Germano,
Sempre achei, com todos os arrastos, que a Rua da Glória é uma rua feita de sol. Uma rua em que nasce e dorme o sol.
De manhã cedinho tenho o prazer de abrir minha porta, olhar pra esquerda e ver a rua lavada pela luz. À tardinha, voltando pra casa, o sol me encandeia. É a sua despedida. Tenho por este endereço um amor quase ancestral. Tanto, que morando aqui, é a primeira vez que me sinto no meu lugar.
De manhã cedinho tenho o prazer de abrir minha porta, olhar pra esquerda e ver a rua lavada pela luz. À tardinha, voltando pra casa, o sol me encandeia. É a sua despedida. Tenho por este endereço um amor quase ancestral. Tanto, que morando aqui, é a primeira vez que me sinto no meu lugar.
Nesta rua que, sem a lente poética, é suja, feia, triste. Ė quase preto e branca. Nossa casinha amarela, uma das poucas ilhas de cor.
Hoje foi um dia de luz. O sol acordou a Glória, o cheiro do cominho do vizinho subiu logo cedo.
Hoje foi um dia de luz. O sol acordou a Glória, o cheiro do cominho do vizinho subiu logo cedo.
A espera, sem ansiedade, ė um exercício de beleza. E assim foi hoje.
A porta bateu, eu estava teminando um arroz. Corri. um banho råpido, desci as escadas serelepe.
Aliás, peço perdão para mais uma divagação. Quando eu era criança adorava quando minha mãe ia à sua loja. Ninguém, ou quase ninguém, tinha o meu nome. E você tinha. Pra mim era confortador. Lá na minha fantasia juvenil, imaginava que éramos do mesmo grupo. Era como se eu não estivesse sozinha. Mais tarde conheci outros Germanos e Germanas, e por muito tempo fiz meu clube em segredo.
Então, descendo as escadas, minha felicidade gigante era por você ter
aceito esta proposta, este convite de contar a historia dessa rua, a minha rua, com seu brilho e sua sombra.
Germano, sua fala não só me comtemplou. Era como se, de alguma forma, você estivesse contando a minha história,
sendo a sua.
Em muitos momentos, eu me perguntei porque abrir a janela e tocar meu piano com tanto amor para esta rua que mais parece um lixo. Imagino que, com as teclas e os acordes, de alguma forma suplico à historia que também não evapore.
Indaguei igualmente o porque de tanta dedicação a esta casa, este piso, estas pedras que nunca foram de meu pai, meu avô, ou bisavô.
Eu, recifense herdeira do mar de Iracema, dei de vir morar à beira do Capibaribe.
Pois bem, amigo. num clique, ou melhor, em takes, entendi. Sua fala emocionada, verdadeira, realista foi também confortante.
Me descobri nessa militância quase solitária, indo de encontro aos moinhos do consumo, da especulação, da dita modernidade muito mais leve e consciente do que o personagem de Cervantes.
E durante todo o dia suas palavras sábias de sentido me ninaram a mente. Saí dali e fui trabalhar. Hoje a missão foi numa comunidade pobre lá em Boa Viagem. Vi tanta coisa parecida com o que vivo! Só não encontrei a poética, a história.
Chegando em casa, assim, como quem grita, escrevi este texto. Poderia ter escrito somente "Obrigada". Mas seria vazio.
Talvez desde pequena eu entendesse lá, longe da compreensão racional, que viemos realmente de um mesmo lugar. Da Glória. Da Boa Vista.
A porta bateu, eu estava teminando um arroz. Corri. um banho råpido, desci as escadas serelepe.
Aliás, peço perdão para mais uma divagação. Quando eu era criança adorava quando minha mãe ia à sua loja. Ninguém, ou quase ninguém, tinha o meu nome. E você tinha. Pra mim era confortador. Lá na minha fantasia juvenil, imaginava que éramos do mesmo grupo. Era como se eu não estivesse sozinha. Mais tarde conheci outros Germanos e Germanas, e por muito tempo fiz meu clube em segredo.
Então, descendo as escadas, minha felicidade gigante era por você ter
aceito esta proposta, este convite de contar a historia dessa rua, a minha rua, com seu brilho e sua sombra.
Germano, sua fala não só me comtemplou. Era como se, de alguma forma, você estivesse contando a minha história,
sendo a sua.
Em muitos momentos, eu me perguntei porque abrir a janela e tocar meu piano com tanto amor para esta rua que mais parece um lixo. Imagino que, com as teclas e os acordes, de alguma forma suplico à historia que também não evapore.
Indaguei igualmente o porque de tanta dedicação a esta casa, este piso, estas pedras que nunca foram de meu pai, meu avô, ou bisavô.
Eu, recifense herdeira do mar de Iracema, dei de vir morar à beira do Capibaribe.
Pois bem, amigo. num clique, ou melhor, em takes, entendi. Sua fala emocionada, verdadeira, realista foi também confortante.
Me descobri nessa militância quase solitária, indo de encontro aos moinhos do consumo, da especulação, da dita modernidade muito mais leve e consciente do que o personagem de Cervantes.
E durante todo o dia suas palavras sábias de sentido me ninaram a mente. Saí dali e fui trabalhar. Hoje a missão foi numa comunidade pobre lá em Boa Viagem. Vi tanta coisa parecida com o que vivo! Só não encontrei a poética, a história.
Chegando em casa, assim, como quem grita, escrevi este texto. Poderia ter escrito somente "Obrigada". Mas seria vazio.
Talvez desde pequena eu entendesse lá, longe da compreensão racional, que viemos realmente de um mesmo lugar. Da Glória. Da Boa Vista.