quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

FELICIDADE INSTANTÂNEA URGENTE


Eu entendo tão pouco do amor que recorro à arte. Eu compreendo tão infinitamente a vida que decido viver na carne. Escarnando, depurando,e sorvendo sem filtro a existência.
Da nossa história, entendo menos ainda. sei que a eternidade é volátil, é fulgás e serena. 
Da nossa história, sinto. 
E se as nossas diferenças são o grande desafio, faremos uso das pontes? 
Pontes que ligam sem destruir.
Se tudo é questão de tempo, venho eu na minha urgência vital dizer que só o amor importa. 
Nem a casa, nem o casamento.
Meu reino pela felicidade instantânea e real.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

carta ao filho adulto

Meu filho,
Crescer é difícil. Amadurecer é trabalhoso, doloroso e não acaba nunca. 
Você está entrando nesse mundo complexo que é a vida adulta. Quando se é menino, a gente pensa em só crescer pra ser adulto. Quando se é adulto, a gente tem saudade da infância. Essa busca pela completude nos persegue e nos impulsiona ao mesmo tempo. Um dia há de se encontrar o equilíbrio. Eu tenho encontrado neste momento de vida alguns desacertos. Falo isso pensando na nossa relação de mãe e filho. E acho triste. Porque quando você era pequeno, eu vivia querendo que quando você crescesse a gente pudesse ter uma relação de confiança, cumplicidade. Não me atrevo dizer amizade. Você escolhe seus amigos. A mãe, não. Só filho que tenho percebido a gente distante. Sei que alguns psicanalistas estudaram anos pra chegar à óbvia constatação de que, para crescer, o indivíduo precisa “matar” o pai e a mãe (uma morte imaginária, interna, uma negação). Senão, nunca será independente. Entendo este apartar como algo necessário e saudável. Só não sabia ou não queria saber que ele vem com muita dor. Eu tenho me sentido uma estranha pra você. Você anda medindo as palavras que me dirige, anda me deixando bem “no meu lugar”. O que eu quero te dizer é que tudo isso pode e deve acontecer. Mas com ternura. O que me dói não são as palavras medidas. O que me dói são seus olhos duros. Suas expressões inflexíveis.
Você é um homem bom.
Um homem inteligente.

Queria te dizer que, para que eu te veja como um adulto, você precisa me ver também como uma mãe adulta. Nesse seu processo de crescimento às vezes vejo o adulto cobrando de mim, mãe, uma postura de mãe de criança. Também me vejo muitas vezes esquecendo que você é adulto.
É aquela brincadeira do começo desse texto. A infância e a maturidade duelam sem fim. 
Filho, vamos conseguir vencer isso juntos?

Não existe amor maldito. Só existe o amor.

Quero morrer antes que seja tarde.
Quero morrer antes de perder o tempo.
Quero morrer de você enquanto ainda há qualquer sentimento.
Quero sair daqui antes que o pó do velho amor me tome.
E que eu fique no canto da casa como uma prateleira velha.
Ou como um porta retrato que cobra atenção.
Quero ir sabendo que já um dia fiquei.
Quero sair deixando ainda quem sabe algum sentimento que valha a pena lembrar.
Quero me esvair sem medo da vida que a morte vai me mostrar.
Não há tempo certo pro amor.
Quando o amor acontece é paz, é benção.
Não há amor maligno.
Não há amor maldito.
Se é amor, deixa ele se achegar.
E me deixe ir na paz, sem muita dor.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

não sei mais escrever

Não sei mais escrever.
Ando tropeçando nas palavras, cozinhando seus significados e servindo pratos sem sal.
Não sei mais jogar com as expressões. Tudo me parece um enigma.
Cada fonema me remete a tantos outros, numa corrente infinita.
Não sei mais escrever.
Talvez porque esteja de volta ao piano.
Assim como quando me chegaram os filhos,
abandonei as teclas que tocam.
Agora abandonei as teclas que escrevem.
Não sei mais escrever com palavras.
Os acordes estão mais prolixos.
Minha alma, contemplada.
Não sei mais escrever.
Me encontro analfabeta de pai e mãe.
E mesmo agora, confessando minha ignorância,
Não sei mais escrever.


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Hoje de manhã o botão de uma das nossas orquídeas do jardim acordou quase em flor. Olhei para aquele espetáculo da natureza e senti como se testemunhasse um parto.
O abrir de uma flor é um parto. Lento. Delicado. Invariavelmente ímpar.

Não deixa de ser lindo. Mas, olhando bem para minha orquídea, me senti solidária. Ela está prestes a parir. Prestes a explodir em vida. Vou me deliciar com suas pétalas, me orgulhar que nasceram no meu jardim. Vou pedir emprestada sua beleza pra mim.

É assim no meu jardim, é assim pela vida afora. Pequenas porções de felicidade vem. Enlatadas, engarrafadas, embrulhadas em sorrisos, escondidas em abraços.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Baião de dois à Lindalva



No Ceará cuscuz é pão de milho. Lanchar é merendar. Paçoca é de carne de charque. No lugar da feijoada, baião de dois. Com queijo coalho dentro. Banana como acompanhamento.
Baião é dança e alimento.
Eu sou a primeira pernambucana da família. Vivi no Recife a vida toda, mas era no Ceará que passava as férias. Nada de praia ou cinema. isso tinha aqui no Recife.
Minhas férias eram no depósito de material de construção do meu avô materno Zeca. Ele e vovó Lindalva formavam uma família de verdade. Tudo muito simples. Nossa brincadeira era no fundo do quintal. Às vezes eu subia na carroça do burro pra ir entregar areia, cimento...
Mas, para as meninas, a graça eram as panelinhas de barro que minha avó separava pra gente fazer os tais guizados. No Ceará, guizado é brincadeira de menina na cozinha.
Vovó era quieta, reservada. Mas ia lá pro fundo do quintal cozinhar com a gente. Tudo era muito sério. Fazer o fogo. Cortar as bananas em rodelas. Colocar a água e o açúcar e esperar ficar pronto. O doce demorava uma vida pra chegar no ponto!
Mas valia a pena.
A mesa deles tinha três metros e meio de comprimento. Era pra abrigar os 11 filhos, os amigos, os agregados, os netos. E  depois de comer o baião de dois e a paçoca com carne de charque bem tostadinha que a gente se revezava batendo no pilão, vinha solenemente o doce feito pelas meninas no guizado do fundo do quintal.
Era a nossa iguaria.Vovó não era de brincadeira, mas me ensinou a brincar com as panelas.
Hoje, talvez em homenagem a ela, mantenho em casa uma coleção de panelas de barro. A gente cozinha quase tudo nelas: sopas, arroz, cozidos....
Mas o que levanta o aroma do passado mesmo é quando decido fazer um baião de dois. Vai o feijão verde pro fogo com louro, alho e uma pitada de cominho. Quando estiver quase pronto, jogo o arroz. Na sequência, um refogado de cebola, cheiro verde e tomate. É hora de ajustar o sal.
A esta altura, a carne de charque está fritando com muita cebola. Quando o baião fica pronto, corto umas boas fatias de queijo coalho com uns dois dedos de espessura e vou acomodando ao comprido dentro do baião de dois. Gosto de sentir o queijo mergulhando naquele manjar. Tampo a panela e espero uns cinco minutos pra servir.
O meu pilão não tem o mesmo charme do da casa da minha avó. É um liquidificador mesmo. Mas ta valendo. A paçoca fica ótima!
O resto é colocar um belo cacho de bananas na mesa.
De sobremesa, claro, vai o doce vermelho em rodelas. Podemos atualizar a receita incluindo canela, mas confesso que prefiro à moda cearense.
Com gosto do fundo do quintal da minha avó.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dia dos pais.












Nunca é tarde pra resgatar sentimentos e reviver momentos inesquecíveis. Eles têm cheiro, trilha sonora, paisagem e cenário. 
Hoje me veio da infância um cheiro de mato. Veio de longe!
Eu e meu pai.
Eu menina, ficava atrás dele enquanto ele cuidava do jardim, cultivava as plantas. Eu falava sem parar. Ele ouvia, respondia, corrigia, ponderava, concordava...
Ao final, sempre tínhamos nosso jogo de damas. Não qualquer jogo de damas. Era o tabuleiro que ele me deu de presente quando fiz 10 anos. Lembro que ele colou, um a um, um pequeno feltro embaixo de cada pecinha pra não arranhar o tabuleiro.
Esse cuidado eu trouxe para a vida inteira.
Guardei o tabuleiro como um camafeu, um patuá. Meus filhos brincaram nele. Ensinei a jogar damas, ensinei a jogar o “perde e ganha”.
Trinta anos depois tivemos, eu e mei pai, a oportunidade "reexperimentar" esta vivência. Andamos pela mata, paramos no pequeno córrego, cozinhei pra ele, conversamos pela noite afora.
Um resgate. Foram dias de lembranças. E no mesmo tabuleiro, com duas peças a menos... reeditamos nossa brincadeira.
Acredito que estes símbolos estão impregnados com o nosso amor. Um amor que não tem começo ou fim; Não tem limites ou demarcações. Um amor que não acontece, é. Um amor que não se mostra, existe.  

Pois então. Obrigada meu pai. Não tem nada mais profundo do que o sentimento de gratidão por viver este amor. 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A verdade é revolucionária.




Estou no sexto andar de um prédio, numa ilha. 
De buzinas. De Sirenes. De stresses.
Estou na sala 601 de um prédio sem charme. 
Estou refugiada.
Não me agradam os móveis puídos, não me apetecem as persianas, ou a paisagem volante de mosaicos vermelhos e brancos que piscam conforme os freios.
Mas muito me agrada a solidão. 
Que arruma as gavetas dos sentimentos, que ordena as dores.
Hoje foi um dia cheio. Um parto. Pari um filho hoje.
Sentada aqui, sozinha neste pardieiro, sinto minhas forças voltando.
E me vem o amor que é o amor de mãe. A verdade que é ser mãe. A revolução.
Sigo o olhar sobre meu filho e desejo um abraço perpétuo. Um afago obedece a alma.
Hoje eu pari meu filho de 15 anos. Pari para a vida.
Foi tão difícil arrancar este menino com o olhar naif de dentro de mim!
Foi tão intenso admitir que ele não cabe mais no meu ventre, que ele cresceu!
E, no entanto, sinto o quanto fizemos bem um ao outro.
O telefone toca e é ele. "Vou fazer diferente agora”, confessa.
Vai, sei que vai. Porque hoje ele abriu os olhos. Com minhas palavras arranquei sua venda. Quem sabe, eu mesma a mantinha ali.
Sua voz cambaleante parece mais séria. Algo de sua inocência se foi desde a manhã.
Dos tantos partos, este foi dos mais dolorosos.
O menino vinha ao meu lado simbiótico, enlaçado. Teimava em não crescer. 
Partiu.
Daqui de cima da tal sala comercial, esperei todos irem embora para sentir minha contração de expulsão. 
Expeli um humanista. Se índigo, se mestre, se médium...
Foi a melhor parte de mim.
E do alto do sexto andar, minha vida continua. Escrevo, falo, atendo ao telefone.
Era ele.
Confirmando que a partir de agora está mais inteiro do que nunca.
Vou esperar o rush passar e voltar pra casa. 

terça-feira, 16 de julho de 2013

dos meus sonhos de menina

Seis da manhã. 
Tocam os sinos da igreja de Santa Cruz. Replicam-se na igreja de São Gonçalo. O convento da Glória acorda seus carrilhões. A Matriz da Imperatriz alardeia.
Estou no coração da cidade.
Cada vez mais, no seu coração, nas suas tripas, no seu miúdo.
Agradeço ao Recife por me mostrar o Coque, por sentir o cheio azedo dos seus canais, por me agraciar com a paisagem das palafitas a partir da Ponte Velha. 
Contraste do Mangue provedor com o cais excludente.
Agradeço porque assim, amo mais. 
Sou grata pela paisagem do porto no Marco Zero. Pelas colinas da Marim que revelam minha cidade natal de cima. 
O colorido do carnaval que entorpece, o clarim que hipnotiza, o frevo que escraviza a alma foliã.
Seis e meia da manhã. 
Rua da Glória, acorda! 
Passa o primeiro pregão. Ouço o mexe mexe dos vizinhos.
Um reclama que falta água. O outro levanta o cheiro do cominho na carne de boi. 
Uma grade se abre. Alguém reclama e bate com força.
A rádio dá conta do que sangrou na madrugada.
A vida aqui tem vida.
São sete. 
Levanto, faço o café e me declaro. Eu, herdeira do mar de Iracema, desertei para a terra do mangue. Inventei de ver a luz pela primeira vez na terra ao nível do mar. 
Nasci Recifense. Adotei José Mariano e Frei Caneca. Fiz de 1817 uma data dos meus ancestrais. 
Nasci na terra que tudo é misturado: mar, rio, maré, mangue. Maracatu, frevo, cabocolinho, coco, repente.
Sete e meia. 
Chega de poesia escrita. O carroceiro na minha porta é poesia viva.
O boy na bicicleta não frequenta a ciclovia. Passa o dia inteiro transportando Pitu E Dreher pros bares da Boa Vista. É seu ganha pão. 
Esta cidade mazelada poucos sonhos abriga. 




quarta-feira, 26 de junho de 2013

eu sou assim



Hoje acordei turbinada. Ligada na tomada. Totalmente. 220v.
Estou escutando tudo. Vendo além, sentindo à flor da pele.
Não, não é nenhum tipo de droga. Não é qualquer bebida estimulante.
Hoje eu acordei comigo mesma. EU SOU ASSIM.
Bom dia, senhora. Eu, uma mulher de 41 anos, um metro e meio, uns quilos a mais. Muito prazer.
Tomei café sozinha. Não. Tomei café na minha própria companhia. Saí às ruas da minha cidade acompanhada de mim mesma. 
Senti que comigo tudo é mais engraçado. Eu me entendo muito bem. Eu me faculto a palavra. Eu sou protagonista da minha história.
Juntas, resolvemos coisas. Cartório, copiadora, banco. Coisas muito chatas de se fazer estavam apaziguadas.
Era eu comigo mesma.
Voltei pela rua de pedestre. Andar por uma rua sem carros me faz sentir mais cidadã. Me faz perceber que algumas coisas podem mudar na vida. Ruas em que o poder é dos sapatos. Mocassins esmerados, sapatilhas elegantes, tênis acelerados. Minha sandália dourada, quase hippie.
Parei nas vitrines que quis. Ignorei o que não tem sentido pra mim. Ouvi a conversa do lado. Respondi  a uma pesquisa sobre perfumes.
O sol que vem manso depois da chuva não castigava tanto. Eram 10 da manhã.
Na frente da loja popular, ela me chamou pra entrar. Tava tudo tão bom que eu nem hesitei. Provei umas peças, comedida. Ela me insuflando. Ficou lindo! Você precisa cuidar de você.
Ela é minha porção mulherzinha.
Ouvi a minha nova voz.
Agora mesmo é ela quem está escrevendo. Decidiu não ver o jogo de futebol. Concordei plenamente. Sinto um tédio vendo aquele bando de homem correndo atrás de uma bola. Pra cima e pra baixo. Pra baixo e pra cima. Parece uma canção de ninar. Uma rede balançando. Findo dormindo. Saio pra fazer pipoca. Vou cuidar das plantas.
Não preciso mais ir aonde os outros vão. Preciso ir onde vou. Onde quero.
E quiçá amanhã eu acorde e tenha a grata surpresa de ver que ela se mantém aqui do meu lado.
Andava sumida, você.

domingo, 23 de junho de 2013

Mídia, parlamento e sociedade. Equilíbrio sutil.

Vou pedir permissão dos meus leitores para fugir do script. Sempre busco aqui neste espaço um caminho subjetivo, poético e autoreferente. Porém hoje acordei e dei de cara com um artigo que escrevi para a revista da Câmara dos Deputados, há mais de dois anos.
Fala justamente sobre a crise de representação, sobre confiança na democracia e sobre a intermediação da mídia. O artigo é um recorte de uma monografia que escrevi para a conclusão de uma pos graduação em política na no Centro de Ensino e Formação superior da Câmara, em Brasília.

Como muitas vezes nossas conversas mais acaloradas não permitem tanta reflexão, procuro dizer o que penso através da linguagem que melhor conheço: a escrita.

O texto é longo. Mas vai assim mesmo, na íntegra.


Sugestões e críticas são muito bem vindas.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

#eueosmeninos



             


               O mundo de gente. O mar de desejos. O oceano de reivindicações. Pec 37, corrupção,segurança, educação, cultura. Tudo padrão FIFA. Menos a parte da corrupção.  
                O mundo representado diante da crise de representação democrática. 
                Quase, quase todos os cartazes em punho eram frases que eu já tinha lido no Facebook. Não, não sou contra as redes sociais, de jeito nenhum. Sou usuária, já dependente. Senti, de cara, foi que o Facebook foi às ruas. Um mundo de hastags.
                 Ir a manifestações de rua sempre foi natural. Sou do Recife. Cidade em que o carnaval é uma grande manifestação. O pernambucano entende de multidão. Por isso, muito sem medo, sempre levei meus filhos. Pras manifestações políticas e pro carnaval. Plantei neles esta semente.
                E floresceu que nem o pau-brasil que semeamos no quintal. Meus meninos têm discurso. Meus meninos são protagonistas. Cresceram como uma árvore frondosa.
                Lá do alto, o pau-brasil nos observa, vela nossos dias, abriga os pássaros. Lá de longe, começo a ver os meninos que eu levava firmes à minha mão, andando mais rápido do que eu. Vão na frente, confiantes.
                Meu coração de mãe militante entende que este é o sentimento de eternidade. Vejo o meu fervor neles. Vejo a minha coragem nos olhos deles. Uma transferência não me falta, fortalece.
                Não é a primeira manifestação deles. Mas é como se fosse. Antes foi ensaio. Agora é estréia.
                Eu vi o mundo pelos olhos dos meninos. E ele ainda começava no Recife. 
                Na bandeira de Pernambuco que um carrega até exaurir os músculos. No Pavilhão Nacional que o outro amarra como uma capa de herói. Na camisa do mangue boy. No punho erguido. Na palavra de ordem.
                   #vemprarua #recifeacordou #alutanaopara #foracorrupcao #segurancapadraofifa.As hastags que mobilizaram meus meninos são as causas contemporâneas.

                Eu vi o mundo pelos olhos dos meus filhos. Agora posso dizer: Meus filhos cresceram. E eu estava lá. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

mapa da mina

Tenho muitos segredos para você.
São proibidos.
Anárquicos.
Infantis.
Alguns, rebeldes.
Uns tantos revolucionários.
Não são segredos. São Botijas.
Encontre-as.
Afague- as e domine-as.
Não são segredos, penso agora.
São mistérios. Mapas da mina.
No subsolo do inconsciente, perdidos tal náufrago em terra estranha.
Resgate-os. E será como me libertar de um exílio.
Desvende o enigma.
Um quebra-cabeças imenso com encaixes perfeitos.
O segredo sou eu.

sábado, 1 de junho de 2013

Mãe da Luz

Luís,

Você é filho da certeza.
Uma certeza imensa de que o meu amor de mãe chegaria a abraçar mais um fruto.
Você também é filho da alegria mais pura.
Dentro daquele envelope de plástico transparente tinha um papel dobrado com o resultado de um exame. Eu não precisava ler para saber que você já se fazia. Mas abrir, ler, foi como explodir de alegria. Até hoje se penso em um momento muito feliz da minha vida, lembro do dia em que saí do laboratório com o exame na mão, sem conseguir parar pra pegar um taxi ou um ônibus. Fui andando até a nossa casa, parando em cada telefone público, avisando aos quatro ventos a surpresa do meu ventre.
Você é filho da prosperidade. Já nasceu nos trazendo notícias boas, fazendo a família crescer e ficar mais forte.
Eu sou mãe.
 Mãe da alegria de viver que você tem.
Mãe da sua alma universal.
Mãe do seu olhar sobre o mundo.
Mãe do seu jeito de aprender a viver.
Hoje você faz 15 anos.
Um orgulho imenso me move.
Você é Luís.

Filho de Germana e Rinaldo.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Filha do Mangue


Vem a chuva a me acordar às quatro da manhã.  
Quatro e trinta e sete.
Tocando um samba canção nas telhas do meu quarto. Chegou mansinha convidando a bailar.
A introdução era um ritmo tirado da caixa de fósforo. Leve, quase canção de ninar.
Me faço de difícil. Fico ouvindo, mas não abro os olhos. A minha intenção era que ainda fosse noite e eu estivesse sonhando.
Mas a chuva não é qualquer uma. Chuva de maio me lembrando que nasci num dia assim. Chuva de inverno, temperamento forte. E ela engrossa a bateria, fazendo um samba enredo.
Sou do frevo, não sei sambar.
Levanto pra saudar a mãe natureza.
Tomo meu café com uns pinguinhos me beijando no alpendre.
É preciso arrumar a calha.
Volto pra cama, crente que tinha amainado a minha inquilina.
A rua sendo lavada pela água que veio do céu. 
Escolho o melhor jeito de me enfronhar pelo travesseiro, consigo me aninhar. 
Mas eis que me chega o cheiro da terra molhada e então ouço um tropel.
Agora não é mais samba. 
Fico deitada curtindo aquele concerto infinito. Sinfônico.
O gato se esgueira pelas frestas da porta da varanda. 
O cachorro late em resposta.
A TV, mesmo com o som ligado, fica muda. 
Chove.
Não troco isso por nenhum dia de sol radiante.
Sinto a umidade a 90% na minha pele. 
Gosto do sabor da maresia que a chuva me traz. 
Sou filha do mangue do Recife. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Poligamia





Casei umas 15 vezes nos últimos anos. Talvez tenha sido mais.  
A primeira vez casei com os olhos. Olhei, apaixonei, casei.
Bodas de papel.
Na segunda vez decidi formalizar. Um casamento coletivo, no cartório. Tinha gente de todo tipo junto.
Bodas de algodão.
O casamento seguinte foi na igreja. Trocamos as alianças num ritual singelo. O primeiro filho nos braços.
Bodas de trigo.
As bodas de flores foram com um homem trabalhador, pensava no bem estar da família. Compramos o apartamento.
Depois, me surgiu um homem mais maduro, mais leve. Gostava de sair à noite, de viajar.
Bodas de madeira.
Com as bodas de açúcar ganhei meu segundo filho. Doce, alma de artista, olhos curiosos. Igual ao pai.
Bodas de latão para os tempos difíceis, bodas de barro para o artesão. Amei o jardineiro, fui amante do menino.Do puro. Do macho.
As frágeis bodas de papoula me trouxeram um homem inseguro. Amei.
Buscando firmeza, encarei as bodas de zinco. Depois de aço. Esbarrei na beleza do ônix.
No tempo do ardor, me enfronhei pelas bodas de linho e renda. Tempo do marfim.
O príncipe me chegou em um cavalo branco nas bodas de cristal. Fui sua bela. Adormeci no amor.
As bodas de turmalina me pareceram sem sal.
As de cretone foram cretinas.
Estou nas bodas de porcelana. São lindas. Encantam. Porém, carecem de delicadeza no cotidiano.
Não sou volúvel. Sou criativa.
A questão não é ser casado. É estar. Verbo de ligação, que faz laço, costura a frase e a vida.
O segredo é casar todo dia.
Há 20 anos. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

#Abusada





Somente uma pobre coitada ingênua teria acreditado novamente naquela situação.
Dá até pra se vangloriar. 
Pouquíssimas pessoas no mundo inteiro, nestes seis ou um pouco mais bilhões de pessoas teriam  a mesma capacidade.
Praticamente uma mutação genética.
Ela faz parte de uma elite. A elite dos crédulos.
Não conseguiu matar a Poliana dentro de si. 
Nem a Poliana Moça. 
Talvez tenha traços irreversíveis do Pequeno Príncipe. 
E de Fernão Campelo Gaivota.
Ainda bem que nunca leu Paulo Coelho.
Seria o golpe final, sem volta ao mundo real.
Araruta tem seu dia de mingau. Já tava em tempo de colocar as barbas de molho. E Gato escaldado normalmente tem medo de água fria.
Ela não. Ignorou tudo. E a sabedoria popular agora gritava dentro da cabeça.
Mais uma cabeçada da vida pra entender que tem hora que é preciso ter amor próprio. 
E desconfiômetro.
Nada mudou.
Aliás, mudou.
Ficou pior. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Conversa de irmã


- “Fito-te - E o teu silêncio é uma cegueira minha". (Fernando Pessoa)
- Vou explodir com esta frase. Sabe isso? Vou escrever isso também. Cacilda!
- Te amo.
- Moi aussi. Love you. Agora queria ardentemente ser poeta.
- E eu!!!!!!! Esse é o sonho.
- No meu caso, é necessidade.
- Você foi poeta agora!
- Foi mesmo.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Namorado Duty Free


Cansou de procurar a outra metade da laranja em português.
Já tinha ido aos quatro cantos.
Na chapada, encontrou um paulista neurótico.
No Recife, um candidato a Peter Pan.
O vizinho japa era gostosinho.Mas muito tímido.
Tinha um cara até legal no curso de roteiro que ela fazia uma vez por semana. Muito vaidoso.
Quando começava a falar, era pra se lascar.
Já tinha morado no Nordeste, arriscou Brasília, estava de volta à pauliceia desvairada.
Os Nordestinos, muito machos.
Os Brasilienses, muito quadrados.
Os Paulistas  não queriam mulheres de 40. Trocavam por duas de 20.
Uma vez ficou presa num elevador em plena passagem de ano com um outro que sequer sabia olhar no olho. Dispensou.
Pensou: o problema é comigo.
Fez plástica. Preenchimento dos lábios. Comissão de frente nova.
Pilates três vezes por semana.
Os 40 e tantos na pista de corrida.
E nada.
Depilação em dia. Cremes dentro da validade na farmacinha do banheiro. Leitura atualizada.
Um dia comprou uma passagem pro Chile. Uma amiga tinha um contato por lá.
Um arquiteto também dos seus quarenta e poucos, solitário.
Sabia pouco dele. Uma casa em reforma, batizada de Saravejo.
Um pouco do que conseguiu captar via Skype.
Malas prontas, passou pelo Duty Free.
A semana foi santa.
Na mala de volta trouxe uma história de amor. Daquelas quentes.
Não declarou na alfândega a outra metade da laranja. Valia muito mais do que o permitido.
E se tem laranja Bahia sendo produzida no Chile, é bom ir até lá saber o que é que o chileno tem.
E os brasileiros precisam aprender....

sem título, 2013



Não quero um texto novo, brilhando de frescor.

Não quero um texto sem rasuras, ou sem repetições.

Quero um texto tinindo de vida aberta por todos os lados.

Um texto que me comova pela verdade, não pela métrica.

Um texto que me envolva pela maturidade, não pela técnica.

Que agrade a poucos, que tenha sido escrito por muitos.

Muitas referências, muitas passagens.

Uma vitamina batida no liquidificador da existência.

Não quero mais frufrus, arrodeios, embolações.

Meu desejo é tão somente a felicidade.

terça-feira, 26 de março de 2013

Terra arrasada.




Acabei de matar todos os sonhos.
Estavam podres.
 Infectados. 
Embolorados com o fungo da vida.
A terra em que os plantei ficou estéril.
Nenhum bicho ou planta, ou ser vivo dela se alimenta.
Antes que morressem de tédio, matei-os.
Com a firmeza de quem os criou.
Delicadeza e autoridade para velar cada um.
Assim como deve ser.
Prefiro a morte ao sofrimento.
O horizonte vazio, às construções condenadas.
O nada, ao delírio.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Ao Deus Dará




Os casarões do centro do Recife contam histórias.
Guardam nos ladrilhos hidráulicos do piso a estética de uma época, nos seus quintais brotam porcelanas, cacos de vidro, cristais de outrora. Têm em seus portais as almas que ali habitaram. 
Nem tão poético assim.
A história mais recente não dá conta nem faz jus ao passado.
Vire a página.
Relegados a “moradias sociais”, os imensos sobrados foram loteados em cubículos. Lá estão amontoados papelão, móveis, entulhos e gente.
Tudo no mesmo patamar, sem hierarquia.
É uma solução para dar moradia a quem nada tem.
O recurso chama-se Aluguel Social. Bonito nome.
Criado para ajudar homens e mulheres que não têm condições de estruturar sozinhos a própria vida.
Desastroso.
Esta é a política da gambiarra.
Sinto tristeza em ver, ao lado da minha casa, tanta gente entulhada, sem nenhuma assistência.
Quem aparece sempre é a polícia.
Nestas hospedarias improvisadas não tem água.
A luz é precária, convite a um acidente. 
O crack é um hóspede presente. Ou seria uma praga? Um predador? 
Vejo estas pessoas trocarem o dia pela noite, crianças crescendo sem nenhuma referência.
Falta tudo.
Falta humanidade.
Este aluguel é anti social. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Hoje é quarta-feira








A cadela labrador que toma conta da academia de ginástica é obesa.
Tem deputado querendo cadastar os viciados em crack do país intero.
O nome dele é Osmar Terra. Ouço assim: Os Mar Terra...
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra...
Grande coisa.
A rua da Alegria chora pelo chão uma água fétida.
A rua da Glória vive seus dias inglórios.O tal deputado deveria ir lá conferir.
E daí?
Eu faço ginástica e como queijo de manteiga no café da manhã.
O ventilador nina meu sono.
Um amigo se perde pra sempre embaixo de uma carreta na BR 101.
A vida que se vai e que não volta.
A minha já ta mais pra lá do que pra cá e eu teimo.
Passo a primeira, a segunda e a terceira. 
Confiro o atraso regulamentar de 15 minutos, tou dentro.
Paro nos sinais vermelhos e já vai me abusando esta coisa de andar na linha.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O GIGANTE



- Alô?
- Oi mãe. Olha, ta tudo bem.
- Já sei que não.
- É que eu fui assaltado quando desci do ônibus.
- MEU DEUSSS!!!
- Calma, mãe. Tou ligando do telefone do policial.
- O QUE??????
- É que querem que eu vá pra delegacia.
-DELEGACIA???? VOCÊ TA ONDE?
- Na Praça do entroncamento.
- Tou indo praí.
...

É somente um menino, mas quando eu olho mesmo, com mais apuro, vejo a grandeza da sua alma.
Tanto, que às vezes nem da pra ver além.
Menino de olhos naif.

Hoje outro menino com os olhos naif camuflados assaltou o meu.
Roubou, sim, mas antes foi roubado. Teve a vida roubada, teve a infância subtraída e agora tem a alma confiscada pela droga.
Me vejo ao lado do meu filho e quase quero que a mãe do outro chegue pra ficar ao lado do camburão e confortá-lo.
Não quero ouvir aquele choro quase sem propriedade, perdido, sem saber nem direito o que vai acontecer.
Olho pro camburão e vejo um desperdício. Poderia ser um pianista. Um advogado. Um cientista. Um policial.
Mais é um menino assustado e com crise de abstinência. Treme, o coitado. Pede socorro. Diz que precisa de tratamento. Clama.
Quero ir embora daquele lugar o quanto antes. Assino uns papeis.
Peço pra não machucarem o agressor. Pego forte na mão da vítima.
Saio sequelada, machucada.
No caminho, o gigante me consola. Minha lucidez me deixa cega.
Fico feliz de estar ao lado do meu filho numa hora dessas. Deixo ele no conforto da escola. Imagino um jantar pra consolar seus olhos assustados.
Se tem uma coisa que me faz grande é a maternidade. Um dia, quando nada mais existir, não quero ser lembrada. Já estou tatuada no peito dos meus filhos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Tanta Tinta!







As mãos estavam atoladas de tinta.
O sorriso nem se continha.
Era involuntário. Sistema parassimpático.
O tempo era acessório, passava despercebido, levado pelo vento marítimo de Olinda.
Quem vive no mar não percebe o cheiro do salgado, entranhado, da maresia.
 Ali, no clube que tem o nome do oceano, éramos serem marinhos. Sereia e pescador. Marinheiro e Iara.
A tinta desceu até os pés. Era um baião inocente, amassando o colorido imenso. O balé impreciso foi lapso para o tempo.
Homenagem à vida, ao Pezão, aos olhos dela.
Ninguém se conhecia, ali. Ninguém disse muito prazer.
O mágico acabou sem uma troca de telefone. Sem dizer adeus. Se fosse só aquilo, já seria digno de entrar para o mistério da vida.
Mais eis que se passaram 20 anos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ana Luiza




Tenho uma flor rara.
Uma flor de inverno e verão.
Uma flor que nunca fecha.
Um presente maior, de amor.
Uma bonequinha na infância, minha companhia de todas as horas.
Hoje, iguais e diferentes em tantos e tantos caminhos, não sei viver sem sentir seu perfume.
Minha nega, minha caçula, meu norte.
Seu nome eu escolhi.
E nós nos escolhemos.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carnatal









Eu sempre disse, desde muito cedo. Carnaval é meu natal. 

É quando sinto nas pessoas aquele sentimento de congraçamento que deveria haver no final de ano. é quando qualquer pluma vira uma fantasia imensa, é quando os shoppings se esvaziam e as ruas se enchem, as janelas das casas se abrem.

No natal se enfeitam os prédios. No carnaval, as pessoas. 

Este ano, assim, sem pretensão, minha fantasia se fez. 

O rei momo é o meu papai noel. E ele ontem me deu de presente um bloco inteiro. Uma troça. 

Uma troça de carnaval bateu na minha porta. Bateu na glória. E o meu sonho foi tão sonhado que hoje de manhã os vizinhos estavam me agradecendo pela felicidade que provocamos na rua inteira.

Então, um sonho que se sonha sozinho é só um sonho, como dizia o poeta Pessoa. Mas ontem foi realidade. Sonho sonhado junto. Ou pulado, frevado, delirado...

A troça veio igualzinha como nos meus sonhos. Poesia, mas frevo rasgado. No estandarte, as cores e formas do meu amor. 

Aliás, não existe carnaval sem amor. Muita gente acaba o namoro pra brincar no carnaval. Eu acho que carnaval serve pra celebrar o amor. Nunca gostei de passar carnaval sozinha.

Acho que na vida todo mundo tem que ter um filho, plantar uma árvore e fundar um bloco de carnaval.

Agora sou uma agremiação.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Marasmo


Marasmo

Às vezes é até bom....
emoção demais, novidade demais, fazem mal
ao coração.
gosto dos dias em que nada acontece.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os Jardins Suspensos da Rua da Glória





O rei Nabucodonosor II construiu jardins  suspensos para agradar e consolar sua esposa preferida, Amitis
Jardins que provocaram suspiros, que encantaram tantos amantes e que não por acaso, foram eleitos como uma das sete maravilhas do mundo antigo.
No novo mundo, tantos jardins são construídos em todos os cantos. 
Nenhum tem a força do amor que o meu tem. Em nenhum, o frescor e o afeto que o meu carrega. 
No meu jardim não há grandes construções, mas é uma maravilha. 
As orquídeas estão suspensas, as bromélias dançam no ar. 
De longe juro que é ficção. Parecem enfeitiçadas pelas mãos mágicas de um jardineiro fantástico.
Meu arquiteto fez arte. 
Não são de pedra suas construções. São cabos de aço invisíveis. Fortes laços que seguram as flores frágeis.
Assim como no romance. Assim como no amor.
Meu jardim suspenso não é na Babilônia, mas é uma Glória. A Glória do amor.
Meu arquiteto artista me desenha. As orquídeas nos vêem passar.


Horizonte

 Pausar.  Simples e necessário! Tempo restaurador. Arrumar as gavetas da cabeça, acariciar a alma, alentar as dores, afagar os prazeres. Fec...