Manoel Bandeira dizia em um lindo poema sobre o Recife: :
"A casa do meu avô… / Nunca pensei
que ela acabasse!".
Lembro do sobrado avarandado em Casa Forte. Vila Deolinda....
O portão imenso para meus olhinhos tão meninos. Eu entrava pela cozinha . Morena me recebia com um doce, um mimo qualquer. Lurdes sempre a sorrir. Lá longe estava vovó. De braços abertos, carinho sem fim aquele.
O portão imenso para meus olhinhos tão meninos. Eu entrava pela cozinha . Morena me recebia com um doce, um mimo qualquer. Lurdes sempre a sorrir. Lá longe estava vovó. De braços abertos, carinho sem fim aquele.
Vovô Bento ficava na mesa imensa, sentado num banco de
madeira alto.Se lembro dele, lembro de bolacha salgada de padaria, aquelas redondinhas... Eu sentava junto e comia. Ele ria solto!
Mas antes, no quarto que tinha uma porta defronte da
cozinha, eu parava pra ouvir Maria Betânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil com
Bentinho. Eu adorava ler tudo que estava escrito nos encartes dos vinis. Ali
ele era apenas meu padrinho.Eu não entendia o que isso significava... Era um amigo, quase igual a mim, mas
que conhecia todas as canções do mundo! Muito tempo depois, sim, ele ocupou o
seu espaço.
Na varanda, em frente à mesa do Vovô, ficava a cadeira de
balanço de Vovó Isaura. Ela sempre olhava minha roupinha (Tia Zezé era minha
costureira particular!) e batia nota, fazia um comentário. Às vezes me contava
uma história.
Eu lembro de uma cama que Fafá tinha, que era mágica! De dia
era um móvel, uma estante, de noite virava cama mesmo.
Um pouco antes de partir Vovó me contou que eu tinha um
berço ao lado da cama dela. E que eu chorava a noite inteira, que acordava a
casa toda... Talvez por isso em meus sonhos até hoje aquela casa é tão
presente. Lembro do piso, da distribuição dos cômodos, lembro também da grade
do alpendre que abraçava uma parte da casa.
Pois quando vovó me falou, foi como se eu lembrasse, lá
naquela memória antiga, desbotada, estes primeiros lampejos de amor. Entendi
então que o amor é sensorial. Independe de memória ou de lembrança. Ele simplesmente
É.
Tem laços que nascem do sangue.
Outros, são fruto do próprio amor. Cresci sob a grandiosa árvore de amor e
generosidade cultivada por Vovó Consy. Sou neta do seu amor incondicional. Ela se
foi. E sua herança é o exemplo. A eternidade é o laço de afeto. O céu ganhou
minha avó. Mas eu jamais a perderei. Faz parte de mim.
3 comentários:
Eu também lembro muito bem de tudo... A saudade é grande, mas o Amor a ela não vai se apagar nunca!
Isso é a mais pura verdade. Bj
Lindo! <3
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