sexta-feira, 24 de junho de 2011

o pássaro e a pedra



Em cima da pedra repousa lento, atento e alerta.
A pedra castigada por tremores, maltratada pela doce água e finalmente talhada por mãos cálidas, abriga o pequeno ser.
Voa, viaja e volta sempre à mesma pedra como a um porto seguro, e conta as novas do além mar.
A pedra sólida e imutável cede abrigo ao pequenino ser vulnerável. O pássaro livre é cativo do seu roteiro. Pousar e beber a água armazenada entre as pequeninas falhas da rocha. Toca o bico molhado naquela superfície grossa. Beija o áspero lábio e ali repousa sua semente.
Chove, vem o sol.
A rocha solidão vê crescer a primeira folha, nas entrelinhas dos seus encaixes.
Sol, vem a lua.
E o serzinho volta, imagina que agora a rocha de Machu Pichu não é mais tão só.
Voa e volta, sempre enquanto estiver pulsando. A pedra secular conhece este roteiro da vida. E o ninho que é feito na sua base também é seu.
Olha a velha montanha e ouve os pequeninos que ainda não voam.
Será ela a testemunha de outra geração.
Milhares de turistas do mundo inteiro passam por ali todos os dias buscando guardar para si um pouco da história.
E a história se faz contemporânea, explode em pássaros frágeis, que levam as boas novas, plantam flores nas rochas e transportam a vida.
Fui a Machu Pichu e como tantos turistas, senti a emoção da civilização.
Mas parei nesta imagem simples e vulgar. Ele esperou que eu fotografasse. Generoso, este pássaro. Posou com o olhar no firmamento e depois de dois segundos que o diafragma disparou, se foi.
Foi nesta imagem que compreendi a grandeza das civilizações. São todas feitas de pessoas comuns, carregando pedras, acreditando em deuses e criando seus animais.
A emoção de ver que fazemos o que já foi feito, que pisamos onde outros pisaram, que nos comovemos com emoções já sentidas.
Os amores imortais que se foram, os desejos inconcebíveis saciados.
Não sou o pássaro nem a pedra.
Observo e me nutro dos meus olhos.

Nenhum comentário:

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...