quinta-feira, 18 de outubro de 2018

fAlTa MuItO






São tempos difíceis. 
São tempos difíceis.
Eu ainda não sei falar da revolução dentro de mim, nem do golpe lá fora. 
Ou seria o golpe dentro de mim e a revolução lá fora....
Eu ainda não sei.
Falta muito.
Ainda não sei escrever sobre este rebuliço, este gesto largo e firme que me trouxe a esta paisagem estonteante.
Ainda não sei me situar com as novas gavetas.
Onde guardo os talheres, onde estão os colares, o saca rolhas, o pano de chão?
Onde acomodo meus gestos viciados, onde dobro minhas memórias já passadas?
Falta muito.
Eu ainda olho para as cadeiras da sala como uma turista. Esqueço onde fica o lixeiro e não tenho nenhuma intimidade com a máquina de lavar.
Não aprendi o tempo do elevador. A viagem do 14º até o térreo me parece intercontinental.
Tenho atravessado mares, a propósito. Todos os dias.
Onde devo ter guardado aquela extensão?
Onde se esconde a chave do carro?
Qual é o abrigo das minha dores?
As paredes ainda em branco reverberam um eco que intriga.
Casa sem memória, guardando todas as histórias que eu trouxe de endereços passados. 
Juntando tudo, não dá nem a metade de mim.
O restante, vai que está entre os guardanapos, ou quem sabe, no armário da área de serviço. Escondido em alguma sacola de plástico...
Falta muito.

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Horizonte

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