sábado, 11 de outubro de 2014

Pessoa de ferro.

Fernando, pessoa de ferro. 

Hoje eu abri os olhos e o sonho não tinha acabado. A noite não me embruteceu. As lágrimas não borraram minhas convicções. 
A derrota não me enfraqueceu as crenças. 
A dor hoje acordou no meu corpo. De tão grande e intensa, migrou da alma para esta carcaça que quase nada tem. 
Eu abri os olhos, mas já tinha acordado há tempo. 
Nessas caminhadas a gente sabe o caminho no escuro. 
Sabe semear na terra seca. 
Sabe o valor de um gesto. 
Sabe que o rio nem sempre passa na terra de quem colhe. 
Eu aprendi tudo aos poucos. Como uma panela que cozinha lenta, no fogo brando. 
A estrada à frente. 
Muitas lutas no coração. 
Não há método mais eficaz que o exemplo. 
Esse não se decora, se herda. 
Não se compra. 
Não se vende. É doação. 
E na poesia que se vive, a rima é a história. 
A métrica é a coerência. 
Recitar é compulsório. 
Um poeta não se cala mesmo mudo. 
Porque seus versos ganham o
Mundo. 
Pessoa de Ferro. Tantos Fernandos cantam suas aldeias. Tantos emendam sonhos. Quantos sabem a dor que deveras sentem? 

  "Não sou nada. Nunca quis ser nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo". 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Flor




A flor abriu.
A noite veio com lua.
E o meu peito acordou congestionado de palavras presas.
Não expectorava.
Amanheci com pressa, café com tapioca feito quem rouba.
Fui trabalhar.
E tudo tinha outras cores, outro brilho.
Uma emoção mau comportada, mau educada e impulsiva me tomava.
A vida com lente de aumento. A vida vista pelo coração.
E as palavras pareciam vermes infectando meu peito.
Um remédio, por favor!
No escritório cheio de gente arrisco esta viagem pra dentro. Escrevendo pra alentar o peito. E me dou conta que escrevo desde sempre. Desde menina. E não entendo esta necessidade. Tem gente que acorda querendo comer alguma coisa. Tem gente que não resiste a uma blusa na vitrine. Tem gente que não perde uma estreia no cinema. Tem gente que não vive sem uma etiqueta.
Eu respiro esta atmosfera sutil.
Preciso nebulizar urgente!
Acordo com umas palavras embaralhadas e fico disfarçando.
Carecia parar e escrever.
Carecia parar de sentir.
Carecia viver menos profundo pra seguir em frente.
Parei.
Decidi falar da minha flor que abriu. Abriu na segunda-feira comum. Abriu sem feriado, abriu sem dia santo.
Fez do santo sol de todo dia uma estrela toda sua.

domingo, 31 de agosto de 2014

O tamanho das coisas

A preguiça do domingo veio densa.
Sempre que não sei o que dizer, saio com a seguinte frase feita: "a vida é maior que tudo isso".
Percebi esta semana. Realmente a vida é. E eu tenho este caco quando não tenho o texto na ponta da língua. 
E a morosidade do domingo veio tronxa. 
Uma semana de visitas e permanências no hospital. Olho pra minha mãe e percebo o tempo passando. O tempo que é maior que a vida. 
O domingo chega com o balão de oxigênio. 
Em casa, chegando pra dormir depois de noites em claro, não encontro o nosso gato. Motor. 
Um ano atrás exatamente ele era um filhote  que encontramos dentro do motor do carro. O tempo levou motor e eu nem sei pra onde... Nem como... Nem quem. 
A vida deve ser maior que tudo isso. E se ele encheu o saco da casa? Do piano? Da vida cotidiana quadrada? 
E se ele ainda volta? 
Encontro na minha cabeça cansada uma semelhança entre estar com minha mãe no hospital e não estar com motor. 
É o amor. Tudo  o que eu se faz assim tem uma ligação. 
E eu me vejo falando besteiras no telefone. E eu me pego escrevendo pra doer menos. 
É. A vida é maior que tudo isso mesmo. 
O domingo preguiçoso nem se deu conta da minha dor. Nem do meu amor. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Abelardo e eu.



Abelardo e eu.

Visitei a casa de Abelardo umas duas vezes na vida. Rinaldo Silva era o convidado.
Eu, uma mosquinha que curtia cada pequeno minuto ao lado daquele monstro da arte. 

O trabalho de Abelardo faz parte das minhas imagens de criança. Anos depois, estou eu na casa-ateliê do mestre, na Rua do Sossego.

Encantada. Vivendo uma fábula.

De repente, chega Abelardo e me convida: quer sentar na minha escultura? 

Era uma mulher nua, deitada. Eu sentei meio assim sem jeito, na pontinha.
Sentar na obra de arte... estava muito maravilhada.
Aí, talvez percebendo minha saia justa, ele atalhou: encosta a cabeça nos peitos dela. é uma delícia!!!!

Aceitei o convite. Fiquei lá por um bom tempo aproveitando esta dávida da vida.

Abelardo da Hora sabe tudo!

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A chuva que leva

Quando a chuva caiu, já foi avisando. 
Bateu nos telhados que nem pedra.
As casas estremeceram. Era uma chuva raivosa. 
Quando vem assim, tem recado pra dar. Ou tem missão a cumprir. Caiu sobre o Recife escurecendo a tarde. 
Esvaziou as ruas. Fez-se o luto. 
A água lavava e chorava a cidade. 
A tempestade leva e transforma. A vida é um fio. 
Antes do rádio e da internet, os ventos já tinham anunciado. 
A água levou pros céus um mestre. Um sertanejo. Um forte. 
Evaporou seu suspiro final. E mesmo quem jamais leu um livro dele, ou viu uma peça, vestiu nos olhos a tristeza. 
A mulher vestida de sol cobriu-se de chuva.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Você não soube me amar!!!!



Pronto, falei!. E não soube mesmo. 
Estava na Praça do Jacaré, em Olinda, quando subi no ônibus, Encontrei meu irmão. Ator, o talento da vez, meu ídolo, minha referência. Ele estava sentado ao lado de uma mulher nariguda. Achei estranho. Agora o susto mesmo que eu tomei foi quando olhei pro lado.
Gelei.
ERA ELEEEEE!!!!
Meu irmão, 8 anos mais velho, ainda me achava uma pirralha. E sabia da minha loucura pelo grupo musical dele. Eu era obcecada. Sabia até quando ele respirava no disco. Cortei o cabelo igual a uma das meninas da banda. Passava horas olhando as letrinhas e os desenhos do encarte.... Era cover. Pronto, falei! Dublava a banda em festinhas e no grêmio do colégio. 
Vestia aquelas roupas fluorescentes, imitava os trejeitos.
Era a própria.
Aí, de repente, como é que eu encontro o meu ídolo dentro de um ó
Ônibus da linha Pau Amarelo? Ainda mais eu de uniforme escolar????
O meu cantor preferido me olhou e acho que me viu menor ainda do que o meu irmão me via. Me convidou pra sentar no colo, porque o ônibus estava lotado.
Eu, que já tinha 11 anos, era praticamente uma adulta, fiquei mínima. Calada. Queria que nunca acabasse aquele trajeto de ônibus. Passamos por Casa Caiada, por Rio Doce, atravessei a ponte.
De repente, chegou a minha parada. Foi meu irmão quem puxou a cordinha avisando que era hora de eu descer. Eles iam mais à frente.
No dia seguinte cheguei no colégio ainda pasma. Falei pras minhas amigas que tinha ido pra casa em um Pau Amarelo lotado, mas que tinha sentado no colo de Evandro Mesquita.
Ninguém acreditou. Nem eu acreditaria....

segunda-feira, 23 de junho de 2014

nova pele.

Abri a porta do mundo e me descobri estrangeira da vida.
Na vila onde moro nao há muros.
Nem muralhas.
As ruas escancaradas jogam os sentimentos pra dentro.
Em carne viva.
Sou um mosaico mourisco.
Sou um arabesco ibérico.
Conjugo as variações da melancolia e da saudade de cor.
De coração.
Minha porta não tem olho mágico.
Nem grades.
Viro a chave dou com a cara na rua.
Abro a porta e batem na minha cara.
Dou a cara a tapa.
E dou com a cara na porta.
Vou voltar.
Para o meu jardim, lá nos fundos.
Para a minha varanda, lá no alto.
Onde o vento saúda a lua.
Abrir a porta?
Só quando souber falar a língua estrangeira.
Quando crescer a nova pele.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Ocupada.




Meu filho foi assaltado duas vezes esta semana. 

Chega em casa com semblante perdido. 
O pior não é o que roubam, mas o que deixam: uma semente de desilusão no olhar dele. 
Vou falar com a polícia, a viatura que faz a ronda, e eles semeiam a tal semente quando dizem que nada podem fazer. 
Do outro lado da cidade, lindos homens, lindas mulheres cuidam da semente do futuro. 
Com respeito. 
Com dignidade. 
Com arte. 
Com amor. 
E os policiais que deveriam fazer a segurança, zelar e garantir a paz acabaram de arrancar as mudas recém brotadas. 
E eu, que sempre corro pro front, me sinto paralisada.
Alguma coisa em mim também morreu. 

terça-feira, 10 de junho de 2014

só imagine!

Imagine um mundo melhor. 

Você não será o primeiro. 

Tanta gente ja cantou, pintou, dançou e encenou. 

Tantos escreveram, muitos lutaram por um mundo de paz. 

Imagine um mundo que fica melhor não com grandes obras, mas com pequenas transformações. 

Gestos múltiplos.

Hoje eu fui além da imaginação.

Experiência de cidadania.

Um encontro de pares e ímpares.

Todos, mestres e aprendizes.

Graças!

Por esta cidade na beira do mar que inspira novos ares.

Pelo abraço ao amigo de longa data.

Um cais onde atracar o sonho de todos.

Um porto seguro para um mundo outro.

Meu filho ao meu lado faz coro com Otto.

Uma ode ao Recife sem muros.

Obrigada, estelita!

Meus filhos serão melhores do que eu.

Serão mais críticos, mais livres.

Observo o Recife da minha varanda na Rua da Glória. O vento que bate no rosto conta uma nova história.

#ocupeestelita #resisteestelita #soudorecife

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Cateterismo

Tem um coágulo poético na minha veia jornalística.
Ou seria tinha um coágulo jornalístico na minha veia poética.
Uma veia artística disfarçada de repórter.
Uma artéria genérica.
Tinha uma pianista recolhida nas teclas do PC.


segunda-feira, 19 de maio de 2014

Fio da meada.



poema coletivo

Tanto fio, tão pouca comunicação....
tanto fio, tanta poluição
Maior poluição visual que há.
tanto fio e nenhuma mãe.
E nenhuma fia.
tanto fio e nenhum novelo.
tanto fio e nenhum é de cabelo
tanto fio, e todos são fio das puta.
o coletivo de fio é peruca
Uma peruca sem fio....
tanto fio leva ao nó.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

sem pontos extra....


Eu não tenho dotz.
Não gosto de shopping.
Não me faz bem fast food.
Tem uma coisa marinando na panela da minha existência.
Um cozido lento, fogo baixo, pouco sal.
O aroma incensando a alma e abrindo os sentidos.
O vapor entra pelos poros enquanto eu mexo devagar o guizado.
E vai impregnando na roupa,
Como uma tatuagem invisível.
Eu não tenho pontos bom clube.
Não acumulo muita coisa.
Mas tem  um canto aqui, sem nome,
Espaço infitino.
Lugar onde se maturam os sentidos.
Não guardo sentimentos.
Nem milhas no cartão de crédito.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pescador de Nuvens


O céu é o mar do sertanejo. 
O sem fim. 
Cada homem com seu sonho.
De tão poderosos, são deuses.
De tão íntimos, são azuis.

terça-feira, 29 de abril de 2014

No Recife

Moro no Recife. 
A cidade do poeta sem rosto. A cidade onde Ascenso foi agredido. 
Moro no Recife. 
A cidade do frevo. A cidade onde o frevo só toca quatro dias no ano...
Recife do saudosismo de Antônio Maria e da minha frustração. 
Moro no Recife. 
A cidade das águas. Por isso mesmo, o esgoto teima na minha porta. Teima e fede. 
Moro no Recife. 
Da ciclofaixa de fim de semana, que ignora os trabalhadores ciclistas.
Dos centros culturais pela metade.
Do Teatro do parque abandonado.
O Capibaribe de testemunha.
O poeta sem rosto é a cara do Recife.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O meu Bach




Ele era craqueiro. Ou é. 
Não sei se anda perambula por estas ruas.
Usuário de Crack, para os politicamente corretos. 
Pouco importa.
Foi uma conversa rápida. Importa ainda menos.
A verdade é que eu estava tocando Bach e vi que alguém me observava através da janela aberta. Eu resistia em parar aquele quebra-cabeça musical. Bach me dá uma embriaguez. Sua música intermitente, suas notas insistentes e seguidas, seu som exacerbado. Às vezes é rock. Às vezes é hard.
Uma ausência de pausas.
Tocar Bach me deixa com o torpor parecido ao de uma corrida. Aquele prazer sem fim que o cansaço não vence.
E por isso mesmo, eu relutava em olhar para a janela. Do outro lado da grade branca com arabescos coloniais, minha platéia era solitária e muda.
Enfim quando a curiosidade me venceu, vi um homem devastado. Chorava. Pedia desculpas por estar ali. E me dizia: a vida é muito dura, mas ouvir esta música acalma qualquer dor.
Lá no fundo do meu lugar burguês eu achei que ele ia pedir uma moeda pra interar o almoço. Tantos fazem isso. Mas continuei na conversa. Expliquei que era Bach. No lugar da moeda, ele me pediu Beethoven, mas eu não tinha nenhuma obra do mestre na manga.
Toquei ainda uns 10 minutos e meu observador continuou ali de pé. Se despediu.
Continuei minha brincadeira barroca.
Um tempo depois ele volta. Não resistiu. Chorou feito criança. Pediu desculpas de novo. Chorei junto.
Dias depois estava eu na padaria. Quando saí na calçada, quase fui atropelada por um homem completamente drogado, desfigurado. Ele olhou pra minha bolsa com gana. Eu era a garantia da lombra seguir firme.
Fixei bem nos olhos dele, me pareciam familiares. E foi aí que ele desmontou. Ele começou a gritar: é a pianista, pianista!!! Olhou pra mim, bem mais profundo do que eu olhei pra ele e me disse: você tem o dom.
Eu emudeci.  Sorri, mas ao mesmo tempo queria chorar. Aquele homem tinha tanta sensibilidade que poderia ser meu parceiro musical. Ou um grande maestro. Ou qualquer coisa que quisesse na vida.
Ele não se demorou muito. Seguiu no seu caminho alheio e cambaleante.
Desde então, abrir a janela e tocar piano tem outro significado.
Este é o meu projeto cultural. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Abastecida



Deve estar fazendo uns 32 graus. Trinta e dois graus úmidos em pleno centro do Recife. Saio da Rua do Lima e busco em vão um taxi. Meio dia. Ou estão almoçando e deixam os táxis de enfeite nos pontos, ou não estão. Não sei quais motoristas são os piores. Decido ir a pé. O meu salto meio alto não está incomodando.
Mas as calçadas irregulares me desafiam. Abaixo, pedras, buracos, desníveis. Acima, o sol castigando. É verão, minha cara. A estação do calor enlouquecedor e do ar pesado de chuva. Chove a qualquer momento. Chove e o asfalto libera um mormaço que quase sufoca.
Meu sapato de salto começa a dizer que existe. Estou na metade do caminho. A fome começa a apontar e lembro que este regime não dá trégua. Chegou a hora, a fome bate na porta. Tento andar mais rápido, mas o sapato doi pra valer.
Procuro as sombras das árvores da rua do Sossego. Estou quase lá.
Imagine a cena.
O suor começa a fazer caminhos engraçados nas minhas costas.
Deve estar fazendo uns 32 graus. Mas a sensação térmica  é de muito mais. A fome me leva a ver ovos sendo fritos na calçada de Abelardo da Hora. Ou seria melhor na porta de Paulo Brusky?
Passo pelo Iraque. Calor de deserto.
Meu sentimento não faz jus à rua.
Minha fome medíocre não é artística nem é estética.
Chego no primeiro restaurante. Escolho o prato. Não tem legume, senhora. Posso trocar por alface? Pode.
Passam-se uns 3 minutos. Não tem salmão, senhora. Pode ser maminha?
Você pode me trazer a conta? Quanto custa o chá gelado?
Saio sem raiva, mas a fome grita.
Paro em qualquer lugar e peço uma salada. O queijo ricota era de trezantonte.
Parei ali, em frente àquela salada engenbrada e pensei no afeto necessário para se sentir abastecida.
E estou abastecida. Construí alguns portos seguros. Olho em volta e vejo tudo tão suave. O garçon enlouquecido, a mesa com a toalha de plástico suja. O homem que cata as latinhas.
Estou meio Poliana.Cada vez mais integralmente eu. 
Deve ser isso mesmo. Eu ando abastecida. E isso o calor não deforma, o sol não derrete.
Hoje, somente um dia, um pequeno espaço de tempo. Hoje eu estou vendo o mundo com cores leves.
Não importa a caminhada infame da rua do Lima ao Sossego. Não me interessa o trânsito, a incompetência dos taxistas, a falta do troco na hora de pagar a salada, o café frio do escritório.
A fome passou.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Pausa de semibreve.

Até agora ninguém percebeu que eu matei.
Crime sem provas e sem rastro. 
Sou minha própria vítima. 
Ando pelas ruas e pareço uma pessoa normal. 
Mas não. Meu me matei. Não é suicídio. 
Falo de outro  tipo de morte, talvez mais lenta. Mais cruel.
Mutilação, quiçá. 
Um tipo de asfixia da alma.
E pelas ruas, o que se mostra é a minha figura bem colocada, articulada, às vezes até feliz. 
Na verdade, confesso. Matei pra continuar vivendo.
Legítima defesa.
Matei o sonho e ele de alguma maneira também me matou. 

.....
Acabou.
E acabou acabando, esgotando, esvaindo.
Foi-se.
Fiquei sem referência e talvez sem um pedaço de mim mesma.
Estou sem harmonia, sem ritmo e sem som.
Mas ainda estou. Sou. Existo. Acho.
Sonho jamais. Agora é pé no chão.
Foco e certeza.
Vida de verdade.
Tecla, só se for pra digitar.
Música, só se for pra ouvir.
Nada mais intenso. Nada Fortíssimo.
Felicidade presto.

Pra trás ficou uma longa fermata numa pausa de semibreve. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Gosto de Icapuí

Receitas singelas trazem em seu segredo ingredientes que não existem.
Pelo menos, que não estão à venda, que não podem ser mensurados. Ninguém compra na feira uma xícara de amor.
Ninguém consegue separar uma pitada de gratidão. Estes elementos são incorporados às receitas por inteiro, medida cheia. 
E nunca são demais. 
Amor não faz desandar um bolo. Gratidão jamais embola um pirão.
E quando a receita é de viver, é melhor sentir e conhecer cada sabor.
Meu 2014 começou assim. Ingredientes saborosos, num lugar mágico. Que só existe quando estamos lá.
No meu caldeirão quero jogar o que trouxe comigo. São a base de uma receita coletiva.
Comece por misturar:
A voz da Sol
O olho franco do Magão
O som do negão da loura enchendo a  tarde
O almoço sendo finalizado com a mùsica ao vivo do Manu 
O riso dos Pedros que vinha lá do jogo de uno
Um fio do bigode do Xeu
O olhar doce da Frida (dela eu ainda trouxe comigo, meio escondido, outros lindos souvenires).
Quando esta massa estiver homogênea, lembre de acrescentar ainda:
O olhar confortante da Zan
A mansidão da Érica
A energia da Paulinha
Deixe pegar gosto e salpique, pra finalizar:
Lindos momentos com a Beth, Aline, Rômulo, Fábio, Bel e Marcio.
Lembre dos seus filhos felizes com a brisa forte que dobra a falésia.
Faça uma calda com aquele cheiro que vem do mar.
E você acabou de colocar o Icapuí na sua vida.
Se for consumir, chame o Kirá e o seu violão mágico.
Vai harmonizar perfeitamente.

E não deixe, jamais, de brindar e agradecer por cada momento que viveu.

Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...