terça-feira, 29 de junho de 2021

O primeiro vôo

 

Um beija flor pousa 

Sereno no meu ombro

Adorno desejado

Símbolo de vida

Leveza conquistada

A duras penas.


Um beija flor pousa 

Serelepe ao lado do peito

Bate suas asas

Ritmando meu coração

Beija minha orelha

Não sou flor!

Dormi mulher

Acordei colibri.

domingo, 27 de junho de 2021

vida de colibri




Tenho atentado para as mulheres que escrevem.


Aquelas que ousam, ousaram ou ousarão.


Aquelas antes de mim, de agora e do futuro.


Tenho atentado para este gesto de coragem.


A força de reescrever a história a partir dos olhos delas. Necessidade de ser porta voz de si e de suas crenças. Desejo de gerar para além do óbvio .


Nossos corpos impressos no papel, navegando pelas redes, adornando nossas mentes.


Tenho atentado para mulheres que, como eu, teimam e escrevem.


No intervalo do trabalho, no editor do word na fila do supermercado, enquanto esperam.


Esperamos muito, há muito tempo!


Uma espera muda.


bruxas ou santas


princesas ou devassas


musas desavisadas


certas ou erradas


Pelas regras alheias


Meu estado inquieta. Escrevo sob a insubordinação da minha mente. Sem pseudônimos ou codinomes. Tenho sentido a revolta ancestral, secular, universal. Estou atrasada. Levantei tarde, perdi o bonde, mas o que me vale é que encontrei o caminho. Acordei do sono lerdo que mais alienava que restaurava. Um denso desequilíbrio.


Ontem, sentei no chão da cozinha e chorei.


Olhei os móveis novos que comprei em uma loja popular e me deixei abandonar ali, cercada de aglomerado por todos os lados. No castelo de teias que teci pacientemente, baixei as armas.


Uma cozinha diz muito. Uma casa com cozinha (minha casa com cozinha) diz mais. Não quero ser provisória, mas ainda não sou definitiva. Não arrisco a permanência.


Um apartamento alugado


Um jogo de café barato


Uma cozinha de aglomerado


Tenho ensaiado ser.


O primeiro livro no forno, tatuagem inaugural marcada para terça de tarde. Vou me riscar. Escrever em mim mesma este conto. Um beija-flor de liberdade e leveza, que pousa sobre meu ombro esquerdo.  

Tenho atentado para as mulheres que escrevem, para aprender a contar a minha história.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Poesia


Vejo beleza no desfazer-se.

Desintegrar-se.

Esmaecer.

O caminho para deixar de existir

Rumo certo de tudo.

O oxigênio que nos pulmões mantém a vida

O oxigênio que ao léu

Enferruja

Oxida

Estraga.

A vida que se revigora

A vida que se finda.

Inerte

Consolo o destino

Amarro o discurso

Apaziguo o pensar


Que tudo é alfa e ômega

Que tudo é céu e inferno

Que tudo é vida e morte


Poesia, este recurso de imortalidade.






terça-feira, 8 de junho de 2021

Pelo Recife adentro



Saudade de andar no entorno do Mercado de São José.

De me enfronhar pelas ruas estreitas

Lotadas de sabor e de sol

Em algum momento um vendedor me ofereceria inhame

O outro gritaria, estridentemente:

- Abacaxi é um real!!!!

Saudade de conversar com a minha freguesa da batata doce.

- Vai de branca ou de roxa esta semana????

E o cheiro das especiarias

Das ervas

Das flores

E as sacolas pesando na minha mão

E mesmo assim, passando pelas castanhas,

Peço um quilo bem pesado

E o sol vai subindo, a pino

O suor desce pelos braços

E as goiabas passam por mim, encantando

A maresia trazida pela barraca dos peixes

A vontade de comprar uma rede...

Uma vassoura nova, talvez.

A última parada, o caldo de cana

- Com limão e muito gelo, por favor!!

Pra aplacar a saudade

Pra esquecer o calor

Pra matar esta saudade

Saudade de mim mesma.

Tempo bom

Do tempo em que o mise en place

Começava na rua da Praia.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

desfragmentando

 

Sentada no meu quarto

Divagando sobre a vida

Me dou conta que perdi o medo de ser só.

O cenário é tão simplório

Tendo em vista a tomada de consciência

Meu quarto numa sexta-feira à noite, meio chuvosa...

Num apartamento alugado, ainda sem “a minha cara”

Transitória.

Isso não foi assim, num piscar de olhos

Uma natureza lenta me impulsionou

Sinais de mim mesma

Fragmentos esquecidos de sonhos 

Displicentemente pelos cantos

Relicários

Quase objetos pré-históricos

Souvenires, 

Post its

Cartas 

Lembrando quem sou de fato.

Por vezes, me senti repetindo aquela história infantil... distribuindo migalhas de pão pelo caminho

“ser só” não é “estar”

E digo isso de cátedra

Já fui só.

Uma mulher sozinha está sem ela mesma

Gosto de utilizar a expressão DESINTEIRA

Uma mulher só 

Está partida ao meio

Ou em fragmentos.

Tenho vivido a aventura de (re)conhecer-me

Tenho me alegrado comigo mesma

Tenho chegado mais perto

Tenho a mim.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Junho


Traz a certeza do segundo fruto

Uma firmeza

Uma clareza


Um amor.

Luís.

Celebro a tua chegada

Posso sentir no peito 

A mesma emoção

A mesma alegria

Pelo menino que veio 

Pelo rebento que trouxe tanta luz. 

Luís.

São 23 anos 

O tempo passou 

E ao mesmo tempo

Está em nossas mãos

Vejo no homem, o menino 

No menino, o mundo todo.

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...