Tem coisas que a gente carrega. Outras carregam a gente.
Há histórias que ficam entranhadas na memória. Outras buscam esconder-se entre os espaços vazios do cérebro. E talvez nunca se revelem.
Há as sensações que alojam-se na pele. Subcutâneas, muitas são hospedeiras, parasitas.
Os cheiros também são capazes de armazenar memória. Não é surpresa pra ninguém. Flores, perfumes, odores, ácidos, doces, cítricos, únicos.....
Carrego comigo várias dessas memórias. Elas ficam entulhadas em gavetas mal organizadas, alheatórias. Ontem, abri uma dessas gavetas que estão esborrando de histórias e amassei as antigas pra guardar mais uma.
É a memória de uma obra de arte.
É a memória de uma ficção.
Cumpri o ritual de ir ao cinema ontem. Um filme em que o homem nasce velho e morre moço.
E trouxe o drama comigo. Na reflexão de uma existência em fábula, encontrei a minha.
Tem gente que nasce velho, secular. A casca novinha, mas a alma de outros carnavais. Não julgo outros.
Minha alma me carrega. Me levanta, me orienta, me nina.
Minha alma me envelhece. É um ser compenetrado.
Às vezes, muito raramente, fujo dela. Dou piruetas, sacolejo, armazeno energia juvenil.
E então volto, abraço minh’alma.
Vou morrer velha, mesmo que hoje.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Carnaval pelo correio
Amigos, me mandem pelo correio
Um pouquinho de confete e serpentina,
Cheiro de cerveja misturado com batida de limão. Vocês encontram na Praça do Carmo, em Olinda.
Preciso do som de um trompete perdido da orquestra;
Os sons graves e agudos dos chocalhos nas costas do caboclo de lança;
Os raios do sol do sábado de Zé Pereira no dia do Galo da Madrugada, mas quero o sol do meio-dia, tinindo no juízo.
Quero um acorde de vassourinhas;
Quero meu sapato de carnaval cheio de lama, ficando furado no dedão.
Minha fantasia reciclada:
Aquela que usa a saia de bailarina com o corpete de melindrosa
E o chapéu de bruxa de antigos carnavais.
Quero dentro de um envelope
Umas purpurinas colhidas da rua do Bom Jesus
Pode ser da rua da Guia também.....
De Olinda, mandem um queijinho assado pra aplacar minha fome de folia,
E um caldo cana, pra restaurar minhas forças.
Quero, se possível, um fio do estandarte da Pitombeira.
“ Se a turma não saísse não havia carnaval.....”
Aqui já tenho as letras de Capiba,
Minhas lembranças momescas,
Os frevos de Nelson Ferreira....
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