São tempos difíceis.
São tempos difíceis.
Eu ainda não sei falar da revolução dentro de mim, nem do
golpe lá fora.
Ou seria o golpe dentro de mim e a revolução lá fora....
Eu ainda não sei.
Falta muito.
Ainda não sei escrever sobre este rebuliço, este gesto largo
e firme que me trouxe a esta paisagem estonteante.
Ainda não sei me situar com as
novas gavetas.
Onde guardo os talheres, onde estão os colares, o saca
rolhas, o pano de chão?
Onde acomodo meus gestos viciados, onde dobro minhas
memórias já passadas?
Falta muito.
Eu ainda olho para as cadeiras da sala como uma turista.
Esqueço onde fica o lixeiro e não tenho nenhuma intimidade com a máquina de
lavar.
Não aprendi o tempo do elevador. A viagem do 14º até o térreo
me parece intercontinental.
Tenho atravessado mares, a propósito. Todos os dias.
Onde devo ter guardado aquela extensão?
Onde se esconde a chave do carro?
Qual é o abrigo das minha dores?
As paredes ainda em branco reverberam um eco que intriga.
Casa sem memória, guardando todas as histórias que eu trouxe
de endereços passados.
Juntando tudo, não dá nem a metade de mim.
O restante, vai que está entre os guardanapos, ou quem
sabe, no armário da área de serviço. Escondido em alguma sacola de plástico...
Falta muito.
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