Os botões abriram do dia pra noite, na contramão de mim.
Os botões, que anteontem estavam fechados, floriram.
Brotaram.
Floresceram.
Eu, na contramão dos botões.
Eu, na crosta que nem marisco.
Plantei meu coração num terreno pouco fértil, talvez.
Reguei, dei sol e chuva para as folhas.
Mas nasceram, no lugar de flores, mariscos herméticos.
Fecho os olhos e imagino esta figura de linguagem.
Um vaso com uma plantinha de longas folhas verdes, de onde
brotam conchas.
Um híbrido. Lugar nenhum.
De onde não se espera o frescor de um perfume, nem frutos
doces.
Invejo, quase, os botões.
Só não os invejo mais porque não sei o que fazer em
flor.
O que fazer com o tempo ao léu, onde depositar o orvalho do
alvorecer.
Como lidar com a brisa...
Os botões abriram e o ciclo se acelera.
Em breve as pétalas vão adornar a mesa, amareladas pelo
tempo inevitável.
As conchas devem abrir quando o marisco estiver pronto.
Hiato que não se sabe. Armadilha que se desarma.
Eu, na contramão dos botões.