O dia amanhece, como sempre. Mas nunca é igual. Cada dia, uma
luz diferente, uma sombra se insinua, uma marca é deixada. Cada dia, um X no
calendário. Um aviso de passagem do tempo. Um lembrete de finitude.
O dia amanhece como há milênios. Nada mais secreto do que o
involuntário. Nada mais misterioso do que o ciclo finito. Cada existência,
um universo distinto. Cada café da manhã, na mesma xícara, o mesmo pão assado e
tantas sensações inéditas.
O dia amanhece invariavelmente. Não importam as noites
insones. Não vale apelar para os sonhos. O dia é esta força tarefa entrando
pela janela, é esta invasão de horizontes no seu pessimismo. O dia imperioso e
inevitável.
O dia amanhece e não espera por ninguém. Empurra a noite, rouba a lua cheia. Traz consigo galo, passarinho cantando. Acorda as
buzinas dos carros, enerva os despertadores, multiplica os engarrafamentos.
O dia amanhece, sempre, até anoitecer.
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