Tenho atentado para as mulheres que escrevem.
Aquelas que ousam, ousaram ou ousarão.
Aquelas antes de mim, de agora e do futuro.
Tenho atentado para este gesto de coragem.
A força de reescrever a história a partir dos olhos delas. Necessidade de ser porta voz de si e de suas crenças. Desejo de gerar para além do óbvio .
Nossos corpos impressos no papel, navegando pelas redes, adornando nossas mentes.
Tenho atentado para mulheres que, como eu, teimam e escrevem.
No intervalo do trabalho, no editor do word na fila do supermercado, enquanto esperam.
Esperamos muito, há muito tempo!
Uma espera muda.
bruxas ou santas
princesas ou devassas
musas desavisadas
certas ou erradas
Pelas regras alheias
Meu estado inquieta. Escrevo sob a insubordinação da minha mente. Sem pseudônimos ou codinomes. Tenho sentido a revolta ancestral, secular, universal. Estou atrasada. Levantei tarde, perdi o bonde, mas o que me vale é que encontrei o caminho. Acordei do sono lerdo que mais alienava que restaurava. Um denso desequilíbrio.
Ontem, sentei no chão da cozinha e chorei.
Olhei os móveis novos que comprei em uma loja popular e me deixei abandonar ali, cercada de aglomerado por todos os lados. No castelo de teias que teci pacientemente, baixei as armas.
Uma cozinha diz muito. Uma casa com cozinha (minha casa com cozinha) diz mais. Não quero ser provisória, mas ainda não sou definitiva. Não arrisco a permanência.
Um apartamento alugado
Um jogo de café barato
Uma cozinha de aglomerado
Tenho ensaiado ser.
O primeiro livro no forno, tatuagem inaugural marcada para terça de tarde. Vou me riscar. Escrever em mim mesma este conto. Um beija-flor de liberdade e leveza, que pousa sobre meu ombro esquerdo.
Tenho atentado para as mulheres que escrevem, para aprender a contar a minha história.