domingo, 3 de outubro de 2021

Passiflora

 

Acordei de um sonho ruim. Prefiro nem contar. É de arrepiar, de fazer chorar.

Vomitei o sonho no meu dia. 

Já começou atravessado. O céu estava azul, aquele infinito riscado de branco. Não combinava com meu espírito.

Mas também... nunca fui chegada a combinações. Sapato da mesma cor de bolsa, conjunto de saia e blusa... nunca foi a minha mesmo. Prefiro os desencontrados.

Um degradê de sentimentos

Camadas recheadas com memórias reviradas

Outras exumadas

De onde vem tanta lembrança?

 

Fui comprar o pão, fiz o café, sentei à mesa.

 

Insisto em manter a rotina. É uma maneira de apaziguar o devaneio que bate à porta da mente e tem vocação para incensar a alma.

Acordei deste pesadelo simbolicamente hoje.

Cada pessoa tem o seu, pensei no meu íntimo.

Ele me visita cada vez com menos frequência. Sinal que está se esvaindo, eu rogo.

São 8h da manhã, faz três horas que acordei e ainda não emiti uma palavra sequer. Mas a mente prolixa ensaia o monólogo. A plateia sou eu mesma. O Palco imenso para uma única cadeira ocupada.

Foi somente um sonho ruim, tento me convencer.

Rasgo o pão com a mão enquanto a serra aguarda ao lado. O café vai puro mesmo.

De doce, basta a vida, eu prego.

Eu não devia comer tanto pão, nem tanto glúten, nem tanto trigo.

Mastigo o pão e ele me remete ao sonho. Brinco comigo mesma.

O sonho não acabou. O de hoje veio recheado com creme de dor.

Mastigo o sonho de cada dia, engulo seu enredo e saio para a rua.

Mais tarde eu tomo uma passiflora.

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 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...