sexta-feira, 11 de abril de 2008

De forno a fogão



A gente só se conhece mesmo quando vai vivendo. E pensando. E se permitindo viver.
Tem coisa que está do lado. Tem gente que nunca saiu dali. Tem papéis que sempre foram encenados. E eu somente agora pude perceber.
Este post veio num raio. Tudo ao mesmo tempo na cabeça. Tão rápido, que tive vontade de sair correndo pra um computador, com medo de perder a lembrança tão a jato como ela veio.
Mas, eis meus senhores e minhas senhoras, que estou aqui reconstituindo meu pensamento.
Pois então. Eu tava pensando nestes papéis quando percebi a importância que ela tem na minha vida. Ela não. ELAS.
Minha experiência de uma década e meia de casada já me confere autoridade para emitir algumas impressões sobre esta relação às vezes promíscua, às vezes perversa, às vezes confortante.
Não somos amigas, nem muito menos estranhas.
Perdi as contas das vezes em que percebi que trocávamos de papel. Invejamo-nos mutuamente. Admiramos-nos também.
Aprendi muitas lições de como ser e de como não levar a vida.
Algumas histórias destes meus confrontos humanos poderiam elencar capítulos de livros.
Mas não quero aqui fazer da minha vida privada uma comédia.
Algumas roubaram minhas roupas.
Outras as alvejaram.
Houve as que entraram na categoria inocente. Uma delas nunca tinha visto um liquidificador na vida e tomava altos sustos quando ligava o equipamento. Não durou uma semana.
E as que respondiam pela categoria das dissimuladas: tentaram conquistar o amor do meu amor.
Lembro-me ainda de uma que flagrei na minha cama com um motorista de táxi.
Algumas bancaram bem o papel e o afeto de mãe.
Fui mãe de algumas também.
Como tudo na vida, houve as excêntricas. Não abriam a porta para estranhos, usavam um tubo de água sanitária por dia....
Mas, mesmo com toda esta “folha corrida”, um caso muito recente me intrigou.
Ela esperou duas semanas pra começar a trabalhar lá em casa. Ligou várias vezes no período para saber se estava tudo certo, chegou pontualmente no dia com uma mala que daria pra fazer uma viagem de uma semana. Sandálias havaianas cor-de-rosa, blusa da mesma cor, saia jeans.
Passou o dia com um sorriso nos lábios. Contou histórias da sua vida.
Ao final do dia, lavou suas roupas, deixou tudo arrumadinho e se despediu com um sonoro “até amanhã”. Deixou a mala num cantinho.
Sumiu. Sem rastro.
E o que eu faço com as havaianas cor de rosa?


5 comentários:

Dante Accioly disse...

Prima, para mim, está muito claro o que ocorreu. Depois de trabalhar o dia inteiro, lavar as próprias roupas, arrumá-las direitinho dentro da mala, despedir-se de vocês com um sonoro "até amanhã", eis que ela, a empregada doméstica, entrou no elevador do segundo andar e apertou o botão "P" (de pilotis). Quando as portas enfim se abriram, ela se deparou com o porteiro da noite, que, por ser da noite, não estava lá pela manhã, quando ela chegou para o trabalho. Trocaram sorrisos mútuos. Apaixonaram-se à primeira vista. A empregada doméstica e o porteiro então afogaram seus respectivos aparelhos celulares no balde d'água que havia atrás do jarro de samambaias do pilotis e disseram adeus ao passado de distintos serviços prestados aos moradores das Super Quadras Sul para viver uma aventura apaixonada no litoral baiano, onde, aliás, terão os primeiros de seus quatro filhos. O amor é lindo.

Antonio Ximenes disse...

Germana... tem gente que tem sorte mesmo.

Eu tinha uns quatro anos de idade e meu irmão tinha uns meses.

Minha Mãe precisava de alguém para tomar conta da gente com URGÊNCIA... mas não consguia encontrar ninguém de confiança.

Uma tia indicou uma pessoa.

A "Babá" chegou lá em casa... 1m57 de altura, um lenço branco amarrado na cabeça... um vestidinho de boneca... rs.

Era pra ficar só uns meses de experiência... até a minha Mãe se organizar.

Ela acabou ficando 14 (quatorze) anos.

Contava histórias de terror que ela tinha ouvido no interior.

"A Anta Esfolada"... "O Vaqueiro Fantasma"...

... contava história sobre "botijas enterradas".

Para aquietar menino danado... rs.

Foi minha "Mãe Preta".

Muito do mundo imaginário que carrego em mim... veio dela.

Mas.

Essas tuas experiências mereciam este port mesmo... rs

Abração.

Germana Accioly disse...

Meninos!
Cada um tem uma história pra contar.
=Dante, torço que ela seja feliz na nova vida e pelo menos me convide pra ser madrinha de um dos meninos.....
=Ximenes, sua história também vale um post! que o diga gilberto Freyre no Casa Grande e Senzala!
as mães de leite e as mães pretas são responsáveis por grande parte da miscigenação da nossa cultura.

beijos!!!

Leonardo Werneck disse...

Te linkei, ok?
beijos

Germana Accioly disse...

oi leonardo. obrigada! vou te linkar também.
beijo.

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