vinha de Recife, sabia que estava chegando em Olinda. Saía de Olinda, era sinal que Recife tava me abraçando.
Um tempo desses acreditei que poderia trabalhar no meio do caminho. Fazer exatamente o que sempre sonhei no lugar que mais gostava de ver das duas cidades. Sonhei.
O prédio abandonado seria revitalizado. O prédio e as pessoas. E eu, personagem desta história. Fiz a loucura de acreditar. Pedi demissão do emprego em Olinda pra trabalhar entre as duas cidades. O sonho era uma brincadeira. Um engodo.
Hoje outras paisagens adornam aquela região e o meu prédio está aos pedaços. Descaso com a história das cidades.Descaso com as pessoas que acreditaram.
Coloco no Google o nome da fábrica. As referências vão para um shopping metálico e espelhado que fica à sua frente e tem o mesmo nome.
Lembra-se imediatamente do templo de compras. O templo da cultura foi solenemente abandonado. Está fazendo 10 anos que esta fábula se fez. E eu insisto em lembrar a mim mesma e aos outros.
Ainda no Google, fiquei sabendo que tacaruna pode ser proveniente de "takaré" + "una" - tacaruna. Etmologicamente tacaré significa "haste curva" e também a designação de um
tipo de mandioca (talvez uma mandioca curva). Mandioca brava.
Esqueceram o Tupi... e a fábrica tacaruna não é mais cultural. Não é mais fábrica. É uma ruína.

2 comentários:

Jorgeane disse...

Foi uma pena minha irmã. Mas a vida te trouxe outras esperanças e outros sonhos por vc merecer. Vamos em frente e vamos comer a mandioca brava.

Edson disse...

Histórico e bem narrado. A ponta da decepção não escondeu o resto que é exposto com a clareza que a mente tem e a tristeza que insiste em ficar. Eu me recordo bem dessa "mandioca brava" vestida de tanta esperança e foi morta por descaso de incompetentes gestores que não conseguem vislumbrar o valor real do presente que será nosso futuro. Vou lhe dar um mau conselho: então vingue-se e volte a tocar piano!!!

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