sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Sem remédio

Quero hoje falar da minha dor. Da dor mais forte do que eu, da dor que inunda qual enxurrada e cobre de lama todo meu jardim.
Quero hoje sentir a dor. Numa tentativa louca de gastar e diminuir o volume à porta do peito. 
esquecer e esconder a dor não tem sido eficaz. Quero me solidarizar com a minha dor, sentar na mesma mesa e dividir o mesmo copo. 
Chora, minha dor. Chora. 
Desafoga o peito, que só assim tudo se vai. 
Atrás da dor deve haver um campo vasto e forte. Verde e profícuo.
Quero hoje que a dor me ouça. Quero que a minha solidão me acompanhe. Que depois do almoço possamos desfrutar de um café sem pressa e sem açúcar. De doce, basta a vida. 
Minha ironia e minha dor são íntimas. 
Minha dor é filha da saudade, mãe da minha maternidade, irmã da alma. 
Atravessamos a rua juntas, dormimos e acordamos lado a lado. 
Minha dor não dói no corpo. Não tem analgesia. 
Onde dói? Não sei. 
Onde cura? Não sei. 
Que remédio? 
Sente a dor. 

Um comentário:

Regina Carvalho disse...

Muito bom, Germana, com certeza terás uma fan, grande beijo!

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