quinta-feira, 4 de abril de 2019

Uma carta para quem nunca vai ler

Que bobagem, que estupidez, escrever uma carta para quem nunca a lerá. Que estupidez!!!!!! Escrever uma carta para dizer que sim, o amor parece que se foi, mas insiste em ficar. Parece que se foi, mas se esconde na chaleira do café, na manhã dos domingos. Escrever uma carta ao amor que já se foi. Ao amor que eu mesma quis que se fosse, que desapregasse da minha pele. Ao amor tóxico, ao amor tristeza, ao amor covardia, ao amor vazio. Escrever esta carta para ninguém ler. Mas para que saísse de mim mais um pedaço deste sentimento que afoga. Oxigênio em ambiente rarefeito. Fui embora imaginando que ficaria. Fui embriagada de um éter de vida que talvez nunca mais eu sentisse o cheiro. Tive alucinações de vida. Tive desilusões de matar. Pelos poros eu eliminava meu prana, energia que movia os sonhos. E, no entanto, a carta sopra nos meus ouvidos talvez como sendo mais um suspiro. Um pedido que sim, vá. Um pedido para que deixe alguma coisa de mim ficar. Um apelo ao meu ser, que seja. Que assim seja, que se respeite, que se ame, que se aninhe. Uma carta para quem nunca me leu. Uma carta para quem jamais me lerá. Um documento vazio de intenção, pleno em mim. Que bobagem, que estupidez, repito! Escrever uma carta de amor para quem jamais decifrou os signos, símbolos e métricas da alma que escreve. Uma carta para analfabetos funcionais, que não interpretam as linhas vitais. Chegue este amontoado de palavras aos seus olhos, não traduzirás. E ainda assim, teimo em seguir contando a minha história. Porque basta que eu mesma a compreenda e a traduza. Que eu veja nas suas entrelinhas, meu sentido. Que eu seja minha própria tradutora e intérprete. Domingos são dias de desperdiçar mesmo... eu, em frente ao computador, a escrever um bilhete para quem nunca o lerá....

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