Sendo menina, não sabia brincar de gente grande.
Correu por entre tantos caminhos, querendo se esconder.
Atracou os sonhos em portos seguros fantasiando ser o capitão,
Deu de cara com a vida na esquina seguinte.
Não viva sem escrever...
Não cabia em sua mente tantos e tantos pensamentos.
Escrever era uma forma de acalmar os bichinhos que pintam e bordam dentro da cabeça.
Ei-la aqui de novo.
Dependente do sonho e presa à realidade.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Há tempo
"Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de se afastar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de silêncio, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e há tempo para a paz".
Quando eu era menina, às vezes fingia dormir.
Era pra chamar atenção, claro.
E quando todos insistiam em me acordar, eu simulava um sono profundo.
Depois, quando esqueciam de mim, deixavam meu capricho de lado, eu ficava pensando qual seria a hora certa de "acordar".
Então, me dava vontade de participar das conversas, das brincadeiras.
Dava vontade de ver "Os trapalhões"....
E então eu esquecia que tava dormindo.
Anos mais tarde quando as festas e os amigos ficara mais importantes, a vontade que dava era de nunca sair dos embalos.
E eu ouvia meu pai sabiamente e despretenciosammente dizer:
- Sai sempre da festa no seu melhor.
Muitas vezes eu fui a última a sair, ao apagar das luzes.
Com o tempo fui mesmo preferindo sair quando ainda estamos lúcidos.
Pois é....
Agora vejo que é hora de deixar este blog, perdê-lo de vista.
Dar um tempo dos meus queridos escritos pra fazer outra coisa.
Vou sair de fininho, como quem quer ficar.
Deixando minhas digitais por todos os lados e as pistas de quem eu sou.
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de se afastar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de silêncio, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e há tempo para a paz".
Quando eu era menina, às vezes fingia dormir.
Era pra chamar atenção, claro.
E quando todos insistiam em me acordar, eu simulava um sono profundo.
Depois, quando esqueciam de mim, deixavam meu capricho de lado, eu ficava pensando qual seria a hora certa de "acordar".
Então, me dava vontade de participar das conversas, das brincadeiras.
Dava vontade de ver "Os trapalhões"....
E então eu esquecia que tava dormindo.
Anos mais tarde quando as festas e os amigos ficara mais importantes, a vontade que dava era de nunca sair dos embalos.
E eu ouvia meu pai sabiamente e despretenciosammente dizer:
- Sai sempre da festa no seu melhor.
Muitas vezes eu fui a última a sair, ao apagar das luzes.
Com o tempo fui mesmo preferindo sair quando ainda estamos lúcidos.
Pois é....
Agora vejo que é hora de deixar este blog, perdê-lo de vista.
Dar um tempo dos meus queridos escritos pra fazer outra coisa.
Vou sair de fininho, como quem quer ficar.
Deixando minhas digitais por todos os lados e as pistas de quem eu sou.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
um dia remoto
O vapor emerge do cimento, regula a velocidade dos gestos, retarda os movimentos. Por fora, tudo se desmancha em suor. O brilho da pele engordurada cintila. Altera os sentidos.
A vida passa lenta, vaga, imensa dentro daquelas horas de verão.
Longe da brisa do litoral, o que se vê é a agonia. As roupas que desfilam pregadas nos corpos pelas ruas, os corpos que imaginam desfilar livres dos algodões, sedas, popelines....
Pelos poros são expulsas todas as toxinas, mas também o cheiro forte da cerveja, a cachaça pouco degustada, tudo se esvai com o calor.
O tempo esquenta, parece que vai chover. Dentro dos ônibus, braços e pernas se tocam e parecem grudar uns nos outros. Braços e pernas. Por entre as saias, filetes escorrem lânguidos, insistentes.
Ela passa as mãos pelo rosto, sente uma ardência infeliz. Numa sensação de torpor, misturando um sono quase incontrolável a uma irritação aparente, ela levanta-se, pede parada. Desce no centro da cidade e caminha. Faz um traçado já automático, robótico. Não olha mais as pichações nas ruas, os pedintes imundos que fazem ponto sempre no mesmo lugar, o cartaz daquele cinema que está caindo aos pedaços.... nada. Ela não vê nada. Caminha como se pertencesse a um mundo isento de som e de luz.
Por dentro, trovões, tempestades. Repete lentamente pela enésima vez as palavras que ouvira. Busca outra significação. Ouve novamente dentro da cabeça aquele diálogo. E imagina como se libertar. Tudo denso. Denso como se uma faca pudesse cortar uma fatia.
Ah, se pudesse! Cortaria aquela fatia que dói, a da culpa.
Os cabelos agora pesam, ela os prende acima da cabeça. Alguns fios, já molhados, descem pelo rosto.
O amor. Todo mundo diz que o amor é fundamental. Que sem ele não se vive, nem se sobrevive.
O amor como um sentimento que alimenta. Um complexo vitamínico, um suplemento que chega para salvar a vida.
Ela não aceitou na receita.
Passou do ponto, mexeu demais..
O coração batendo forte, ela impassível. Segura a bolsa firme com a mão direita, sobe as escadas, pega a chave no bolso da frente, abre o primeiro cadeado. Depois, o segundo, a grade e por fim a porta de entrada. Guarda as chaves no mesmo lugar, fecha o zíper. Sempre no mesmo bolso, da mesma bolsa.
Da mesma bolsa que combina com os sapatos pretos. “Sapatos pretos, bolsas pretas”, pensava ela.
Mas, na vida, a combinação foi outra. Foi como se ela tivesse calçado sapatos listrados em preto e branco e escolhido uma bolsa colorida, estampada, pra acompanhar. Na vida, ela não tinha tanto método assim.
As palavras dele ainda ecoavam na sua cabeça. Difícil findar uma história que ainda não acabou. Difícil escrever o ponto final no meio da frase, quando se está com a voz no alto, a boca ainda aberta.
Ela senta. Fica estática. A vida deve ser assim mesmo. Uma sucessão de insucessos. Até chegar ao fim. Onde é o fim? Quem dá o fim? E depois do fim?
Recolhe as correspondências, organiza os jornais, lê as manchetes sem vontade.
E depois.....
Depois é um longo vácuo, uma romaria sem santo, sem igreja e sem fé.
A vida passa lenta, vaga, imensa dentro daquelas horas de verão.
Longe da brisa do litoral, o que se vê é a agonia. As roupas que desfilam pregadas nos corpos pelas ruas, os corpos que imaginam desfilar livres dos algodões, sedas, popelines....
Pelos poros são expulsas todas as toxinas, mas também o cheiro forte da cerveja, a cachaça pouco degustada, tudo se esvai com o calor.
O tempo esquenta, parece que vai chover. Dentro dos ônibus, braços e pernas se tocam e parecem grudar uns nos outros. Braços e pernas. Por entre as saias, filetes escorrem lânguidos, insistentes.
Ela passa as mãos pelo rosto, sente uma ardência infeliz. Numa sensação de torpor, misturando um sono quase incontrolável a uma irritação aparente, ela levanta-se, pede parada. Desce no centro da cidade e caminha. Faz um traçado já automático, robótico. Não olha mais as pichações nas ruas, os pedintes imundos que fazem ponto sempre no mesmo lugar, o cartaz daquele cinema que está caindo aos pedaços.... nada. Ela não vê nada. Caminha como se pertencesse a um mundo isento de som e de luz.
Por dentro, trovões, tempestades. Repete lentamente pela enésima vez as palavras que ouvira. Busca outra significação. Ouve novamente dentro da cabeça aquele diálogo. E imagina como se libertar. Tudo denso. Denso como se uma faca pudesse cortar uma fatia.
Ah, se pudesse! Cortaria aquela fatia que dói, a da culpa.
Os cabelos agora pesam, ela os prende acima da cabeça. Alguns fios, já molhados, descem pelo rosto.
O amor. Todo mundo diz que o amor é fundamental. Que sem ele não se vive, nem se sobrevive.
O amor como um sentimento que alimenta. Um complexo vitamínico, um suplemento que chega para salvar a vida.
Ela não aceitou na receita.
Passou do ponto, mexeu demais..
O coração batendo forte, ela impassível. Segura a bolsa firme com a mão direita, sobe as escadas, pega a chave no bolso da frente, abre o primeiro cadeado. Depois, o segundo, a grade e por fim a porta de entrada. Guarda as chaves no mesmo lugar, fecha o zíper. Sempre no mesmo bolso, da mesma bolsa.
Da mesma bolsa que combina com os sapatos pretos. “Sapatos pretos, bolsas pretas”, pensava ela.
Mas, na vida, a combinação foi outra. Foi como se ela tivesse calçado sapatos listrados em preto e branco e escolhido uma bolsa colorida, estampada, pra acompanhar. Na vida, ela não tinha tanto método assim.
As palavras dele ainda ecoavam na sua cabeça. Difícil findar uma história que ainda não acabou. Difícil escrever o ponto final no meio da frase, quando se está com a voz no alto, a boca ainda aberta.
Ela senta. Fica estática. A vida deve ser assim mesmo. Uma sucessão de insucessos. Até chegar ao fim. Onde é o fim? Quem dá o fim? E depois do fim?
Recolhe as correspondências, organiza os jornais, lê as manchetes sem vontade.
E depois.....
Depois é um longo vácuo, uma romaria sem santo, sem igreja e sem fé.
terça-feira, 16 de junho de 2009
O céu daqui
Queridos amigos de longe,
Por aqui, já consigo deixar no pendura uma escova que faço no cabelo, ou o trabalho da manicure.
Também já recebo alguns sorrisos da moça que é caixa na padaria.
O motorista do ônibus de manhã já abre a porta na parada com um sonoro Bom Dia.
O japonês da mercearia na quadra de baixo não me deixa mais pegar peso. Sempre me ajuda com as compras da semana.
Bom sinal, não?
No início, estas mesmas caras eram tão impessoais que às vezes eu brincava de estar morando numa terra de andróides. Era a minha fantasia pra não entrar em parafuso.
Mas não é isso não, meus amigos. Com o tempo eu fui compreendendo.
É que este povo que veio parar aqui, na sua maioria, tem suas raízes longe, longe e devem ter aprendido a se defender do preconceito fechando a cara. A cabeleireira é do Cariri cearense. A manicure veio do Piauí. O motorista de ônibus veio do Norte. O japonês da mercearia, obviamente, veio do Japão.
O céu daqui é mesmo de um azul especial como dizem.
Eu me sinto contemplada com o por do sol que enrubesce as nuvens lá pelas cinco da tarde.
A lua cheia parece maior e mais viva neste Planalto. Penso que ela é mais feliz aqui por não competir com uma profusão de arranha-céus.
Mas não mudei, acreditem. Ainda adoro barulho de gente dentro de casa, gosto de acordar cedo e tomar café da manhã com os meninos. Eles é que têm acordado cada vez mais tarde....
No bar preferido, um árabe tradicional daqui, quando passamos muito tempo sem aparecer, o garçom ( que é de Sobral, no Ceará) pergunta:
-Estavam passando uns tempos na terrinha????
É isso.
Espero vocês todos por aqui.
Se tem uma coisa que falta nesta terra são meus amigos.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Brasília
O oco do mundo está ficando cheio.
A menina da rua de baixo nunca viu o mar. Vinte anos de idade e nunca viu o mar.
Nunca encheu os olhos de verde água, nunca arrastou os pés na areia fina e branca. Nunca sentiu o sal seco que estica a pele às quatro da tarde, depois que o sol esfria...
No outro lado da rua a manicure que morava no sertão veio de ônibus pra cá. Dez dias de viagem comendo poeira e alimentando o sonho. Nunca viu o mar, mas anda de metrô.
O barbeiro fugiu da miséria à beira mar e trouxe toda a família num ônibus fretado. Pai, mãe, irmãos, cunhadas, sobrinhos... umas trinta pessoas, ele acha. Hoje, tem advogado, enfermeiro formado.
E as ondas do mar continuam a quebrar.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Não cabe no meu peito toda a minha vida.
Suas faíscas saem pelos olhos e se infiltram pelos poros.
Não cabem minhas histórias somente na minha vida.
Elas se envolvem em outras tal qual hera no muro do vizinho.
Emprestei meu sangue. Doei, na verdade.
E meus filhos o levarão às suas vidas.
Não cabe a mim nada que seja meu.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A resposta (por Rinaldo)
Agora o tempo se avoluma na porta da frente de casa
Aumenta sua presença fora, prestes a bater sua mão em nossa caixa de música guardada
Ousa o segredo das coisas e escuta o simples andar de uma fera a anunciar o visitante
Seu volume é de intensa forma recriada em dois mundos, um atento flerte da cor encarnada,
esguio corpo de gente dentro de roupa, outro pensativo descanso sobre as almofadas de pano que
aquece os sonhos.
Agora a casa se avoluma diante da porta
e um casal não reluta em abrir as vontades
decididas mãos desvendam os segredos e mexem o trinco da mecãnica das horas
Abrem com um piscar dos olhos a dimensão do espaço e a presença diante dos olhos é de cerimônia
Bom dia
o tempo urge
Parabéns.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
bodas de cristal
São bodas de cristal
Sapatinhos esquecidos nas escadas,
Encantos que se quebraram à meia noite
Gritos de crianças pelos corredores
São bodas de cristal
Um universo real
São canções, aromas, cores.
Transito pela história de amor
Não são contos de fadas
São bodas de cristal
Debutando pela vida já desbotada
Enfeitando a rotina viciada
Inaugurando outro frescor
Pintando com outras cores
O sentimento maior
São bodas de cristal
Não tão simplórias assim
Sinto um pouco de cada sabor
Dos amargos aos delicados
Maturam os sentimentos
São bodas de cristal
E, no sonho dourado, peço à fada madrinha que transforme
Os trapos em lírios.
As crianças não correm mais pela casa.
Enfrentei o frio e peguei o sapatinho de cristal na escada.
Da sacada, vejo a vida passar.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Equilíbrio
Sinto como se minhas veias mudassem de curso.
Não. Não é somente isso.
Sinto como se de repente minha raiz se desprendesse de mim.
É isso.
Meus dois frutos caíram no chão e buscam terras férteis para criar raiz.
São ainda tão verdinhos que buscam fincar suas raízes novinhas à minha sombra.
São ainda tão imaturos que necessitam do néctar que produzo.
Mas começaram SIM a se desprender.
E a negar minha existência.
Percebo tudo isso tão claramente, que chega a ser irônico.
Percebo o nosso amor imutável, indestrutível, incomensurável.
Contudo, há um interminável embate que faz a vida ser real, que encanta tanto quanto emudece a existência.
Outro dia eu tava falando pra eles sobre Freud.
Falei da lenda de Édipo. Falei da cultura grega e de como Freud se apropriou das lendas pra explicar as relações com a vida.
Agora eles estão desconstruindo seu próprio Édipo. Eu sei, eu sei. Para o bem de todos nós e para a felicidade da vida de homens adultos e maduros.
Mas como dói!
Ver meus tesouros me olhando com desconfiança, descobrindo minhas falhas tão, tão humanas(!) e reconhecendo em mim a primeira expressão feminina da vida.
E como é lindo!
Os extratos da vida que passamos nos arranhando.
Concentrados de paixão e de ódio.
Sei que esta história terá um final feliz. Sou uma otimista.
Mas os olhares pequeninos, que eu tanto velo, ainda me entram como flexas.
quinta-feira, 19 de março de 2009
cega e surda
Acreditem, sou tímida. E às vezes a timidez me deixa meio surda.
É a mais pura realidade.
Quando eu era menina, usava óculos.
Escondia os óculos. Enterrava os óculos.Queria me ver livre deles.
Tinha, no máximo, uns seis anos.
Quando não, vencida pela armadura de resina, entrava no chuveiro e via tudo nublado. Eram as lentes brincando de esconder.....
Sempre que eu trocava de modelo, ficava surda. A vergonha era tamanha de ir pra escola de óculos novos que ficava sem ouvir nada. Não olhava nem pros lados.
Os professores ficavam furiosos, minha mãe achava que era desdém.
Outro dia, mesmo sem óculos, fiquei assim.
O cara do enroladinho de peito de peru me fez uma pergunta. Eu, surda, resolvi responder que sim. E ele me entregou o lanche pra viagem.
Com as sacolinhas nas mãos, fiquei com mais vergonha ainda de sentar na mesa da lanchonete e fui comer na rua, em frente ao prédio onde trabalho.
Nada bucólico.
No primeiro banco, um formigueiro me atacou. Eram enormes!
Tentando ainda arejar a mente, fui sentar-me mais longe.
Foi inevitável ouvir a conversa de um casal que acabava um namoro.
Nestas horas, queria ser surda.
É a mais pura realidade.
Quando eu era menina, usava óculos.
Escondia os óculos. Enterrava os óculos.Queria me ver livre deles.
Tinha, no máximo, uns seis anos.
Quando não, vencida pela armadura de resina, entrava no chuveiro e via tudo nublado. Eram as lentes brincando de esconder.....
Sempre que eu trocava de modelo, ficava surda. A vergonha era tamanha de ir pra escola de óculos novos que ficava sem ouvir nada. Não olhava nem pros lados.
Os professores ficavam furiosos, minha mãe achava que era desdém.
Outro dia, mesmo sem óculos, fiquei assim.
O cara do enroladinho de peito de peru me fez uma pergunta. Eu, surda, resolvi responder que sim. E ele me entregou o lanche pra viagem.
Com as sacolinhas nas mãos, fiquei com mais vergonha ainda de sentar na mesa da lanchonete e fui comer na rua, em frente ao prédio onde trabalho.
Nada bucólico.
No primeiro banco, um formigueiro me atacou. Eram enormes!
Tentando ainda arejar a mente, fui sentar-me mais longe.
Foi inevitável ouvir a conversa de um casal que acabava um namoro.
Nestas horas, queria ser surda.
sexta-feira, 6 de março de 2009
Viva, Cora Coralina!
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
o curioso caso da alma
Tem coisas que a gente carrega. Outras carregam a gente.
Há histórias que ficam entranhadas na memória. Outras buscam esconder-se entre os espaços vazios do cérebro. E talvez nunca se revelem.
Há as sensações que alojam-se na pele. Subcutâneas, muitas são hospedeiras, parasitas.
Os cheiros também são capazes de armazenar memória. Não é surpresa pra ninguém. Flores, perfumes, odores, ácidos, doces, cítricos, únicos.....
Carrego comigo várias dessas memórias. Elas ficam entulhadas em gavetas mal organizadas, alheatórias. Ontem, abri uma dessas gavetas que estão esborrando de histórias e amassei as antigas pra guardar mais uma.
É a memória de uma obra de arte.
É a memória de uma ficção.
Cumpri o ritual de ir ao cinema ontem. Um filme em que o homem nasce velho e morre moço.
E trouxe o drama comigo. Na reflexão de uma existência em fábula, encontrei a minha.
Tem gente que nasce velho, secular. A casca novinha, mas a alma de outros carnavais. Não julgo outros.
Minha alma me carrega. Me levanta, me orienta, me nina.
Minha alma me envelhece. É um ser compenetrado.
Às vezes, muito raramente, fujo dela. Dou piruetas, sacolejo, armazeno energia juvenil.
E então volto, abraço minh’alma.
Vou morrer velha, mesmo que hoje.
Há histórias que ficam entranhadas na memória. Outras buscam esconder-se entre os espaços vazios do cérebro. E talvez nunca se revelem.
Há as sensações que alojam-se na pele. Subcutâneas, muitas são hospedeiras, parasitas.
Os cheiros também são capazes de armazenar memória. Não é surpresa pra ninguém. Flores, perfumes, odores, ácidos, doces, cítricos, únicos.....
Carrego comigo várias dessas memórias. Elas ficam entulhadas em gavetas mal organizadas, alheatórias. Ontem, abri uma dessas gavetas que estão esborrando de histórias e amassei as antigas pra guardar mais uma.
É a memória de uma obra de arte.
É a memória de uma ficção.
Cumpri o ritual de ir ao cinema ontem. Um filme em que o homem nasce velho e morre moço.
E trouxe o drama comigo. Na reflexão de uma existência em fábula, encontrei a minha.
Tem gente que nasce velho, secular. A casca novinha, mas a alma de outros carnavais. Não julgo outros.
Minha alma me carrega. Me levanta, me orienta, me nina.
Minha alma me envelhece. É um ser compenetrado.
Às vezes, muito raramente, fujo dela. Dou piruetas, sacolejo, armazeno energia juvenil.
E então volto, abraço minh’alma.
Vou morrer velha, mesmo que hoje.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Carnaval pelo correio
Amigos, me mandem pelo correio
Um pouquinho de confete e serpentina,
Cheiro de cerveja misturado com batida de limão. Vocês encontram na Praça do Carmo, em Olinda.
Preciso do som de um trompete perdido da orquestra;
Os sons graves e agudos dos chocalhos nas costas do caboclo de lança;
Os raios do sol do sábado de Zé Pereira no dia do Galo da Madrugada, mas quero o sol do meio-dia, tinindo no juízo.
Quero um acorde de vassourinhas;
Quero meu sapato de carnaval cheio de lama, ficando furado no dedão.
Minha fantasia reciclada:
Aquela que usa a saia de bailarina com o corpete de melindrosa
E o chapéu de bruxa de antigos carnavais.
Quero dentro de um envelope
Umas purpurinas colhidas da rua do Bom Jesus
Pode ser da rua da Guia também.....
De Olinda, mandem um queijinho assado pra aplacar minha fome de folia,
E um caldo cana, pra restaurar minhas forças.
Quero, se possível, um fio do estandarte da Pitombeira.
“ Se a turma não saísse não havia carnaval.....”
Aqui já tenho as letras de Capiba,
Minhas lembranças momescas,
Os frevos de Nelson Ferreira....
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Um futuro inviável
Minha solidão é imensa.
O céu em prantos faz coro com meu coração.
E neste instante, penso na solidão do meu amigo eliminado.
Como será que se sente um homem em frente ao seu algoz?
No momento derradeiro, cano de ferro apontado pro peito,
Pólvora prestes a explodir.
- É VOCÊ QUEM EU QUERO, RAPAZ! (eis as últimas palavras que ele ouviu).
Uma solidão completa, impotência.
Um silêncio sepulcral, talvez.
Ou, quem sabe, passe rapidamente em sua mente o filme da vida:
Sonhos realizados, frustrações, futuro inviável.
Já faz alguns dias que ele se foi. Manoel Mattos foi assassinado.
Eu ainda não acredito no que dizem todos os jornais. Talvez ele saia de um esconderijo a qualquer momento.
Esta dor, que bate a minha porta e que em vão expurgo. Talvez seja a dor da lucidez. Não há mais fantasia. É tudo verdade. A voz que escuto longe, a imagem deste homem me aparece quando fecho os olhos. São artifícios.
E então, minha solidão em algum momento talvez se irmane com a solidão dele, prestes a ter seu coração dilacerado por um tiro. Um coração de homem.
Minha solidão de ser tão humana, demasiadamente humana.
Minha solidão de ser tão pouco humana.
Minha solidão por não ter feito nada.
O céu em prantos faz coro com meu coração.
E neste instante, penso na solidão do meu amigo eliminado.
Como será que se sente um homem em frente ao seu algoz?
No momento derradeiro, cano de ferro apontado pro peito,
Pólvora prestes a explodir.
- É VOCÊ QUEM EU QUERO, RAPAZ! (eis as últimas palavras que ele ouviu).
Uma solidão completa, impotência.
Um silêncio sepulcral, talvez.
Ou, quem sabe, passe rapidamente em sua mente o filme da vida:
Sonhos realizados, frustrações, futuro inviável.
Já faz alguns dias que ele se foi. Manoel Mattos foi assassinado.
Eu ainda não acredito no que dizem todos os jornais. Talvez ele saia de um esconderijo a qualquer momento.
Esta dor, que bate a minha porta e que em vão expurgo. Talvez seja a dor da lucidez. Não há mais fantasia. É tudo verdade. A voz que escuto longe, a imagem deste homem me aparece quando fecho os olhos. São artifícios.
E então, minha solidão em algum momento talvez se irmane com a solidão dele, prestes a ter seu coração dilacerado por um tiro. Um coração de homem.
Minha solidão de ser tão humana, demasiadamente humana.
Minha solidão de ser tão pouco humana.
Minha solidão por não ter feito nada.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
invenção
Inventei um sonho de granito e concreto.
Era um sonho verde, com flores no jardim.
Tinha um cachorro no quintal e meu filho brincando de cavalinho na mangueira carregada.
Inventei um sonho, confesso.
Com passarinhos cantando e um ventinho frio quando a noite caía.
Era um sonho azul, com amigos na varanda.
Tinha ainda música aos domingos.
Inventei e quase acreditei.
E nele havia redes entre as pilastras do alpendre.
Não inventei, contudo, o trator com grandes garras.
Não inventei, juro.
Gritei pro meu menino descer rápido da árvore.
Catei as mangas que pude.
Colhi algumas flores pra levar comigo.
Era ainda tardinha.
Acordei.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Viva Cecília Meireles!
Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.
Não escrevi esta frase. Nem invejo Cecília Meireles por tê-la concebido.
Ao contrário: alegro-me em saber que ela existiu e traduziu tantas sensações complexas com palavras simples.
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Pausar. Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...
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Amigos, me mandem pelo correio Um pouquinho de confete e serpentina, Cheiro de cerveja misturado com batida de limão. Vocês encontram na Pra...
-
Estou no sexto andar de um prédio, numa ilha. De buzinas. De Sirenes. De stresses. Estou na sala 601 de um prédio sem charme. ...
-
O rei Nabucodonosor II construiu jardins suspensos para agradar e consolar sua esposa preferida, Amitis . Jardins que provoc...