Um corpo que se move pelo tapete de lama do Capibaribe. Vai à lama como um guaiamum que busca o seio da vida, sendo a areia molhada e infectada seu habitat. É acolhido pelo braço da maré baixa. Um corpo menino, olhar de quase-bicho, se esgueirando pelo mangue.
Vejo as imagens brutas pela tela da TV, fria reprodução do mundo lá fora. Dentro da minha ilha, clima gélido, sinto o coração tremular. Play, pause, stop. Como escolher as melhores imagens do momento em que uma criança é escorraçada?
O menino agora tem o corpo todo da mesma cor. Braços e pernas brilham. Uma segunda pele revestiu o corpo de cinza. Suas roupas absorveram a areia molhada. Parece-me um super-herói. Um mutante. Um andróide. Suas vestes cibernéticas, imunes às pedradas que voam das margens, como meteoros carregados de ódio.
Palavras fortes, num idioma excludente, são fabricadas pelos que mantém o domínio da vida na calçada do cine São Luís.
Sigo examinando as imagens. O câmera faz um zoom e consigo finalmente perceber o olhar de pavor. Ele não tem mais de 12 anos. Vira a cabeça para trás e confirma que está fora da linha de fogo. Os lanceiros são homens e mulheres bem vestidos, cabelos bem cortados, bolsas apertadas ao corpo, carteiras resguardadas. São adultos fortes, covardes.
Entre Aurora e o Sol. Os cais são como Terras proibidas. Não há vestígio de aconchego. Resta a enlameada mão/mãe do Capibaribe. O cartão postal às avessas é a rua que tem o nome do nascer do sol.
Vejo as imagens brutas pela tela da TV, fria reprodução do mundo lá fora. Dentro da minha ilha, clima gélido, sinto o coração tremular. Play, pause, stop. Como escolher as melhores imagens do momento em que uma criança é escorraçada?
O menino agora tem o corpo todo da mesma cor. Braços e pernas brilham. Uma segunda pele revestiu o corpo de cinza. Suas roupas absorveram a areia molhada. Parece-me um super-herói. Um mutante. Um andróide. Suas vestes cibernéticas, imunes às pedradas que voam das margens, como meteoros carregados de ódio.
Palavras fortes, num idioma excludente, são fabricadas pelos que mantém o domínio da vida na calçada do cine São Luís.
Sigo examinando as imagens. O câmera faz um zoom e consigo finalmente perceber o olhar de pavor. Ele não tem mais de 12 anos. Vira a cabeça para trás e confirma que está fora da linha de fogo. Os lanceiros são homens e mulheres bem vestidos, cabelos bem cortados, bolsas apertadas ao corpo, carteiras resguardadas. São adultos fortes, covardes.
Entre Aurora e o Sol. Os cais são como Terras proibidas. Não há vestígio de aconchego. Resta a enlameada mão/mãe do Capibaribe. O cartão postal às avessas é a rua que tem o nome do nascer do sol.
Naquela tarde, à hora pouso, uma figura humana, um menino franzino, avorou-se em sair da lama. Uma linda imagem em contra-luz, contraste de cores pardas. Choque social.
O Câmera encontrou um furo. O repórter, talvez conquiste um prêmio com o flagrante.
À beira deste ecossistema, uma fábrica de meninos, que nem sempre viram homens. São assolados tantas vezes pelo mal do extermínio....Nascer já é um privilégio. Vacinados contra o direito universal, sobrevivem aos primeiros anos quase por acaso, talvez por pura teimosia. Marginais do rio-paisagem, não vivem. Teimam.
O Câmera encontrou um furo. O repórter, talvez conquiste um prêmio com o flagrante.
À beira deste ecossistema, uma fábrica de meninos, que nem sempre viram homens. São assolados tantas vezes pelo mal do extermínio....Nascer já é um privilégio. Vacinados contra o direito universal, sobrevivem aos primeiros anos quase por acaso, talvez por pura teimosia. Marginais do rio-paisagem, não vivem. Teimam.
3 comentários:
Não sei nem por onde começar. Não sei de pela dureza dessa Lama, se pela sensibilidade da Sinhá Moça ou se pela poesia dos pensamentos que voam. Vou começar assim: eu me identifico demais com tudo o que você escreveu em cada um dos textos. Ainda não consegui criar a casca grossa que nossa profissão exige para ignorar os meninos que bóiam nos rios imundos do país. Ainda não consegui abafar por completo o choro que vez ou outra rasga minha garganta em uma erupções de soluços e lágrimas (embora cada vez mais raras). Ainda não consegui esquecer o sabor doce das notas do violão que enconstei numa gaveta qualquer do meu passado. Por tudo isso, minha amada prima, por me sentir tão próximo e íntimo de tudo o que você escreve, vou voltar aqui diariamente. Para ler os textos que gostaria de ter escrito. Um beijo muito grande. Parabéns pelo blog.
Não Germana... ...você não está aprendendo a ser... ...está nos ensinando a ser!
Ensina-nos a ser ao nos fazer sentir a brutalidade quase lírica da vida...
...como mudar este quadro? ...pelo menos a moldura?...
Provavelmente como você está fazendo:
...sentindo...
...revivendo...
...obrigando-nos a vermo-nos a engolir nossa própria crueldade...
...obrigado linda moça gentil...
Linda pessoa de alma tão linda que nos embarga a voz e nos molha o rosto, em geral tão frívolo e indiferente...
PS- Publicado em 2007... ...já estamos no fim de 2011...
...bem pior em 2011...?
Obrigado querida...
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