Faz dias que as teclas me cobram um texto. Há dias que a cabeça rumina. São frases, são dores. Escrever sobre uma dor que é maior que todas. Escrever como mãe.... escrever como mulher. Escrever como militante... escrever como poeta.
Esta última é a alcunha mais difícil de carregar. De todas, a que não está estampada no meu corpo nem nos meus gestos. De todas, a que melhor se posiciona, de todas, a mais invisível e a mais contundente das minhas personas. De todas, a mais visceral.
A mãe sabe onde pisa. A mulher, aprende novos caminhos. A militante, traçou suas convicções. A poeta, transita entre todas. Se ressente, se emociona, se desmancha e se refaz. A poeta não tem estratégia, não tem certezas. É carne viva se construindo. Não tem métrica, nem rima. Uma rama que se esgueira por entre os espaços, que fixa suas raízes e se contorce.
Faz dias que meu sangue envenenado pelo ódio alheio, pelo descaso e pela injustiça segue por veias aleatórias, como quem vaga por uma rua escura numa cidade vazia.
Um poema atravessado pela dor do mundo. Uma semana esculpida pela violência, mapa astral tenebroso de um tempo.
#Justiçapormiguel
sábado, 6 de junho de 2020
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