domingo, 28 de março de 2021

com meus botões

 

Os botões abriram do dia pra noite, na contramão de mim.

Os botões, que anteontem estavam fechados, floriram. 

Brotaram. 

Floresceram­­.

Eu, na contramão dos botões.

Eu, na crosta que nem marisco.

Plantei meu coração num terreno pouco fértil, talvez.

Reguei, dei sol e chuva para as folhas.

Mas nasceram, no lugar de flores, mariscos herméticos.

Fecho os olhos e imagino esta figura de linguagem.

Um vaso com uma plantinha de longas folhas verdes, de onde brotam conchas.

Um híbrido. Lugar nenhum.

De onde não se espera o frescor de um perfume, nem frutos doces.

Invejo, quase, os botões.

Só não os invejo mais porque não sei o que fazer em flor. 

O que fazer com o tempo ao léu, onde depositar o orvalho do alvorecer.

Como lidar com a brisa...

Os botões abriram e o ciclo se acelera.

Em breve as pétalas vão adornar a mesa, amareladas pelo tempo inevitável.

As conchas devem abrir quando o marisco estiver pronto.

Hiato que não se sabe. Armadilha que se desarma.

Eu, na contramão dos botões.

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