Sair de casa não é a questão. Deixar
pra trás as louças, os móveis, o pau brasil plantado meticulosamente no centro
do quintal, ainda filhote, e que hoje está quase chegando ao céu. Você
simplesmente bate a porta atrás de si, como talvez tenha feito tantas vezes
para ir ao trabalho, ao cinema, ao mercado. Gesto repetido. Fordismo da vida
cotidiana, que nos carimba e condiciona.
Sair de casa, este gesto, não é a
questão. Tentar, com a pancada da porta imensa, eliminar o passado, claramente,
em vão. Saber que é necessário manter-se viva, manter-se ciente, manter-se sã. Não
fechar os olhos, não dormir, não baixar a guarda. Ficar ali, consigo. Este é o
gesto maior. Sair de uma casa de afetos, de uma construção sólida, mas que
sufocava.
Sair de casa, este gesto de socorro.
Este pedido de ajuda, este alerta vermelho. Nada importa. Nem as portas. Tudo
de mais precioso não valia a vida. As vidas que deixei lá dentro eram os
tesouros que eu mais prezei, velei, ninei e acarinhei vida afora. Vida adentro.
Noves fora, quanto fica?
Eu saí. Na bagagem, uma mala sem significados.
Pequena, vazia. Daquelas que já fiz quando criança, buscando a justa sensação
de independência. Não, não foi independência que busquei naquele sábado triste.
No último dia da semana lamacenta e esquecível, mas que jaz tatuada na minha
alma quente.
Fugi pra não me perder de mim. Desde então, sigo as minhas pistas.
Venho me reencontrando com alguns fragmentos, com rompantes de quem eu sou.
Fugi com duas malas pequenas. Tive dez minutos para planejar o que colocar nas
malas e pra onde ir.
As malas vermelhas foram minha morada por meses. Foi revelador
abri-las a cada dia e me descobrir um pouco mais. Numa delas, sabe-se lá por
que, só havia roupas íntimas. Mala vazia, cheia de intimidades.
Na segunda, um pouco maior, um coletivo de desencontros. Um
arremedo de enxoval para a vida nova. O passaporte para eu ser o que quisesse,
combinando o que não se imagina. Análise combinatória.
Guardei o sábado. Eram umas 15h. Não
sei se chovia, se fazia sol. Eu parecia um ser unicelular, concentrada numa só
missão. Indivisível.
Estou
prestes.
Prestes
a me lançar no abismo da certeza.
Imagino
o salto. Certo. Preciso.
A
beleza de não saber onde o vento me fará pousar.
Estou
prestes a escolher a direção.
Avulsa,
despregada.
O
verbo estar não define. Não estou....
Estar
soa estático. Soa estabilizado. Soa controlado. Soa cômodo. Soa linha de
chegada.
E
eu me defino, antes, de partida.
Partida,
só que inteira. Para o novo. O salto, lançamento. Vernissage de mim mesma.
Minha
inauguração.
Pedi
o uber. Liguei pro meu irmão. Um diálogo sem lógica:
-Como
é que a gente faz? Faz como?
-Venha
pra cá.
O tempo era uma unidade variável,
quântica... saí de casa enquanto ele lavava os pratos. Era o gesto dele pra
dizer: não acredito na sua ameaça. Você não tem coragem. Ele tirou as malas de
cima do guarda roupa, limpou a poeira com a toalha de rosto do banheiro da
suíte. Aliás, suíte que não tinha porta, mesmo depois de dois anos de “acabada”
a reforma. Eu fui um dia no atacadão e comprei uma cortina de plástico sem
estilo. Pedi a porta de presente de aniversário... nada... pois bem, limpando
as malas empoeiradas com a toalha de rosto, ele me disse: pode ir. Enquanto
você arruma a mala, eu vou lavar a louça.
A louça que ele quase nunca lavava.
Que deixava embolar na pia, e, quando lavava, negritava: lavei, viu? Taí, tudo
ajeitadinho. E eu, de naif, agradecia....
Tudo pareceu em câmera lenta, mas
aconteceu tão rapidamente.
Eu já tinha feito um percurso mental
tantas vezes! A saída era uma das saídas pra mim. Dizem que, quando se está sem
alternativa, parede vira caminho. Paredes grossas e densas, no meu caso.
Sedimentadas com grandes camadas de sentimento. Tijolo por tijolo. Num desenho
flácido.
Uma mala simbólica. Significando que
não era ao trabalho que eu iria. Nem ao shopping. Que não era a minha
sazonalidade que estava à prova. Por mais que inundasse outras vidas, por mais
de destruísse os alicerces frágeis dos sonhos a dois.
Fisicamente eu sentia uma dor
localizada no esterno, perto do peito, mas que não era exatamente dor. Rasgava.
Esgaçava. Abria o peito. Uma dor sem nomeação e sem medida. Sem remédio. Densa.
Eu poderia desenhar esta dor. Se fosse geografia, eu seria um tsunami, ou um
vulcão. Uma barreira desabando nos morros de Casa Amarela.
Eu não abandonei a casa. Ou os filhos,
ou o amor. Eu me salvei. Busquei um plano de fuga, sem treinamento de
sobrevivência. Saí me afogando nas lágrimas, saí destruindo as barragens, saí
me arranhando. Sem máscara de oxigênio. Estava crua. Em carne viva.
Aos 47 anos, nunca tinha vivido só.
Numa casa, num quarto, numa cidade. Nunca tinha experimentado a sensação de
acordar e não dar bom dia. A experiência de não dividir o banheiro e de ter a
cama inteira pra mim. E escutar o som cedinho na altura desejada. De não ligar
a televisão no café da manhã. Quase cinquenta, e jamais amanheci com a casa
todinha pra mim...
Dizem, acho que dizem. Que às grandes
expansões precedem longas contrações. Regressões. Retiros. Se não dizem, eu
digo. Tenho dito e sentido. Para crescer muito, recomenda-se voltar à origem.
Assim seja.
No meu êxodo anunciado, voltei ao
lugar seguro. Como um filho que devaneia a volta ao útero. Como quem anseia
voltar à terra natal. Primeiro, o abraço do irmão. Depois, e refugiei na casa
paterna, até que as primeiras dores cessassem.
Foi um parto laborioso, longo, tardio.
Verbo e substantivo. Busquei uma caverna segura para me abrigar enquanto as
sombras da dor atordoavam o peito, projetavam pra fora fantasmas imensos.
Quando saí, olhei o céu. Vi outras
cores. Uma vibração diferente contrastava com a dor do meu peito. Ventos de
Agosto, que reviram tudo. A poesia já deu conta disso algumas vezes. Eu era um
olhar se abrindo dentro do caos.
Mas era a minha vida real. Poesia dura
e doce, rima rica e métrica imperfeita
Não, não decidi tudo de uma vez. Nem
sabia como decidir, se decidir, se queria ou se estava tresvaliando. Se
aguentaria a saudade. Sim! Eu quase morro de saudade neste primeiro ano.
Saudade da vida que estava a pouco quilômetros de distância, e que eu sabia que
deveria deixar. Como se mata um amor? Qual é esta arma potente que aniquila o
sentimento sem matar a alma?
A gente marca data de casar. De
separar, jamais. A gente casa num dia e se separa por anos.
As coisas não estavam óbvias. O corpo
queria, urgia, deixar a casa. Mas a alma queria ficar. A cabeça estava confusa.
Pra onde seguir? O corpo, elemento físico e compacto, venceu. Eu estava fora.
Vinte e cinco anos vividos. E a cabeça, tonta.
Um choro, frases repetidas, como
mantras. Um choro que mais parecia um vômito. Uma infecção na alma.
Eu sabia que seria preciso atravessar
um deserto. Eu sabia que estaria desinteira por algum tempo.
Vivi cada dia de dor. O labirinto que
se formou em torno do sentimento, dos sonhos, das projeções e do futuro. Cada
pequeno momento deste período, tratei com o respeito devido. Aprendi demais.
Teve colo, abraço, afeto. Teve rejeição, desamor. Teve julgamento, antes do
destrato. Ouvi coisas absurdas que eu não sabia de mim. Vi olhares que me
remeteram ao século passado. Saí da cena recifense. Passei a evitar os bares da
Mamede Simões, a rua boêmia e onde estão todas as “cabeças pensantes”
referendadas da cidade. Aquele corredor polonês de cadeiras de plástico
brancas, amarelas, vermelhas. Aos mais corajosos, eu agradeço. Foram palavras
duras que ouvi entre o Frontal e o Central, antes mesmo de conseguir sentar
numa mesa do Boi Neon. Pérolas colhidas ao léu:
Foi você trabalhando de dois em dois anos em campanha eleitoral que fez naufragar o barco.
Qual era do defeito que ele tinha e que você só descobriu agora, mais de 20 anos depois??
Uma pessoa tão legal, você jogando pela janela.....
Faz um favor pra mim? Conversa mais com minha mulher não, porque vai que ela aprende estas tuas ideias de separação também.
Nesta idade você não arranja mais ninguém. Melhor voltar pra ele.
Quem sai de casa, abandona, perde totalmente a
razão.
E você saiu porque tinha outro né? Ta na cara!
Cuidado... estas ideias liberais, de mulher liberada, nenhum homem aguenta não.
E ainda deixa o moço com uma mão na frente e outra atrás?
Você acha que ainda vai encontrar alguém mais legal do que ele? Jura? Se cuida.....
Desculpa, amiga.... mandei aquela foto sem querer... é que vocês sempre brincaram carnaval e agora vi ele brincando e achei legal mandar pra você.
Sei, sei... ele é uma pedra... mas você ama esta pedra. Volta....
Quando eu era criança adorava dançar
quadrilha junina. Fui diversas vezes a rainha do milho. Nunca, a noiva. Eu
amava a grande roda... Olha a chuvaaaaa.... Choveu.... passou.... balancê!!!!!!
Tudo era genial. Mas eu torcia que o gritador esquecesse o passeio das damas.
Não gostei nunca de passar naquele corredor, todos me olhando. E eram três
segundos que muitas vezes me faziam pensar três vezes antes de aceitar o
convite pra brincadeira. Eu tinha 11 anos, no máximo...
A Mamede Simões passou a ter pra mim
este mesmo sentido. Passar pela rua repleta de bares e de pessoas que eu
conheço de tempos desencontrados, me parecia o passeio da quadrilha. Eu, que sempre
me senti partícipe da minha cidade, da minha bolha, da minha galera, agora
estava ali, cabeça baixa, evitando comer o falafel do Central. Escolhendo
horários que não fossem “os de pico” para sentar e tomar uma cerveja. Eu mesma
me exilei. Eu mesma dei aos outros o tamanho que eles assumiram.
E, antes da primeira volta em torno do
sol, chegou o documento de distrato. Eu saí de casa, mas o gesto definitivo não
foi meu. Fiquei ali pensando nisso, com o telefone na mão, desligado. Me deixei
chorar. Cansei. E nem aquele golpe me fez mudar. ”Volte pra casa, e tudo fica
como antes”. A resposta que de mim saía era corporal. Não. Sim, tem dias em que
vida dói. Feito pé torcido. Feito dente furado ou que nem garganta inflamada.
Tem dores maiores. Mas nestes dias em que a vida dói que nem otite, é melhor
respeitar. São as dores menores, as mais insistentes.
Distrato deste contrato, que nós dois
firmamos e que eu não suportava mais. Destrato que chamam de divórcio. Um
contrato não anula o sentimento, mas coloca tudo no seu lugar. Fui eu quem
primeiro rompeu com algumas cláusulas. Eu saí do meu lugar estabelecido,
subverti as marcas e modifiquei o cenário. Minha cenografia pedia mais leveza.
Eu queria me mexer. E tentei modificar nossa montagem com a peça em cena. Tentei
por anos trocar o pneu com o carro em movimento. Em vão.
Assinei um papel de desenlace. Como é
que se finda um laço depois de assinar um destrato? Laço que era amor, agora é
reconhecido em cartório como passado. Tem dias em que a vida dói muito. Sem
remédio. Fala com alguém, faz um paliativo. Mas o ciclo da dor é que nem uma
virose.
Neste primeiro ano não me ocupei em
matar o amor. Me parecia suicídio. Tentei cuidar dele. Eu não acredito que um
sentimento tamanho morra. O que mudou foi a minha relação com ele. Antes acreditava
que tudo se pode fazer em nome do amor. Mas não. Nem tudo. Para amar é preciso
estar viva. No sentido filosófico. Porque no sentido fisiológico, nem se
cogita.
Escrevi cartas mentais. Cartas para
quem nunca vai me ler. Que bobagem, que estupidez, escrever uma carta para quem
nunca a lerá.... Escrever uma carta para dizer que sim, o amor parece que se
foi, mas insiste em ficar. Parece que se foi, mas se esconde na chaleira do
café, na manhã dos domingos. Ao amor tóxico, ao amor tristeza, ao amor covardia,
ao amor vazio. Escrever esta carta para ninguém ler, mas para que saísse de mim
mais um pedaço deste sentimento que afoga. Oxigênio em ambiente rarefeito. E,
no entanto, a carta sopra nos meus ouvidos talvez como sendo mais um suspiro.
Um pedido que sim, vá.
Um pedido para que deixe alguma coisa
de mim ficar. Um apelo ao meu ser, que seja.
Que assim seja, que se respeite, que
se ame, que se aninhe. Uma carta para quem nunca me leu. Uma carta para quem
jamais me lerá. Um documento vazio de intenção, pleno em mim. Que bobagem, que
estupidez, repito! Escrever uma carta de amor para quem jamais decifrou os
signos, símbolos e métricas da alma que escreve.
Uma carta para analfabetos funcionais,
que não interpretam as linhas vitais. Chegue este amontoado de palavras aos
seus olhos, não traduzirás. E ainda assim, teimo em seguir contando a minha
história. Porque basta que eu mesma a compreenda e a traduza. Que eu veja nas
suas entrelinhas, meu sentido. Que eu seja minha própria tradutora e
intérprete.
Nem sempre as respostas chegam. Elas
estão em nós. Já habitavam aqui. No mesmo endereço do seu afeto, na mesma
gaveta das memórias, no lugar exato da sua dor.
Recitei poemas. Vi meus escritos sendo
rasgados à minha frente. Não falávamos mais a mesma língua. Não, não foi o meu
trabalho. Não foi a militância feminista ou o ser dele de artista. Não foi
maldade. Nem foi desamor.
Foi desacerto de marcha. Aliás, já
fazia um tempo que a gente, antes casal pé de valsa, não se entendia no salão.
Eu, pra lá. Ele, pra cá. Eu disse, ainda no nosso namoro, que só casaria com um
homem que dançasse comigo. Deslizasse no salão e descolasse da realidade. Que
me desse a licença poética. A gente dançou assim por anos. De olhos fechados, dançava melhor. Fechava os olhos e
imaginava um mundo colorido guiado somente pelos passos ritmados. De olhos
fechados, construía uma história, uma fábula. Pensava que deveria fazer assim
por toda a vida. Jogar para a direita, para a esquerda, paradinha no centro,
junto com a marcação da zambumba. Na vida a dois, tocava a zabumba, mas gostava
mesmo era de dançar. Ser levada pelos braços dele como um passeio bom. De olhos
fechados. Uma espécie de cegueira, talvez. Cegueira providencial. De forró pra
xote, de xote pra baião. Ele inventava os passos. Eu não abria os olhos. A
brincadeira podia acabar. Até que ele começou a ditar os passos, no lugar de
conduzir. Parecia locutor de futebol. Ou o gritador da quadrilha. Perdia a
poesia. Burocratizou a magia. Tinha um esforço desnecessário no casal que
dançava há anos. Até que um dia, sem mais nem menos, chamei ele pra um xote e
ele pela primeira vez negou. Eu gostava de dançar xote. O arrastado do pé no
chão, a regularidade, a cadência. Xote é música de namorar. Quando tocava um
xote, pra mim já era eu e ele. Nesta noite eu insisti. E me arrependi. Meu
parceiro chegou no salão contando os minutos, ou as músicas. Dançou duas e me
olhou: ta bom? Ta. Murchei.... Sentou na mesa e abriu uma cerveja.
São tempos
difíceis.
São tempos difíceis.
Eu ainda
não sei falar da revolução dentro de mim, nem do golpe lá fora. Ou seria o
golpe dentro de mim e a revolução lá fora....Eu ainda não sei. Falta muito.
Ainda não
sei escrever sobre este rebuliço, este gesto largo e firme que me trouxe a esta
paisagem estonteante. Ainda não sei me situar com as novas gavetas.
Onde guardo
os talheres, onde estão os colares, o saca rolha, o pano de chão?
Onde
acomodo meus gestos viciados, onde dobro minhas memórias já passadas?
Falta
muito. Eu ainda olho para as cadeiras da sala como uma turista. Esqueço onde
fica o lixeiro e não tenho nenhuma intimidade com a máquina de lavar.
Não aprendi
o tempo do elevador. A viagem do 14º até o térreo me parece intercontinental. Tenho
atravessado mares, a propósito. Todos os dias.
Onde devo
ter guardado aquela extensão?
Onde se
esconde a chave do carro?
Qual é o
abrigo das minhas dores?
As paredes
ainda em branco reverberam um eco que intriga.
Casa sem
memória, guardando todas as histórias que eu trouxe de endereços
passados.
Juntando
tudo, não dá nem a metade de mim.
O restante,
vai que está entre os guardanapos, ou quem sabe, no armário da área de serviço.
Escondido em alguma sacola de plástico...
Falta
muito.
Ressignificar o almoço do
domingo, a tapioca do café da manhã. Ressignificar a cama de casal (?)... toda
pra mim agora e tão, tão, tão maior. Ressignificar, mas ao mesmo tempo, brigar
para manter a memória do que vivi. Honrar. O nascer de um amor não deve ser esquecido. É
mais ou menos como se eu negasse minha própria história. Como se, negando a
vida juntos, eu estivesse apagando anos que vivi. VIVI. Viveria tudo novamente.
Porque foi do meu mais profundo ser que nasceu o que sinto. Sinto, no presente
do indicativo, pra dizer que sim, saí de casa com o peito em chamas, com a alma
arranhada, com a estima no subsolo... mas reconhecendo a grande história de
amor. Tanto, que não me livro dela. Não me desaprego. Ela está na minha pele
ainda.
Não posso escolher a sua
métrica nem a minha rima. Eu não posso mais voltar. Não é orgulho, este
sentimento unilateral. Nem mesmo a sensação de mágoa. É porque sei que já não
somos mais os mesmos. Eu ainda vejo o mundo com as lentes criadas por nós dois.
Eu ainda sinto a vida. Tenho ímpeto de ligar quando recebo a notícia da morte
de um amigo em comum. Eu às vezes ainda coloco quatro xícaras na mesa para o
jantar. Eu sinto muito.
Foram caminhos cruzados por décadas. Caminhos que se encontraram,
entrelaçaram, se misturaram.... houve um tempo em que eram as mesmas rotas, os
mesmos horários óbvios. Um chegava, já vinha o outro. Um vinha, tinha o outro
na sombra. Um vivia, respirava o outro.
Até hoje sinto um conforto que vem deste amor. Um conforto de ter
vivido este amor, de ter sido dele personagem e de ter me nutrido tanto tempo
deste sentimento bom. Até hoje, pensar neste tempo me conforta. Conforta minha
dor.
Mas é preciso se livrar, deixar fluir e fruir. Deixar ir,
desapegar.
Despedida na Rua da Saudade
A paralela é a união
Abraço na encruzilhada da vida
Despedida que não cabe no abraço
Que não se encerra no perdão.
Segue a poesia da vida. Vai a prosa, nesta crônica sem fim. As
linhas nunca acabam. São o futuro. Estão em branco.
2 comentários:
Me identifico muito com seu texto. Estou sem saber se saio ou se fico. Passando por algo muito similar na minha vida. Li seu texto no Laudelinas, estou lá também, com a poesia: "but the savages are still among us". Queria deixar esse recado para você, dizer que eu, ao contrário de vc, ainda não cruzei o deserto, só tomei consciência da dor, mas estou postergando, por falta de coragem, a travessia. Um beijo e seguimos em frente!
Carol Sanches
Carol! que prazer receber você aqui. Te digo: os desertos são feitos pra gente atravessar. no nosso tempo. no nosso ritmo. vamos juntas! que alegria estar contigo na revista! :)
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