Hoje acordei turbinada. Ligada na tomada. Totalmente. 220v.
Estou escutando tudo. Vendo além, sentindo à flor da
pele.
Não, não é nenhum tipo de droga. Não é qualquer bebida
estimulante.
Hoje eu acordei comigo mesma. EU SOU ASSIM.
Bom dia,
senhora. Eu, uma mulher de 41 anos, um metro e meio, uns quilos a mais. Muito prazer.
Tomei café sozinha. Não. Tomei café na minha própria
companhia. Saí às ruas da minha cidade acompanhada de mim mesma.
Senti que comigo tudo é mais engraçado. Eu me entendo muito
bem. Eu me faculto a palavra. Eu sou protagonista da minha história.
Juntas, resolvemos coisas. Cartório, copiadora, banco.
Coisas muito chatas de se fazer estavam apaziguadas.
Era eu comigo mesma.
Voltei pela rua de pedestre. Andar por uma rua sem carros me faz sentir mais cidadã. Me faz perceber que algumas coisas podem mudar na
vida. Ruas em que o poder é dos sapatos. Mocassins esmerados, sapatilhas
elegantes, tênis acelerados. Minha sandália dourada, quase hippie.
Parei nas vitrines que quis. Ignorei o que não tem sentido pra mim. Ouvi a conversa do lado. Respondi a uma pesquisa sobre perfumes.
O sol que vem manso depois da chuva não castigava tanto. Eram 10 da manhã.
O sol que vem manso depois da chuva não castigava tanto. Eram 10 da manhã.
Na frente da loja popular, ela me chamou pra entrar. Tava
tudo tão bom que eu nem hesitei. Provei umas peças, comedida. Ela me
insuflando. Ficou lindo! Você precisa cuidar de você.
Ela é minha porção mulherzinha.
Ela é minha porção mulherzinha.
Ouvi a minha nova voz.
Agora mesmo é ela quem está escrevendo. Decidiu não ver o
jogo de futebol. Concordei plenamente. Sinto um tédio vendo aquele bando de homem correndo
atrás de uma bola. Pra cima e pra baixo. Pra baixo e pra cima. Parece uma
canção de ninar. Uma rede balançando. Findo dormindo. Saio pra fazer pipoca. Vou cuidar das plantas.
Não preciso mais ir aonde os outros vão. Preciso ir onde
vou. Onde quero.
E quiçá amanhã eu acorde e tenha a grata surpresa de ver que
ela se mantém aqui do meu lado.
Andava sumida, você.
Andava sumida, você.
3 comentários:
Muito bom, hehehe
preciso urgente de um encontro desses.
chego a não me reconhecer, me sentindo envelhecer entre um cômodo e outro. me pergunto se é o espelho que envelhece. mas desconfio que seja mesmo esse desencontro de mim.
tu escreve tão tão bonito, e faz parece tão fácil.
tão bom te conhecer!
um beijo.
Quel! que lindo, que profundo! sinto muito não conviver mais contigo.
Vamos nos encontrar este finde?
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