Eu tenho exercitado sentir raiva.
Este sentimento primitivo, primário, legítimo e culpado.
Este sentimento primitivo, primário, legítimo e culpado.
Não sublimo. Não me escondo. É raiva.
Do ônibus que atrasou, do salário que não chega no final do
mês, das ruas sujas do Recife.
Eu sinto raiva de mim também.
Porque passei tanto tempo jogando pra baixo do tapete o que
doía. E entupi tantas veias com a sujeira. Feito quem acumula
louça de uma semana na pia e ao final não tem sequer uma xícara pro café
matinal.
Como quem deixa pilhas de roupa suja...
Ou como quem não olha de frente pra dor que sente.
Como quem deixa pilhas de roupa suja...
Ou como quem não olha de frente pra dor que sente.
A raiva, ao contrário, tem sido um ácido muriático, abre caminhos, desentope. Pode ter aquele efeito de
devastação. Pode demais. Mas limpa. Deixa leve.
Não quero mais propaganda de margarina.
Nem parecer personagem de comercial de sabão em pó.
Não quero mais propaganda de margarina.
Nem parecer personagem de comercial de sabão em pó.
Eu tenho raiva de você. E não peço desculpas.
Nem as aceito.
Você, que no meu momento frágil, chegou e abraçou minha
solidão.
Você, que naquela hora de não-amor que eu vivia, me encheu de volúpia.
Você, que em público me beija e no privado me ignora.
Você, que se mobiliza sobremaneira pelo próprio desejo e em nada com o que eu sinto.
Você, que naquela hora de não-amor que eu vivia, me encheu de volúpia.
Você, que em público me beija e no privado me ignora.
Você, que se mobiliza sobremaneira pelo próprio desejo e em nada com o que eu sinto.
Eu tenho, que bom, sentido muita raiva de você.
Eu tenho, que maravilha, me enfurecido com este amor que
você brada aos quatro ventos, lirismo poético inútil, encastelado na sua
loucura.
Das fotos felizes publicadas aos lotes...
Das fotos felizes publicadas aos lotes...
Tenho raiva da sua incoerência.
Tenho raiva da sua covardia.
E do seu egoísmo.
Bendita raiva. Estou viva.
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