
Cinco gotas. Dois dedos de café.
Não precisa mexer.
Sete passos até o sofá.
Os pés arrastam-se pelo assoalho.
À frente da tv.
Range a poltrona.
Café forte demais.
A pantufa de tecido listrado vai polindo o chão.
Dez passos ao armário.
Geme a porta.
Três biscoitos.
Oito passos até a mesa.
Na cadeira está uma bolsa.
Quinze passos até o quarto.
A bolsa pendurada no cabide.
Passa lenta, lerda, pelo corredor.
O café ficou frio.
Aliás, morno.
Muito ruim.
Passos até a cozinha.
E as pernas teimam em não levantar os pés.
Dispensa o café na pia.
Cinco gotas. Dois dedos de café.
Não precisa mexer.
Cinco, ops, seis passos até o armário.
E a vida seca.
Os biscoitos esquecidos.
Mais uns passos idiotas para resgatá-los.
Tenta apressar-se.
É patético.
O café vai esfriar.
A TV ligada. Canal 7.
Range a poltrona.
Off.
Silêncio. Silêncio.
Silêncio sem eco.
Silêncio sem história pra contar.
Silêncio sem fertilizante.
Até o próximo passo....
3 comentários:
Nosso silencioso cotidiano contado em gotas... contado em passos.
Ele nem parece tedioso se a gente começar a fazer esquemas e gráficos... sobre quantos minutos dedicamos ao ócio... ou a nós mesmos.
Agora fiquei com vontade de comer biscoito, pão com manteiga e tomar café com leite... rs.
Abração.
Que texto maaaaaaaaaaaaassa! Prima, você se garante!!!!!!
Comendo biscoitos de polvilho crocantes - e deliciosos - e lendo teus textos como quem acompanha uma novela imperdível. É um fato.
Bem-vinda, querida Gê, ao meu novo mundo:
www.equalizadormanual.blogspot.com
Postar um comentário