O caminhão do lixo passou levando tudo o que via pela frente.
Varreu as cadeiras nas calçadas,
Recolheu os sorrisos e arrancou a esperança das mãos.
Os garis não passavam há semanas naquelas ruas. Chegaram com pressa.
A vibração do motor do caminhão fazia estremecer os barracos.
- Desliga a televisão, menino! Vem ver o lixo que chegou!
A criançada tomou logo o posto de abre alas do cortejo. Os mais velhos abriam as janelas.
Era um evento. Raro.
Todo mundo queria chegar perto da carga. Haveria lá dentro alguma coisa de valor, um engodo de fantasia. Uma boneca, uma cadeira, um rádio, quem sabe!
E como eu ia contando, o caminhão do lixo coletou mais do que deveria.
Passou sem cuidados pelos cachorros que latiam assutados com o alvoroço.
Levantou a água espessa das poças de lama da rua.
O vento de agosto, beira-rio, trazia aquele odor azedo.
A comunidade do Coque já viu muita gente ser morta.
Faca, foice, pedaço de pau, espingarda, revólver, estilete, punhal, faca de cozinha.
Mas nunca, nunca ninguém tinha visto um anjinho ser mandado pro mundo de Deus por um caminhão de lixo desavisado, que fez uma manobra enquanto um bando de meninos festejava por perto.
A festa do funeral.
Quando a sujeira toda saiu, ficou aquele corpinho franzino, numa viela que leva ao Rio Capibaribe. O chão úmido acolheu o pequeno, aconchegou seu suspiro.
A noite passou. O sol trouxe a má notícia.
A imprensa chegou antes do IML.
E apesar de todo o aparato, três linhas contaram a história no dia seguinte.
Uma fatalidade.
Varreu as cadeiras nas calçadas,
Recolheu os sorrisos e arrancou a esperança das mãos.
Os garis não passavam há semanas naquelas ruas. Chegaram com pressa.
A vibração do motor do caminhão fazia estremecer os barracos.
- Desliga a televisão, menino! Vem ver o lixo que chegou!
A criançada tomou logo o posto de abre alas do cortejo. Os mais velhos abriam as janelas.
Era um evento. Raro.
Todo mundo queria chegar perto da carga. Haveria lá dentro alguma coisa de valor, um engodo de fantasia. Uma boneca, uma cadeira, um rádio, quem sabe!
E como eu ia contando, o caminhão do lixo coletou mais do que deveria.
Passou sem cuidados pelos cachorros que latiam assutados com o alvoroço.
Levantou a água espessa das poças de lama da rua.
O vento de agosto, beira-rio, trazia aquele odor azedo.
A comunidade do Coque já viu muita gente ser morta.
Faca, foice, pedaço de pau, espingarda, revólver, estilete, punhal, faca de cozinha.
Mas nunca, nunca ninguém tinha visto um anjinho ser mandado pro mundo de Deus por um caminhão de lixo desavisado, que fez uma manobra enquanto um bando de meninos festejava por perto.
A festa do funeral.
Quando a sujeira toda saiu, ficou aquele corpinho franzino, numa viela que leva ao Rio Capibaribe. O chão úmido acolheu o pequeno, aconchegou seu suspiro.
A noite passou. O sol trouxe a má notícia.
A imprensa chegou antes do IML.
E apesar de todo o aparato, três linhas contaram a história no dia seguinte.
Uma fatalidade.
E a rua limpa.
6 comentários:
Um sequestro na Zona Sul é matéria de capa, porque nos faz temer. A morte de uma criança no Coque, é nota, por ser tão cotidiana...
Eita, prima.
primo, sua assiduidade é MARAVILHOSA! Mack, esta história me deixou tão pasma, que não consegui entristecer. achei que tinha era mesmo que contar. beijo nos meu dois leitores!
Ficou maaaaaaaaaaaaassa essa foto do sol!
Impressionante. O olhar é, de fato, uma questão de Valor.
É isso, Ana. O osso da vida...
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