domingo, 27 de maio de 2018

A teimosia do amor

Que alegria estar aqui com tanta gente importante nas nossas vidas!

Que alegria reunir todas e todos neste cenário tão lindo e significativo, construído com amor, partilhado por tantos e tantas de nós. Acredito que muitos e muitas aqui têm histórias pra contar que viveram nesta casa, neste jardim.

Quem está aqui pela primeira vez, seja bem vindo e bem vinda à vivenda Tesser, mais que uma casa, um endereço de acolhimento, que muito me diz sobre generosidade e acolhida.

Paula e Luana, que emoção, que gratidão, que imensidão ver vocês duas aqui na minha frente, mãos dadas, olhos brilhando!

A Paula é para mim uma dessas pessoas fundamentais na vida. Fundamental para a minha alegria, fundamental para o meu futuro. Quis esta mesma vida que, vindas de uma mesma família, ainda com toda esta identificação, tivéssemos morado apenas 8 meses na mesma cidade nesses 40 anos mais ou menos que nos conhecemos.

Paulinha, minha prima virou irmã, minha prima gêmea, como costumamos nos chamar. Talvez a maior testemunha da minha vida inteira, com quem eu divido sonhos e tristezas, com quem comungo tantas alegrias! Lua, esta mulher inteira, forte, pernambucana feito eu! Calhou de a vida dar um monte de voltas e vocês estarem aqui, juntas, celebrando este momento.

Paulinha, é inevitável num momento como este lembrar da nossa infância, de quando brincávamos, duas meninas com apenas uma bicicleta, a gente com 9 ou 10 anos, dividíamos de forma igualitária as voltas que dávamos. Não importava de quem fosse a bicicleta.

Queria também lembrar como sempre dividimos as roupas que levávamos pras viagens de férias. Era divertido. Era genuíno. Era generosidade pura. É engraçado que, mesmo quando fizemos ao longo da vida escolhas distintas, foi como se complementássemos as nossas existências.  Eu, que fui mãe cedo de dois meninos, você, mãe mais tardia de duas meninas. Vivencis distintas, igualmente ricas, que compartilhamos com tanto amor! Como se a gente emprestasse uma a outra as experiências diversas que a vida nos oferece.

Confesso que quando recebi o convite de estar aqui, celebrando esta união, tremi. De gratidão, de felicidade, mas também de medo. Escolher as palavras bonitas e verdadeiras, um significado que possa marcar o dia, edificar um momento especial, é um desafio. Receber de vocês a missão de falar hoje aqui nesta cerimônia é mais que um presente. É a celebração deste amor que nós nutrimos, desta confiança, desta linda amizade.

Quero, antes de continuar esta história, pedir uma bênção. Porque aqui conosco estão pessoas que pelo amor nos conduziram e nos formaram. Exemplos, referências, portos seguros, âncoras, gurus. Meus tios Rita e Ozir, minha querida Tequinha, peço a vocês a sabedoria para unir estas duas meninas.

Nara, Flora e Antônia, minhas sobrinhas! Estar aqui com vocês é lembrar o quanto é importante esta troca de amor, a construção desta família tão linda e tão cheia de afeto. Quero pedir a vocês três também bênção e inspiração.

Bênção do mar, da força incrível que vem dos oceanos e da brisa que nos envolve neste momento. A força da natureza, grande mãe inspiradora e condutora da vida!



Eu vim aqui contar uma história de amor. Ou muitas histórias de amor. Porque um grande amor é feito de muitas histórias. Você, Luana, certamente conquistou o coração da Paulinha porque é tudo o que viveu. Todas as suas histórias, suas construções, seus sonhos e desventuras também. Então, você traz consigo muitos amores. Uma bagagem linda! Você, Paulinha, da mesma forma, traz sua experiência, sua vivência, sua história.

Eu sempre digo que a gente casa com as nossas vidas inteiras, ou com a síntese delas.

E como toda história de amor que se conta, vou começar com a frase emblemática. Era uma vez...

Era uma vez duas meninas. Duas mulheres inspiradoras. Era uma vez um sentimento que move e remove as pessoas por dentro e nos leva a lugares inimagináveis, a sensações novas, a realidades outras. Era uma vez o amor. 

Era uma vez um amor que abriu porteiras, que ampliou horizontes. Um amor-janela, um amor-família. Um amor-abraço, um amor muitos braços. Um amor semente. Um amor florescer, um amor raiz.

Era uma vez um amor que teima. Um amor que rompe. Um amor que une. Um amor que segue em frente. Um amor coragem. Era uma vez um amor alegria. Um amor celebração. Um amor tamanho. Um amor paixão.

Cada uma e cada um de nós sabe aqui um pedacinho desta história. Cada uma e cada um de nós que aqui está é um pedacinho desta história também. Somos pecinhas de um quebra-cabeças imenso, uma rede de afeto potente.

Esta história não tem ponto final, mas ponto de partida.

O amor é criativo, é construção. É vontade e escolha. É arbítrio e abraço. Abraçar uma vida juntas, olhar uma para outra, acariciar o tempo com o olhar do transitório.

Eu, que há 24 anos experimento a aventura de viver a dois, posso aqui ousar em dar um conselho. Vocês não “acabaram” de casar. Esta é uma tarefa que não acaba. Casem todos os dias.

Isso mesmo. Casem sempre que puderem. Sempre que quiserem. Repactuem. Se reapaixonem. Casem cada vez com uma face diferente da outra. É preciso criatividade para casar inúmeras vezes com a mesma pessoa. Casem com as coisas simples. Com as delícias da rotina.

A gente casa com o bom humor, mas também com o abuso. A gente casa com o riso e com o choro. A gente casa com a monotonia e a aventura. A gente casa por teimosia mesmo. Era isso... se me perguntarem qual é o ingrediente mais importante do amor, minha resposta, sem titubear, é: a teimosia. Teimar e acreditar. Teimar e tentar novamente. Teimar e recomeçar. Teimar e amar. Teimar e amar. Teimar e amar.

E que os laços nunca virem nós; Que “nós” seja sempre a expressão que defina vocês e não imbróglios a serem resolvidos. Que permanente seja sempre o momento vivido agora, não as angústias do passado ou a ansiedade pelo futuro.

Hoje é a grande festa, mas o mistério da vida é renovado a cada dia. Nunca digam: sou casada, mas: estou casada. Invistam na impermanência, na necessidade de renovar, de conquistar, de ampliar os horizontes, de nutrir a relação para que cresça e fortifique.

O mistério do amor, este sentimento sem muro, deve ser irmão do encantamento e muito, muito próximo à liberdade.

Algum poeta disse que amar não é olhar uma para outra, mas ambas na mesma direção. Sempre penso nisso, mesmo sendo uma frase que soe banal, que ilustrava aqueles papeis de carta que a gente colecionava na infância... Olhar uma para outra é fundamental. Mas ver o mesmo mundo à sua volta, a paisagem ao redor, é revelador. É fortalecedor. É cúmplice. Sejam parceiras, comparsas, uma da outra.

Na minha presunção, sigo aconselhando que vocês duas acordem todos os dias com a perspectiva de uma nova vida. Assim como a inspiração e a expiração, assim como o dia e a noite, assim como o tempo irremediavelmente segue seu percurso.

Um escritor que admiro muito, Ronaldo Brito, que é cearense, mas mora há anos no Recife, diz uma frase que muito me toca: "os lugares que não existem são muito, muito mais bonitos do que os lugares que existem"

Os lugares que não existem podem ser o universo de vocês duas, um lugar imenso e profundo, que somente quem tem a chave pode entrar.

E que vocês sejam felizes sempre. Desde sempre. Até a finitude do amor, este sentimento com vocação para ser eterno.

amém.

sábado, 12 de maio de 2018

Egotrip


Foi um ano de perdas e ganhos.
Um ano de tantas voltas! E tantas emendas de vida!
O meu ano começou com festa. De arromba. Foi uma festa de despedida de um momento da vida. Toquei ao piano a valsa do Adeus. Foi por acaso, mas não foi aleatório. Foi como se aos 45 eu fechasse livros, ciclos, possibilidades. Foi como se eu reunisse gente querida pra dizer que dali pra frente seria diferente.
A festa que bombou na rua da Glória foi a vernissage da minha metamorfose. Foi um ano de menos medo. Menos solidão. Mais força. E um ano anunciando uma mulher madura, minha festa de debutante para apresentar quem eu sou.
Apostando no ciclo virtuoso do amor como escudo a todo o resto negativo. Dando a cara a tapa na vida, abrindo as opiniões e enchendo os pulmões para dizer: que felicidade não ser unanimidade! Que alegria ter as minhas!
No meu mundo ideal todas as pessoas são felizes, mas tenho as minhas. Tenho a lista dos afetos.
Foi um ano de lagarta, me assustando com minhas reações, não entendendo a solidão voluntária de tantos momentos prazerosos. Demorou. Mas caiu a ficha. Quando as asas surgiram, coloridas e para o mundo, entendi.
Sou uma mulher madura que quer ser feliz. Só quero do meu lado gente que me faz bem. Só patrocino alegrias inteiras.
Sim, tem gente que eu prefiro não falar. Algumas, preferia nem conviver.
O "Não" dito docemente é um remédio eficaz!
E uma alegria em pleno inferno astral me soa fora de hora! Como se eu tivesse tomado uma vacina. Não me iludo. Continuo saudosista, continuo nostálgica. Continuo com uma lágrima sempre pronta a explodir. Mais de alegria que de tristeza.
Mas tem um poder, aquele de saber que o abismo é sempre mais à frente, que tudo passa, que o tempo não vai parar pra enxugar as minhas lágrimas e que, por isso mesmo, talvez seja o meu maior aliado. Sim! Eu marcando na folhinha os 46 anos, estou aliada ao tempo.
Foi um ano em que comecei a ouvir minha própria voz. Um ano em que deixei que outras pessoas também a ouvissem. Minhas ideias que sempre pulularam entre o peito e a mente, agora saem pela boca.
E se me perguntarem o que vai ser daqui pra frente, nem sei responder. Mas sei que daqui pra frente sou eu. Eu com minha verdade vital. Eu com a coerência de quem é controversa.
Muito prazer! Eu sou eu mesma. Vou comemorar com uma festa bem íntima o bem que eu tenho me feito. Os horizontes andam se abrindo. E vejo novas visões. Capto momentos com uma sintonia mais fina.
O corpo, este tem mudado. E eu tenho uma enorme gratidão por tudo o que ele me faz. Me leva, me deita, me dá prazer. Uma parceria das antigas. 
Sigo. E somente por isso, tudo já está valendo a pena.



Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...